"Carne do umbigo", "Bendita palavra" e "Substantivo feminino" são a versao impressa e bem acabada do que rola aqui. Quer me ter na sua mão em forma de livro e disco? Me escreve aqui!
28.12.04
fim de ano, casa nova
Então agora, na casa dos pais (ex minha casa) aproveito pra deixar um beijo de fim de ano pra todo mundo que costuma aparecer por aqui. Ter feito esse blog foi uma das coisas bacanas de 2004, porque me deu a chance de me espalhar pra lugares onde eu mesma, de corpo presente, não podia estar. Adorei ser lida de longe e conhecer outros blogs interessantes, acredito mesmo nessa mídia como forma de propaganda e de interação.
Muito bom 2005 pra todo mundo!
13.12.04
a woman is a woman
Maria,
mais uma - e os dois poemas completos para vc ver como ficaram.
No "Uma mulher..."
Uma mulher pode ser um jeito
A woman can be a skill - - skill me parece muito técnico, vc tem um skill para um trabalho
A woman can be a knack -- knack tem mais jinga, significa "a clever expedient or way of doing something", não fica melhor ???
Poemas finalizados, aliás não sei se sabe disso, mas as selecionadas foram vc, com o Pau Mole e Uma Mulher..., e a Marisa Monte, com Profeta Gentileza.
Os poemas:
Maria Rezende/Brazil/Adoro pau mole (I Love a Soft Dick) and Uma mulher é uma mulher ainda que (A Woman is a Woman Although)
Copy edited English version
(Adoro pau mole)
I love a soft dick
Just like that.
I do not drink mate tea
I do not like coconut water
I do not ride a bike
I did not see ET
and I l-o-v-e a soft dick.
I love a soft dick
for what it exposes in vulnerability
and for what it hides in possibility.
I love a soft dick
because touching one presumes the existence
of a certain freedom and intimacy
that I cherish and always want.
Because it is the icon of post-sex ,
(that is in essence and automatically
-even though maybe a little anticipatedly)
always pre-sex as well.
A soft dick is a promise of happiness
quietly murmured next to the ear .
And it is inside of it,
in all its wobbly softness
of modeling clay,
that lives the firm and strong dick
with which my man takes me.
Copy edited English version
(A Woman is a Woman Although)
A woman is a woman although.
Words and shapes do not comprise the content.
A woman can be a knack
A rib or a defect.
A woman overflows the edges
Measures up
Eases the dissonance
She joggles and jingles.
A woman can be a scream
A belly
A precipice.
A woman can be an abyss or a haven.
And she can be both
And she is.
8.12.04
soft dick
Recebi hoje um email de uma tradutora chamada Heloisa Kinder, que está fazendo a revisão do poema e, super atenta, me escreveu pra pedir aprovação e sugestões. Adorei esse processo, estou adorando, e acho bacana compartilhar porque é muito rica essa troca de uma língua pra outra, tantas possibilidades, como fazer as brincadeiras funcionarem com outras palavras, genial. Aí embaixo está o email da Heloisa pra vocês acompanharem.
Olá Maria,
Que bom estarmos de acordo com os ajustes na tradução.
Você tem razão, "that lives the..." está mais próximo ao texto que a tradução inicial.
Agora que começamos este exchange, vou te mostrar todo o poema e as mudanças que sugeri.
Eis o poema como veio a mim --
I love a soft dick
Just like that
I do not drink mate
I do not like coconut water
I do not ride a bike
I did not see ET
and I l-o-v-e a soft dick
I love a soft dick
for what it exposes in vulnerability
and for what it hides in possibility
I love a soft dick
because touching one presumes the existence
of a certain freedom and intimacy
that I appreciate and always want
Because it is the icon of post-sex
that is in essence and automatically
(even though maybe a little anticipatedly)
also always pre-sex
A soft dick is a promise of happiness
quietly murmured next to the ear
And it is inside of it
in all its brazen softness
of a modeling mass
where lives the firm and strong dick
with which my man takes me.
