É infame a piadinha, e velha ainda por cima, mas nada melhor a dizer no momento. É que eu tô com problema de junta, sabe? Junta tudo e joga fora.
Tenho só 31 anos, na flor da idade, animada, feliz, cheia de trabalho, amando e sendo amada, comendo bem e (tentando) fazer exercício, mas aí surge um joelho que dói, uma escápula que dói, duas escápulas que doem, uma lombar, e o pulso que acorda duro feito pedra e ai como dói.
Já tentei cuidar de tudo, já fui no ortopedista, no acupunturista, na osteopata. O primeiro me mandou fazer musculação, eu fui, adorei, mas malhar como com dor? O segundo me espetou toda, me encheu de esparadrapos feito um vudu esquisito, e não melhorei nadinha. A terceira será em breve a próxima, volto lá semana que vem depois de dois anos porque ela sim me olhou com cuidado e entendeu que o o joelho doeu porque o quadril pendeu pra esquerda porque eu torci o tornozelo direito há uns seis anos atrás.
Sim, seis anos. Era casamento de uma amiga, rolou aquela ciranda judaica sensacional, o salto do sapato virou e pronto, tornozelo torcido. Gelo, antiinflamatório, e ele ficou bom. Médio. Bom nunca mais ficou. Pega esse tornozelo, bota seis anos e o resultado sou eu agora, 31 anos, já na fase do "junta tudo e joga fora". Mas a osteopata não era o máximo? Era, mas era uma grana, e depois do primeiro mês eu paniquei e nunca mais voltei.
Agora resolvi voltar. E a grana? Tô pensando assim: não comprei tv pra minha ilha de edição, sofá, tecido pra estofar, não vou comprar um computador novo porque o meu tá velho? Então vou comprar um tornozelo novo, um joelho, duas escápulas, um quadril e uma lombar. Não são novos, mas remanufaturados, sabe, que nem tinta de impressora? Tô achando um bom negócio...
"Carne do umbigo", "Bendita palavra" e "Substantivo feminino" são a versao impressa e bem acabada do que rola aqui. Quer me ter na sua mão em forma de livro e disco? Me escreve aqui!
30.3.10
22.3.10
10.3.10
do Guimarães
"estou de range-rede."
"o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando. afinam ou desafinam."
"moço: toda saudade é uma espécie de velhice."
"um está sempre no escuro, só no último derradeiro é que clareiam a sala. digo: o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe pra gente é no meio da travessia."
"ah, porém, estaquei na ponta dum pensamento, e agudo temi, temi. cada hora, de cada dia, a gente aprende uma qualidade nova de medo!"
"o que até hoje, minha vida, avistei, de maior, foi aquele rio. aquele, daquele dia."
"essas são as horas da gente. as outras, de todo tempo, são as horas de todos."
"sempre que se começa a ter amor por alguém, no ramerrão, o amor pega e cresce é porque, de certo jeito, a gente quer que isso seja, e vai, na idéia, querendo e ajudando; mas, quando é destino dado, maior que o miúdo, a gente ama inteiriço fatal, carecendo de querer, e é um só facear com as surpresas. amor desse, cresce primeiro, brota é depois."
"e ele, o reinaldo, era tão galhardo garboso, tão governador assim no sistema pelintra, que preenchia em mim uma vaidade, de ter me escolhido para ser seu amigo todo leal. talvez também seja. anta entra n´água, se rupêia. mas, não. era não. era, era que eu gostava dele. gostava dele quando eu fechava os olhos. um bem querer que vinha do ar do meu nariz e do sonho de minhas noites."
"toda alegria, no mesmo do momento, abre saudade. até aquela - alegria sem licença, nascida esbarrada. passarinho cai de voar, mas bate suas asinhas no chão."
"ser ruim sempre, às vezes é custoso, carece de perversos exercícios de juízo."
"assim uma coisa eu estava escondendo, mesmo de diadorim: que eu já parava fundo no falso, dormia com a traição. um nublo. tinha perdido meu bom conselho. e entrei em máquinas de tristeza."
"o que eu vi, sempre, é que toda ação principia mesmo é por uma palavra pensada. palavra purgante, dada ou guardada, que vai rompendo rumo."
"mau eu não sou. cobra? - ele disse. nem cobra serepente malina não é. nasci devagar. sou é muito cauteloso."
"digo ao senhor: nem em diadorim mesmo eu não firmava o pensar. naqueles dias, então, eu não gostava dele? em pardo. gostava e não gostava. sei, sei que, no meu, eu gostava, permanecente. mas a natureza da gente é muito segundas-e-sábados. tem dia e tem noite, versáteis, em amizade de amor."
"meu corpo gostava do corpo dele, na sala do teatro. maiormente. as tristezas ao redor de nós, como querendo carrega para toda chuva."
