27.9.07

trapézio

Tudo tá sempre na corda bamba.

A vida é por princípio um fino fio, e a gente tenta se equilibrar.

Tem quem meça cada passo
Tem quem corra pra enganar o medo
Eu faço do fio estrada asfaltada
e ando com calma e sem pressa
apreciando a vista
assobiando baixinho.

Eu finjo que a vida é uma estrada e esqueço do fino fio
daí o susto da iminência da queda:
cair como de tanta solidez?

Me assusto, estremeço
o chão foge dos pés
e a distância se abre imensa nos olhos:
um monte de nada até lá embaixo
o fino fio balançando bem de leve...

É um desespero sem morte
a vertigem mais profunda.

A vida cobrando a conta da calma, da vista, dos assobios
e eu, desabituada, evito olhar pra baixo
pra não virar ovo estrelado no chão da realidade.

24.9.07

America Latina II


Inventar de ir a Buenos Aires foi coisa minha, e portanto nem posso reclamar da confusão em que me meti... Pesquisando sobre Montevideo descobri que 3h de barco nos levariam lá, e aí começou a fissura: TEMOS que ir a Buenos Aires pelo menos um pouquinho!


Descobri nesse processo que viagem sem planejamento anterior cobra um preço alto de stress em lan houses e telefonemas de orelhões com cartões pré-pagos nem sempre compreensíveis. Passei quase metade do tempo planejando o que viria no dia seguinte, ligando e mandando email pra albergues, hoteis, locadoras de carro, companhias aéreas e de transporte fluvial, arrancando os cabelos, enfim. O resultado foi diversão acompanhada de muito cansaço, e chegando no Rio foram precisos uns 3 dias pra eu conseguir começar a trabalhar...


Mas fora tudo isso foi uma delícia. Buenos Aires é definitivamente uma cidade adorável, daquelas que se eu fosse rica e pudesse iria passar um fim-de-semana, jantar em dois ou três lugares deliciosos, fazer umas comprinhas, tudo pela metade do preço que se pagaria em São Paulo, por exemplo, e pode incluir a passagem nessa conta. Infelizmente esse (ainda) não é o caso, então tratamos de aproveitar bem porque acho que agora vamos demorar a voltar lá.


A gente ficou hospedado num albergue incrível, descoberto numa das sessões internáuticas em Montevideo. Chama Borges Design, e o nome juntou duas informações interessantes: literatura e design num só pacote, a preço de albergue? Parecia bom demais, e era mesmo. O lugar é uma graça, super arrumadinho e de bom gosto, nosso quarto era enorme, com um banheiro ótimo, edredon cheiroso na cama, e ainda por cima fica num ponto ótimo, no coração de Palermo Soho. Palermo, aliás, é um capítulo à parte: é o bairro mais charmoso, cult, cheio de lojas bacanérrimas e bares e cafés e restaurantes deliciosos. O bairro costumava ser dividido em duas partes: Palermo e Palermo Viejo. Agora a coisa se sofisticou, e Palermo Viejo se dividiu em Palermo Hollywood e Palermo Soho, onde a gente estava, pertinho da famosa Praça Serrano, onde aos domingos rola uma feirinha de design incrível.


Ficamos lá até quarta, quando partimos cedinho de barco de volta pra Montevideo, pra almoçar e pegar o avião de volta pro Rio. Foi pouco tempo, mas deu pra aproveitar, então aí vão as dicas:


- Passear na Praza Serrano e nos seus arredores. O programa é bom qualquer dia da semana, e domingo tem a feira pros animados, porque a cada vez que eu vou lá tem mais lojas e mais gente comprando, e dessa vez mesmo eu, uma compradora animada, não tive ânimo de enfrentar a multidão.


- Sair pra beber e comer besteiras no Acabar, um bar incrível, com uma decoração louca e que tem milhares de jogos pros clientes escolherem. É genial ir com muitos amigos, mas mesmo um casal consegue se divertir e passar uma noite inusitada. Pra gente, que estava há cinco dias só conversando um com o outro, foi ótimo passar a noite rindo sem falar nada!


- Passear no Parque Tres de Frebrero, um parque lindo pra caminhar e comer um "pancho", que é como eles chamam cachorro-quente. De lá se vai a pé por um caminho cheio de jardins e praças até o Jardim Japonês, que é lindo, e de lá é um pulo pro MALBA, o museu de arte moderna de lá que é um escândalo! A arquitetura é linda e sempre tem exposições e programações culturais super bacanas. Pra quem é de andar, de lá dá pra seguir a pé pro Museu Nacional de Belas Artes, que tem Miró, Goya, Rodin, Manet, Monet, uma super coleção permanente.