--- ---
Eis a versão em que estou trabalhando:
I love a soft dick
Just like that
I do not drink mate tea*
I do not like coconut water
I do not ride a bike
I did not see ET
and I l-o-v-e a soft dick
I love a soft dick
for what it exposes in vulnerability
and for what it hides in possibility
I love a soft dick
because touching one presumes the existence
of a certain freedom and intimacy
that I cherish** and always want
Because it is the icon of post-sex
that is in essence and automatically
(even though maybe a little anticipatedly)
always pre-sex as well***
A soft dick is a promise of happiness
quietly murmured next to the ear
And it is inside of it
in all its wobbly softness
of modeling clay****
that lives the firm and strong dick
with which my man takes me.
*precisa ser mate tea ou tea, pq mate sozinho significa pessoa. O chá mate até existe, mas acabou de ser introduzido no mercado, acho que as pessoas não vão fazer alusão ao que vc se refere. Por outro lado cria uma rima Tea and ET, meio estranho????? Se não te incomoda podemos fazer isso. Ou vc tem outra ideia?
** appreciate tinha sido usada, todo mundo appreciate tudo aqui na América, mesmo quando a premissa do que é appreciated não é verdadeira - cherish traz a apreciação mais perto do coração...além de ter mais musicalidade.
***não gosto de also e always juntos. O as well no final adiciona outra condição.
****Ao meu ver, o poema em português compara o pau mole à coisas simples, como a massa de modelar. Na tradução, o uso de modeling mass tira tal impressão, já que não é esse o nome de tal material em ingles. O "brazen sofness/of a modeling mass" não está incorreto, mas para mim, ele mexe na descontração de sua poesia. Me diz o que acha e sigo o seu sinal.
Pode colocar isso no blog sim! Vale a pena compartilhar esse processo com certeza.
Queria ver o seu livro. Posso comprar de vc?
Beijos
Heloisa
15.11.04
Cabrália
7.11.04
descanso
4.11.04
minha casa
Pois essa é sala da minha casa nova, só que enquanto ela ainda é a sala do Seu Armando, dono dela e do resto do apartamento.
Foi assim: eu estava andando em Botafogo, vi um predinho lindo e pensei "podia ser feliz aí". O porteiro estava na porta, uma cara simpática, perguntei, não tinha nada pra alugar, claro, continuei andando. Lá na frente escuto um psiu, era ele me chamando. Que o Seu Armando, do 103, ia se mudar. Que o apartamento era lindo, muito caprichoso o seu Armando, e que ele mesmo, seu Jorge, tinha colocado o piso, e por aí ia...
Pois eu entrei, e seu Armando é um senhor adorável, e o apartamento dele parece uma casa linda com varanda e banheira, e ele gostou de mim e me esperou, e eu hoje assinei o contrato, meu primeiro contrato de casa, e vou então agora ter a minha própria casa, ainda não a casa própria mas a minha casinha só minha...
Espero então as visitas de todos pra suprir a minha carência de pessoa criada em casa cheia e alegre, pra fazer da minha casa tão alegre quanto essa da qual eu venho!
21.10.04
esse?
Rola mexe vira e me ensina a ser gente inteira
Gente com todas as partes
Tudo certo no lugar
Me ajuda a achar o erro e me ajuda a consertar
Deixa eu ser sua parceira
Sua mulher de verso e prosa
Sua rima
Sua rosa
Seu mistério indevassável
Deixa eu sambar na sua voz
E gritar no seu prazer
Quero ser sua mulher-filme
Mulher toda feita pra ver
E quero ser de verdade
Passar roupa pra você
Parir cada um dos seus filhos
Chupetas poemas canções
Te amar nas noites de medo
E na febre das manhãs
Me olha com seu desejo
Eu visto a sua fantasia
Mas olha sem querer nada
Olho limpo de enxergar
Quem eu sou já vale a pena
Vida é sempre melhor que poema
E a minha versão carne e osso
Bate de longe o cinema do seu sonho
A música que eu posso ser
Só você sabe cantar
E a melhor das minhas palavras
Não vale o calor da sua nuca
(a harmonia que conta é a que não se pode tocar)
8.10.04
fluxo
É ele que paralisa
tudo impávido colosso
tudo cabide no armário
tudo certo tudo morno
chão de bolas de cristal
Lá fora um sofá puído
esse desejo rouco
uma história moribunda
a beleza oficial.