"de mim toda mentira aceito. o senhor não pe igual? nós todos. mas eu fui sempre um fugidor. ao que fugi até da precisão da fuga."
"acho que eu não tinha conciso medo dos perigos: o que eu descosturava era medo de errar - de ir cair na boca dos perigos por minha culpa. hoje, sei: medo meditado, foi isto. medo de errar. sempre tive. medo de errar é que é a minha paciência."
"ele gostava, destinado, de mim. e eu - como é que posso explicar ao senhor o poder de amor que eu criei? minha vida o diga. se amor? era aquele latifúndio. eu ia com ele até o rio jordão. diadorim tomou conta de mim."
"cansaço faz tristeza, em quem dela carece."
"acho que o sentir da gente se voltei, mas em certos modos, rodando em si mas por regras. o prazer muito vira medo, o medo vai vira ódio, o ódio vira esses desesperos? - desespero é bom que vira a maior tristeza, constante então para o um amor - quanta saudade... - aí, outra esperança já vem... mas, a brasinha de tudo, é só o mesmo carvão só."
"a gente carece de fingir às vezes que raiva tem, mas raiva mesmo nunca se deve tolerar de ter. porque, quando se curte raiva de alguém, é a mesma coisa que se autorizar que essa própria pessoa passe durante o tempo governando a idéia e o sentir da gente; o que isso era falta de soberania, e farta bobice, e de fato é."
"se não o senhor me diga: preto é preto? branco é branco? ou: quando é que a velhice começa, surgindo de dentro da mocidade."
"o nome de diadorim, que eu tinha falado, permaneceu em mim. me abracei com ele. mel se sente é todo lambente."
(acabo de notar que estou na terceira fase da escrita: ele escreveu, eu copiei no caderninho, e agora digito. e adoro. adoro. e vou me entendendo de jeitos líricos sabe? "medo de errar é que era a minha paciência?". ah, faça-me o favor, né? eu podia descobrir isso sobre mim com alguma palavra melhor? bom, depois continuo que ainda tem muito mais.)
"o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando. afinam ou desafinam."
"moço: toda saudade é uma espécie de velhice."
"um está sempre no escuro, só no último derradeiro é que clareiam a sala. digo: o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe pra gente é no meio da travessia."
"ah, porém, estaquei na ponta dum pensamento, e agudo temi, temi. cada hora, de cada dia, a gente aprende uma qualidade nova de medo!"
"o que até hoje, minha vida, avistei, de maior, foi aquele rio. aquele, daquele dia."
"essas são as horas da gente. as outras, de todo tempo, são as horas de todos."
"sempre que se começa a ter amor por alguém, no ramerrão, o amor pega e cresce é porque, de certo jeito, a gente quer que isso seja, e vai, na idéia, querendo e ajudando; mas, quando é destino dado, maior que o miúdo, a gente ama inteiriço fatal, carecendo de querer, e é um só facear com as surpresas. amor desse, cresce primeiro, brota é depois."
"e ele, o reinaldo, era tão galhardo garboso, tão governador assim no sistema pelintra, que preenchia em mim uma vaidade, de ter me escolhido para ser seu amigo todo leal. talvez também seja. anta entra n´água, se rupêia. mas, não. era não. era, era que eu gostava dele. gostava dele quando eu fechava os olhos. um bem querer que vinha do ar do meu nariz e do sonho de minhas noites."
"toda alegria, no mesmo do momento, abre saudade. até aquela - alegria sem licença, nascida esbarrada. passarinho cai de voar, mas bate suas asinhas no chão."
"ser ruim sempre, às vezes é custoso, carece de perversos exercícios de juízo."
"assim uma coisa eu estava escondendo, mesmo de diadorim: que eu já parava fundo no falso, dormia com a traição. um nublo. tinha perdido meu bom conselho. e entrei em máquinas de tristeza."
"o que eu vi, sempre, é que toda ação principia mesmo é por uma palavra pensada. palavra purgante, dada ou guardada, que vai rompendo rumo."
"mau eu não sou. cobra? - ele disse. nem cobra serepente malina não é. nasci devagar. sou é muito cauteloso."
"digo ao senhor: nem em diadorim mesmo eu não firmava o pensar. naqueles dias, então, eu não gostava dele? em pardo. gostava e não gostava. sei, sei que, no meu, eu gostava, permanecente. mas a natureza da gente é muito segundas-e-sábados. tem dia e tem noite, versáteis, em amizade de amor."
"meu corpo gostava do corpo dele, na sala do teatro. maiormente. as tristezas ao redor de nós, como querendo carrega para toda chuva."
"de mim toda mentira aceito. o senhor não pe igual? nós todos. mas eu fui sempre um fugidor. ao que fugi até da precisão da fuga."
"acho que eu não tinha conciso medo dos perigos: o que eu descosturava era medo de errar - de ir cair na boca dos perigos por minha culpa. hoje, sei: medo meditado, foi isto. medo de errar. sempre tive. medo de errar é que é a minha paciência."