- A principal rua de comércio é a Avenida Santa Fé, cheia de lojas de sapato lindas onde eu não posso comprar porque meu pezinho 39-40 não entra nos modelitos de lá... É que os números lá são 1 a mais do que os nossos, então lá eu calço 40-41, e já viu que não existe 41, né? Uma tortura pruma sapatomaníaca como eu... Na Santa Fé fica também a livraria mais linda que eu conheço, chamada El Ateneo. É um antigo teatro, tipo o nosso Municipal, transformado em livraria mas mantendo o clima do teatro, com estantes de livros espalhadas pelos camarotes e um café chiquérrimo e bem carinho no palco. Mas tomar um café folheando um livro recém comprado olhando praquele cenário emoldurado por cortinas de veludo vermelho vale o preço!


- O centro da cidade é outro passeio genial. Lá fica a Casa Rosada, numa praça enorme e linda que é onde acontece toda a vida política da cidade, e os argentinos são super políticos, então a praça transborda de História. De lá se anda pro Café Tortoni, o mais antigo da cidade, charmosérrimo e também carinho, mas o clima compensa o lanche caro. Lá eu vi um show de tango super bacana, numa salinha mínima e sem aquela onda super turística, recomendo.


- Dar uma volta no Puerto Madero, que é onde a foto aí de cima foi tirada, na nossa chegada na cidade puxando mala pela rua loucos em busca de um caixa automático pra sacar pesos argentinos e poder pegar um taxi pro albergue! O porto foi revitalizado, é lindo, um passeio super agradável, tem restaurantes e cafés.


- Andar em San Telmo, que é onde tem a feira de antiguidades aos domingos. Eu confesso que não curti muito a feira, e gostei bem mais de andar por lá durante a semana, é uma parte bem antiga da cidade, super gostoso.


- Restaurantes incríveis: Te mataré Ramirez é um restaurante de comida afrodisíaca genial, super bem humorado e com ótima comida e boa música. Bar Uriarte é um lugar que eu adoro, boa comida, ambiente super clean mas aconchegante.


E aqui acaba o super-guia-maria-de-buenos-aires. Eu tenho uma inclinação louca pra guia turística, é uma loucura...

14.9.07

América Latina I




A semana passada foi de férias imprevistas pro casal. Foi nossa segunda viagem pela América do Sul, e nossa estréia no Uruguai, em Montevideo, cidade linda a que a gente nunca tinha ido. A maioria das pessoas com quem conversei na semana que separou a decisão de ir pra lá pra ida propriamente dita nos perguntou: mas por que Montevideo? O tom variava da curiosidade genuína a um espanto que teria desanimado alguns. Mas não eu, leitora apaixonada do uruguaio Eduardo Galeano e seduzida pelo seu olhar amoroso pra sua cidade. E respondia assim mesmo: porque eu adoro Galeano, porque aprendi com ele que nós brasileiros somos também latinoamericanos, e nada mais lógico do que conhecer os países vizinhos, ainda mais quando a Europa anda tão cara e os Estados Unidos nos barram na porta. E além disso de lá vem o Jorge Drexler, melhor descoberta musical dos últimos anos, cujo disco "Eco" não sai da vitrola aqui de casa desde que compramos.



Montevideo é linda, uma cidade com orla de rio e tempo de antigamente, cheia de praças bonitas, bares e restaurantes bacanas, e muita gente simpática pra todo lado. Tudo lá estava incrivelmente barato pra gente, e aproveitamos pra comer bem e passear muito. A dica pra quem for é ficar no Centro, onde era nosso albergue Che Lagarto, escolhido exatamente por isso. Só que chegando lá detestamos nosso quarto, que não tinha mesa-cadeira-cabide-armário, nada além da cama e olhe lá. Daí fomos parar num hotel Ibis, padrão-americano de qualidade, que realmente nos deu tudo o que a gente precisava por uns poucos dólares a mais que o albergue, e que apesar de estar fora do Centro era de frente pra Rambla, o que compensava a perda.