E no corpo já sem fogueira brilha o fosfóro azul do amor mais confortável.
O temor enforca os dias
meses anos de desertos.
Tudo urge e tudo cala
e o mundo cabe na mala que eu morro de medo de te entregar.
1.10.04
como Manoel de Barros
Meu dia
Loja ao contralho, vento bom, marimbondo perto, cachorro.
Bala rasgada, dei lápis, água nogenta, nenem chega, sapato da sandy.
Vi camera, que fedor, minina abriu quecho.
Cade a mulher doida, pedra pichada, garota dorme, garoto chega.
Briga na hiscola, broca da professora, não bebi agua.
Saida
Saindo todo mundo
Meu amigo vai comigo.
15.9.04
Internacional
Então no final do ano passado eu recebi um email avisando sobre um projeto chamado Imagining Ourselves organizado pelo Museu Internacional da Mulher, em São Francisco, nos Estados Unidos. Eles estavam à procura de mulheres artistas do mundo inteiro com trabalhos em qualquer área - poesia, música, artes plásticas, fotografia - para participar de uma exposição organizada por eles. Bem simples... Eu escolhi dez poemas, mandei por email, fiquei pensando naquilo por um tempo e depois (manobra inteligente da minha sanidade mental) abstraí.
Pois esses dias me chega um email deles avisando que eu fui selecionada! "Dear Mrs. Rezende, you are one of the finalists..." blablabla! Depois descobri que o museu ainda está em pré-construção, ou seja, ainda vai começar a ser construído, e a exposição vai ser virtual e acompanhada de um livro de arte com as obras das finalistas.
Então tá: minha poesia vai estar num livro, no meio do trabalho de mulheres do mundo inteiro, circulando por aí. Achei o supra sumo da chiquice, e aproveito esse canto que é meu pra espalhar! Agora, tudo isso deve ser só em outubro de 2005, ou seja, estou me preparando pra abstrair de novo até lá...
3.9.04
Aplauso
Sonho realizado: noite do Te vejo na Laura lo-ta-da, fila na porta, gente no balcão, gente pelo chão, e eu nunca tinha falado pra tanta gente - pelo menos não pra gente tão animada e aplaudinte.
Foi uma delícia ser ouvida assim, falar assim, uma puta experiência diferente e deliciosa, coroando um dia de muito nervoso e ansiedade. No blog do Te vejo tem mais fotos da noite, e vale a pena dar um pulo lá pra ver a Ana Carolina, o Marcelo Serrado e meu parceiro e amado, Rodrigo Bittencourt...
21.8.04
Caderno Ela!
Finalmente saiu nossa matéria no Caderno Ela do Globo!!
E L A
Rio, 21 de agosto de 2004
Versão impressa
A nova juventude dourada
Carolina Isabel Novaes
Maria Rezende e Rodrigo Bittencourt são a cara da juventude dourada que sacode a cena cultural carioca. A poetisa e o músico namoram há dois anos e há um produzem o “Te vejo” na Laura, evento que reúne música, poesia, cinema e um monte de gente cabeça toda última segunda-feira do mês, na Casa de Cultura Laura Alvim.
Os versos criadas por ela em “Pau mole” os uniu. Rodrigo tinha ido assistir a um recital de um amigo e, em vez disso, encontrou uma bela no palco. Ela falava da falta de ereção, como adorava o membro desfalecido pelo “que ele encerra de possibilidade”. E ele gamou. No dia seguinte deixou um recado na secretária eletrônica do celular da moça: “Porque te ouvir assim, dando vida ao repouso, salvando o macho (...)”. Era uma resposta aos versos ouvidos na noite anterior. — Ficamos uma semana em um duelo de poemas, ele me mandava um, eu respondia, e vice-versa. Nunca houve uma produção tão intensa de poemas! — brinca Maria. Cinco dias depois estavam namorando. E desde então, continuam em alta rotação. No ano passado lançaram seus respectivos trabalhos — o livro de poesias “Substantivo feminino” e o disco “Canção para ninar adulto”.