"ele gostava, destinado, de mim. e eu - como é que posso explicar ao senhor o poder de amor que eu criei? minha vida o diga. se amor? era aquele latifúndio. eu ia com ele até o rio jordão. diadorim tomou conta de mim."
"cansaço faz tristeza, em quem dela carece."
"acho que o sentir da gente se voltei, mas em certos modos, rodando em si mas por regras. o prazer muito vira medo, o medo vai vira ódio, o ódio vira esses desesperos? - desespero é bom que vira a maior tristeza, constante então para o um amor - quanta saudade... - aí, outra esperança já vem... mas, a brasinha de tudo, é só o mesmo carvão só."
"a gente carece de fingir às vezes que raiva tem, mas raiva mesmo nunca se deve tolerar de ter. porque, quando se curte raiva de alguém, é a mesma coisa que se autorizar que essa própria pessoa passe durante o tempo governando a idéia e o sentir da gente; o que isso era falta de soberania, e farta bobice, e de fato é."
"se não o senhor me diga: preto é preto? branco é branco? ou: quando é que a velhice começa, surgindo de dentro da mocidade."
"o nome de diadorim, que eu tinha falado, permaneceu em mim. me abracei com ele. mel se sente é todo lambente."
(acabo de notar que estou na terceira fase da escrita: ele escreveu, eu copiei no caderninho, e agora digito. e adoro. adoro. e vou me entendendo de jeitos líricos sabe? "medo de errar é que era a minha paciência?". ah, faça-me o favor, né? eu podia descobrir isso sobre mim com alguma palavra melhor? bom, depois continuo que ainda tem muito mais.)
9.3.10
Ler-escrever
Achei esses dias na casa dos meus pais um caderninho no qual eu anotei trechos do Grande Sertão na segunda vez em que li. Eu já tinha feito isso quando li pela primeira vez, tamanho o fascínio pela riqueza inédita da linguagem que o livro me dava a cada página, mas perdi o caderno e sim, reler foi de novo me seduzir por aquele universo linguístico e fiz de novo esse exercício de humildade. Lendo esses dias as coisas que anotei agradeci a mim mesma essa possibilidade de mergulho instantâneo nesse livro que eu amo pra além do já batido mas nunca velho "viver é muito perigoso".
Sempre tive essa mania, apesar de ultimamente andar mais preguiçosa. Anotei um pouco lendo Nas tuas mãos, da Inês Pedrosa, presente importado de Lisboa pelo meu amigo André Pellenz que disse que era um primor, e tinha razão. Esses livros em que a linguagem é quase mais deliciante que a narrativa, ou no mínimo tanto quanto, são os que mais me falam à alma. Os portugueses e angolanos são craques na coisa. A gente lê a prosa como se lesse poesia, uma delícia.
Pensei em tudo isso porque li um roteiro de um curta de uma amiga em que a personagem discorda de mim totalmente, acha que ao invés de gastar tempo re-escrevendo o que já foi escrito melhor é escrever as suas próprias palavras. Faz sentido, mas de algum jeito doido escrever no meu caderno e com a minha letra azul aquelas palavras alimenta a minha escrita, sabe? São duas delícias diferentes que eu espero praticar sempre.
Sempre tive essa mania, apesar de ultimamente andar mais preguiçosa. Anotei um pouco lendo Nas tuas mãos, da Inês Pedrosa, presente importado de Lisboa pelo meu amigo André Pellenz que disse que era um primor, e tinha razão. Esses livros em que a linguagem é quase mais deliciante que a narrativa, ou no mínimo tanto quanto, são os que mais me falam à alma. Os portugueses e angolanos são craques na coisa. A gente lê a prosa como se lesse poesia, uma delícia.
Pensei em tudo isso porque li um roteiro de um curta de uma amiga em que a personagem discorda de mim totalmente, acha que ao invés de gastar tempo re-escrevendo o que já foi escrito melhor é escrever as suas próprias palavras. Faz sentido, mas de algum jeito doido escrever no meu caderno e com a minha letra azul aquelas palavras alimenta a minha escrita, sabe? São duas delícias diferentes que eu espero praticar sempre.
3.3.10
as vidas
São algumas, e todas boas. As que dependem menos de máquinas e tecnologia são melhores, sempre. Aquela na qual eu cozinho muito e recebo amigos em casa é uma delícia. As duas ou três que envolvem horas despreocupadas com o meu amor estão no topo da lista. A que é recheada de poesia e escrita andava sumida, mas voltou à ativa recentemente. Engraçado: quase todas elas envolvem ir ao supermercado no mínimo uma vez por dia. E ainda nem começou a vida em cujo centro mora um filho, razão principal pras compras cotidianas de alimentos.
(Ando doida pra ela começar.)
(Ando doida pra ela começar.)
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