Andamos feito loucos, comemos a qualquer hora, fizemos tudo que deu na telha, arrastamos malas pela rua, dirigimos sem saber o caminho, compramos sapatos iguais, e eu comprei, já sabendo que nem ia tocar nele lá, o último livro do Galeano que me falta ler, "Venas abiertas de la America Latina", assim mesmo, em espanhol, porque o medinho que eu tinha de ler esse livro se foi quando dei de cara com o Uruguai e percebi o quão perto ele está de tudo, o quão perto a gente está de lá e de tudo mais, e agora, já no Rio, aproveito o prazer de ler esse cara que eu adoro na sua língua, e de conhecer o que ele teve a dizer sobre tudo isso ainda nos anos 60, e que é cada vez mais relevante nos anos 2mil.



Dicas pra quem for:



- andar pela Rambla, que é a orla de lá e corta a cidade de uma ponta a outra, ou seja, de Carrasco (bairro antigo e cheio de casas deslumbrantes e sem muros ou grades, pra nosso espanto carioca) até o Mercado del Puerto, antigo mercado transformado em centro gastronômico que reúne restaurantes de 'parrilla' (churrasco deles) e bares bons pra beber medio-a-medio, mistura de vinhos brancos e espumante típica de lá.



- se admirar com a beleza da Plaza Independencia, passar pela Puerta de la Ciudadela e andar pela Ciudad Vieja, sentar nas praças e se sentir seguro em qualquer ruazinha deserta



- jantar no Bar Tabaré, um bar-restaurante super tradicional e ainda assim moderninho, ótima comida e clima



- ouvir boa música e beber 'uvita' (outra mistura de vinhos deliciosa, que só esse bar tem) no Baar Fun Fun, perto da Plaza Independencia



- passar uma noite pulando de bar em bar na Calle Bartolomeu Mitre, na entrada da Ciudad Vieja: são vários, cada um num estilo, quase todos com música ao vivo, e como os preços são ótimos dá pra beber e comer um pouquinho em cada um



- sentar pra tomar alguma coisa no Café Brasileiro, lugar preferido do Galeano (se é que alguém além de mim se interessa por essa informação). Independente da literatura, é um dos cafés mais antigos da cidade, e apesar da gente não ter gostado de nenhum café (a bebida, não o lugar) em Montevideo, vale uma visita



- pegar um barco pra ir a Buenos Aires, que pode ser direto de Montevideo (3h de viagem) ou passar por Colônia, cidade que todo mundo diz que é linda mas que a gente acabou não conhecendo, por confusões de viagem e uma certa ansiedade de chegar em Buenos Aires, que a gente ama.



Notícias de lá no próximo post...


5.9.07

será mesmo?


Sempre fui péssima em geografia. Durante a escola era só estudar na véspera das provas, mas agora, na vida real, é que a coisa pega mesmo. O Brasil até que eu entendo bem, graças à sorte de ter viajado bastante pelo país, o que me faz saber onde ficam os estados. Parece básico, mas é me deixa feliz!

Seguindo pra América do Sul ainda me entendo, a America do Norte faz o favor de ter poucos países, e aí quando vem a Europa me perco toda. Ok, a Itália é uma bota e a Inglaterra é uma ilha, mas são tantos países, meu deus! Não adianta, não sei mesmo onde eles estão... África, Ásia, Oriente Médio, aí é como se fosse Marte, Vênus, Urano: nenhuma remota noção.

Digo isso tudo porque instalei aqui no blog um mapa que assinala onde estão os meus leitores, e cada vez desacredito mais dos resultados. No início comemorava: olha, estão me lendo numas ilhas no meio do mar!

Pelo mapa mundi que eu acabo de consultar e comparar com o meu Cluster Maps, tenho leitores nos Açores, nas Ilhas Canárias e em Cabo Verde. Também me lêem em três diferentes parte do Japão, em Macau, Angola, na Venezuela, na Guiana, na fronteira do Uruguay com a Argentina, em várias partes dos Estados Unidos, na Itália, Turquia, Noruega, Dinamarca, e em outros países da Europa que eu não consigo reconhecer no mapa-mundi porque os pontinhos vermelhos do Cluster Maps encobrem as fronteiras. E tem mais! Tenho leitores em Iceland! Sou lida na Terra do Gelo, ilha que eu nem sabia que existia, ó ignorância geográfica!

Enfim, fico feliz, lisonjeada, orgulhosíssima, mas diante da improbabilidade desse fato deixo o apelo: se alguém aqui souber como funciona esse Cluster Maps, me dê notícias. E se alguém aí estiver me lendo de lugares incríveis como esses, ah, deixa um recadinho, vai...