Maria, 25 anos, participou de projetos como o “Panorama”, com o músico Rodrigo Sha, e o “Freezone”, com o poeta Chacal. Apresentou-se no CEP 20.000, no bar Bukowsky, na Casa da Matriz. Rodrigo, 27, cantou nas bandas Oficina e Neura. Formou-se em teatro e estuda cinema.
Filha do cineasta Sérgio Rezende e da produtora Mariza Leão, há três anos escreve poesias, e declamadora há mais tantos, mas “Substantivo feminino” é a sua primeira publicação. E, apesar de admitir que “Pau mole” é o seu grande hit, não classifica sua obra como erótica. — Não concordo. É um livro de poemas.
O livro, com prefácio de Elisa Lucinda, traz versos ousados, aborda o sexo de maneira clara (“meu pai fica constrangido”, confessa), mas não é só isso. O poeta Manoel de Barros ganhou um exemplar e disse à autora: “Li o livro. Você é poeta.” Ela é a Maria da Poesia, vaidosa, romântica, caseira. No “Te vejo”, se mostra à vontade no palco, por onde já passaram Camila Pitanga, Affonso Romano de Sant’Anna, Antônio Calloni, Caetano Veloso, entre outros. Na última edição, o ator Lázaro Ramos cantou uma música inédita do filme “Madame Satã”.
As influências de Rodrigo, que é muito vaidoso e jamais sai de casa com a roupa amarrotada, vão de Chico Buarque a Axl Rose. Antônio Cícero foi um dos que elogiaram seu disco, especialmente a música “Cinema americano”.
Entre um recital e uma produção de filmes (é, Maria acumula mais essa função), eles ainda encontram tempo para juras de amor eterno. — Você briga à tarde por falta de dinheiro e à noite vai ao cinema com a mesma pessoa com quem discutiu. É duro, mas sou privilegiada por ter alguém que me entende — define Maria. O amor é lindo.
LEIA MAIS
Poesia 'Pau mole', de Maria Rezende
13.8.04
Porque eu não tenho nada a dizer nem nenhum poema pedindo pra ser postado, e porque adorei essa foto e queria ser sempre assim, derretida e iluminada, e porque senão vão dizer que já tem muito tempo que eu não escrevo e como é que eu posso querer ter público assim, nesse marasmo, e porque deu vontade.
2.8.04
hit
Adoro pau mole.
Assim mesmo.
Não bebo mate
não gosto de água de coco
não ando de bicicleta
não vi ET
e a-d-o-r-o pau mole.
Adoro pau mole
pelo que ele expõe de vulnerável e pelo que encerra de possibilidade.
Adoro pau mole
porque tocar um pressupõe a existência de uma intimidade e uma liberdade
que eu prezo e quero, sempre.
Porque ele é ícone do pós-sexo
(que é intrínseca e automaticamente
- ainda que talvez um pouco antecipadamente)
sempre um pré-sexo também.
Um pau mole é uma promessa de felicidade sussurrada baixinho ao pé do ouvido.
É dentro dele,
em toda a sua moleza sacudinte de massa de modelar,
que mora o pau duro e firme com que meu homem me come.
29.7.04
Galeano
Esses poemas que eu compartilho aqui são de um livro precioso dele chamado O livro dos abraços, que eu recomendo com veemeência e presenteio com freqüência. Lambuzem-se.
A Noite/1
Não consigo dormir. Tenho uma mulher atravessada entre minhas pálpebras.
Se pudesse, diria a ela que fosse embora; mas tenho uma mulher atravessada na garganta.
A Noite/2
Arranque-me, senhora, as roupas e as dúvidas. Dispa-me, dispa-me.
A Noite/3
Eu adormeço às margens de uma mulher: eu adormeço às margens de um abismo.
A Noite/4
Solto-me do abraço, saio às ruas.
No céu, já clareando, desenha-se, finita, a lua.
A lua tem duas noites de idade.
Eu, uma.
Quer mais Galeano? dê um pulo aqui.
25.7.04
da gaveta
aminhaédasgrandesepedeprasersaciadainteira,
queaperitivonessahoraécruelquenemchuvacaindomiúdasemmatarasededeninguém(nemaminhanemasua)eeujácanseidequasequalquercoisa.
Querocoisainteira,escritacorrespondênciacarinhocuidadopoemamão.
E você, não?
22.7.04
primeiro poema infantil
Então tinha um moço torto cheio de idéias tortas.
E então uma moça curva cuspindo círculos pelas redondezas.
E então que as redondezas ficaram cada vez mais concêntricas
e então que um dia PUFT:
o moço torto deu de cara com a moça curva
e ficou de cara com a moça curva
e foi logo pensando:
“eu quero escorregar nessa montanha russa aí!”
A moça curva bem que gostava de gente torta e logo ficou encantadinha com aquele moço meio tortinho mas que mal via alguém fazia logo um ar de Corcunda de Notre Dame e com a boca bem retorcida suspirava “ai que saco!” pra multidão de gentes retas que passava sem parar.
O que o moço não sabia é que a tal moça da curva,
com sua boca lisa e seu jeito esticadinho,
também não gostava de nada reto não,
e na verdade já tinha bem um tempo que ela procurava um moço assim,
meio tortinho,
pra andar com ela por aí.
E então os dois deram-se os braços e o incrível PUFT:
aconteceu.
A torteza do moço foi esticando,
a curva da moça foi se acentuando,
e quando eles foram ver estavam tortos numa curva tão redondinha
que tinham encaixado de um encaixe tão maciinho
que a felicidade agora era fácil e certa
como se a estrada tivesse sempre sido essa
e a vida,
que ele nunca quiseram reta, tivesse sempre sido essa festa.
15.7.04
moça bonita
Essa é uma foto de uma noite batizada de Nós também, por exemplo, que foi o lançamento conjunto do meu livro, do cd do Rodrigo e do cd do Tonho: substantivo feminino, Canção pra ninar adulto, Ímpar. A idéia surgiu numa noite aqui em casa, quando eu reuní os amigos pra primeira audição do cd do Rodrigo, ou do meu, não me lembro mais. Sei é que o Tonho veio aqui, a gente teve essa idéia e ela vingou. Foram alguns meses de ensaios, aqui, na casa dos pais dele, nós três e o Gus, que está aí à direita na foto. O Tonho é esse do meião, o do sorriso. Foi uma noite linda e a alegria maior ainda por ser compartilhada, nós quatro vivendo juntos aquele momento único ali no palco, os amigos todos misturados, os pais se dando parabéns.
Isso foi há pouco mais de um ano, 11 de junho de 2003. Agora, não temos mais Tonho por perto. O sorriso ficou, e a alegria, mas ele mesmo não mais. Os dias vão passando e a gente nem se dá conta de quanto tempo, quanto tempo que a gente passou querendo se ver e deixando pra amanhã, quanto tempo agora que ele ficou invisível.
Hoje ouvi o Geraldo Azevedo cantando Moça bonita, uma música que há muito tempo não ouvia, e que animava os forrós dos fins de noite dos saraus que a gente fazia, onde se cozinhou a minha poesia e se ouviu em primeira mão as canções lindas dele. E de repente a saudade veio imensa, e um poema saiu dela, e vem direto pra cá.
Morrer podia ser só um pouquinho
Podia ser um passeio
Uma viagem pela noite que acabasse no café
Morrer como uma aventura
Uma montanha
Andar a pé o deserto depois voltar
Como dançar de olho fechado
Se perder num outro corpo
Como uísque bom, um sono inteiro, um prazer, um cheiro
Morrer podia até ser um castigo
Porta fechada com prazo de fim
Mas não esse buraco, esse abismo
Seu riso pra sempre perdido
Sua música soando em mim
12.7.04
poema
Assim sendo, pra todos vocês, respeitável público, mas principalmente pra Mariana, prima, leitora e recém amiga íntima, mais do que merecedora de uma dedicatória, um poema novo em primeira mão.
Pro inferno com o amor de tardes rasas
que dorme cedo e tem hora pra chegar
Pro inferno com o que é dúvida e se espalha
Feito ratos em bando pela estrada
Já chega de afiar faca na noite
E de aflições que vem de berço e não têm fim
Descanso é ar no peito e uma certeza
Não é mais hora de testar limite assim
Não quero mais o alívio que redime
E cuja origem é a mesma do terror
Os medos que carrego já me bastam
Eu sou na vida o antídoto pra dor
Pro inferno com essa festa de tristeza
Não cabe mais angústia no salão
Ação não é o antônimo de calma
E o que lateja, meu amor, nem sempre é bom
ps: nada pessoal...
7.7.04
palco
Palco é incrível: adoro. Cresci sendo chamada de exibida pelos meus primos e ficava irritadíssima, até que descobri que era mesmo, sou mesmo, só faltava encontrar o lugar certo pra exercer. Encontrei. E deixo aqui um poema que eu escrevi pra Playboy da Regiane Alves (cujo texto é todo meu) e que brinca com essa vida de palco.
Nada disso eu
Tudo isso meu
A moça aqui das palavras
Parece com a lá de casa
E os versos que ela escreveu
Diz que fui quem viveu
De máscara e fantasia
Canto o bom que nem não tenho
Choro as tristezas do mundo
Que bem podem ser as dela
Da moça que ali escreve
E que se não é o mundo
Tem um mundo dentro dela
Não importa ser eu ou ela
Não sei se é aqui ou na tela
Mas a moça que vos fala
Faz da arte seu dublê:
Inventa o que viveu
E imita o que escreveu
*a foto, linda, é do Pedro Secchin, fotógrafo oficial do Te vejo na Laura
1.7.04
nem tudo são flores 2
Agora é que o título invade a cena. Cadê os meus antigos posts, tão bacanas e delicados? Esconderam-se. Ficaram com ciúmes e devem ter achado que esse espaço era pequeno demais pra todo mundo, então eu que fique com o meu "sistema inteligente de comentários". Explico: esse post é um pedido de socorro. Se você está lendo isso (dadas as circunstâncias nulas de propaganda desse blog) é porque você é meu amigo, ou pelo menos me conhece, e então eu posso pedir: você pode por favor escrever um comentariozinho, pode ser bem pequeninho, só pra eu saber que alguém me visita e me desdeprimir da perda dos antigos?
Muitíssimo obrigada.
25.6.04
nem tudo são flores
"Criança de rua sem circo na praça quinze.
Criança malabarista de sinal,
de bola de tênis voando baixo,
rolando longe no asfalto molhado,
na poça vermelha do sinal fechado.
Criança dessa tem o circo é dentro dela:
é trapezista saltando no ar sem rede de proteção;
é palhaço de si, rindo do que não há,
fingindo ser ensaiada a puxada de cadeira que a derruba,
a tinta na cara feito máscara que a torne personagem
e só assim capaz de suportar esse número.
Criança dessa é bailarina sem roupa nem sombrinha
se equilibrando descalça na linha fina demais da vida,
o leão solto da jaula pronto pra dar o bote
e ela mágico sem cartola de onde tirar o truque derradeiro que a salve.
Pula o leão, vai-se a criança engolida numa só bocada.
De pé, o respeitável público aplaude e come amendoim."
21.6.04
Reconhecimento & glamour
Muito trabalho, muito desgaste, muito suor e algumas brigas depois, o casal tem sua recompensa: essa é uma foto de making of da nossa sessão de fotos pra Revista Trip, que está fazendo um editorial de moda pra edição de julho cujo tema é novos talentos cariocas e chamou a gente pra fotografar. Finalmente um pouco de glamour na vida! Bom, fora a coluna que quase quebrou pra ficar nas poses incríveis que o fotógrafo pediu, foi um luxo absoluto. Um monte de gente bacana e um reconhecimento que a gente busca há um tempo, e que agora começa a vir. Tenho certeza de que as fotos que o Murilo, fotógrafo, tirou vão sair lindas, mas essa do Leo da moda eu achei genial, que eu adoro esses desfocados do movimento. Bom, pra quem quiser conferir, nas bancas dia 5 de julho!
14.6.04
amazônia
Não escrevi poemas, não li poesia, apesar dos planos iniciais. Engraçado como a produção não tem mesmo nenhuma lógica: parece que viajando novas idéias vão vir, sensações novas, e elas vêm, e muito, mas não em verso até agora. E então, penso, pra que escrever aqui? Não era só pra versos? Sei lá! O espaço é meu, né? E parecia um desperdício estar na Amazônia e não contar pra ninguém...
1.6.04
Te vejo na Laura ontem à noite
Ontem à noite foi a segunda edição do Te vejo na Laura, evento multimídia que eu e Rodrigo fazemos na Laura Alvim. Essa foto é do Pedro Secchin, nosso fotógrafo oficial, e eu aproveitei que a noite era em homenagem às mulheres pra dizer um poema meu antigo que eu adoro. Pra quem perdeu ontem ao vivo, agora vai ele por escrito:
Uma grande mulher, ele me diz.
Ele me olha com olhos de ver
e lê em mim o que de tão lá dentro
acaba sempre ficando de fora,
entrelinha sutil demais
pra percepção apressada que o mundo tem de mim.
Ele me lê e me sente, me capta e me cria também:
me abre em versos
me soa em rimas
me dá palavras novas
me toca como música em meus ouvidos.
Com seus olhos e boca me deu lugar no mundo dos sentidos com que sempre sonhei.
Com suas palavras me fez poeta,
presente melhor que já ganhei,
presente que recebo e repasso a cada dia
desse ofício de escrever a vida em versos
e dar-lhes voz, palavra dita.
É ele quem me alarga e me expande,
quem me vê grande
e gosta
e pede mais.
Eu sou uma mulher do tamanho que ele me faz.
20.5.04
primeiro poema
Isso me fez pensar numa conversa que tive ontem com a Elisa Lucinda, minha amiga e mestra, sobre títulos e como eles podem ampliar brutalmente o entendimento de um poema. Eu não sei brincar de título, e no meu livro os poemas vêm a seco mesmo, por falta de opção. Até o título do livro foi uma novela, e eu estava decidida por busca, s.f., sendo s.f. substantivo feminino, naqueles moldes de dicionário, sabe? Minha mãe achava que parecia futebol clube, e a Elisa achou que parecia Cristiane F, drogada e prostituída, e acabou que foi ela que me deu a chave: pra quê o busca? substantivo feminino era o suficiente, e não naquelas ridículas abreviações, mas de forma clara e direta. Assim ficou e eu sou eternamente grata às críticas, porque a-d-o-r-o o nome do livro, que eu acho que combina com ele e comigo.
Voltando ao título do post, vou colocar aqui então o primeiro poema do substantivo feminino , que aliás é o meu único poema feito sob encomenda. Eu estava em Fortaleza trabalhando e recebi um telefonema da Thiaré, amiga do meu namorado, me pedindo um poema sobre mulher pra abrir uma noite que ela estava organizando no Cep 20.000. Eu já estava com umas idéias e escrevi esse poema que acabou abrindo não só a noite do Cep mas também o meu primeiro livro, sendo portanto um poema com vocação pra aberturas...
Uma mulher é uma mulher ainda que.
Palavras e formas não comportam o conteúdo.
Uma mulher pode ser um jeito
Uma costela ou um defeito.
Uma mulher transborda pelos cantos
Enche as medidas
Contorna o desafino
Toca punheta e toca sino.
Uma mulher pode ser um grito
Uma barriga
Um precipício.
Uma mulher pode ser um abismo ou um porto
E pode ser os dois
E é.
18.5.04
começando
Sempre tive um pouco de pudor de publicar meus poemas num blog. Sou romântica com poesia, e embora possa escrever de forma bastante despudorada gosto de poema em roupa de papel, gosto de livro, de ter na mão, da relação sensual com aquele objeto. Agora me despudoro e decido ficar mais "virtual". Poemas na tela. Ao toque não da página, mas dos botões do teclado. Talvez seja bom. Quem passar por aqui e se animar a voltar vai comigo na viagem...