28.6.11

Não-pronta

"É absurdo acreditar na idéia de que uma pessoa, quanto mais vive, mais velha fica; para que quanto mais vivesse mais velho ficasse, teria de ter nascido pronto e ir se gastando... Isso não ocorre com gente, e sim com fogão, sapato, geladeira. Gente não nasce pronta e vai se gastando; gente nasce não-pronta, e vai se fazendo. Eu, no ano que estamos, sou a minha mais nova edição (revista e, às vezes, um pouco ampliada); o mais velho de mim (se é o tempo a medida); está no meu passado e não no meu presente." (Mario Sergio Cortella)

(roubado da querida&talentosa Suzanna Schlemm)

9.6.11

Apesar do céu

O Everton Behenck é um poeta e compositor e cantor gaúcho que eu conheci na Festipoa. A banda dele tocou na mesma noite em que eu me apresentei, então eu só curti o som deles na passagem de som porque depois que desci do palco cês sabem, fiquei zureta até 3a feira.

Dias depois, na Palavraria - a minha livraria em Porto Alegre, onde o a Carla, o Paulo e o Carlos são sempre abraços&sorrisos pra mim -, numa mesa com os queridos Botika e Marcelino Freire, conheci a poesia escrita dele, e adorei. Agora viciei no Apesar do céu, onde acho delicadezas como essa:

Saudade é provocar o amor
Até não aguentar mais

Como em uma propaganda antiga
De refrigerantes

Saudade

É cutucar o amor
Com vara nenhuma

É o medo do amor
Não ser o mesmo

Quando a gente acorda

É o medo de ter a mão
Devorada

Por uma fera

Sem que ela saiba
O que significa

O que está engolindo

Saudade
Quando diz de verdade

É um cisco
No pensamento

Que o outro
Ausente

Não sopra

Everton Behenck

8.6.11

Caso do vestido, gato, tijolo - a noite no Oi P.J.


A noite no OI P.J. foi assim:
Primeiro teve papo breve de medos&angústias, recapitulação dos acontecimentos anteriores, referências, roteiro, projetor&praticidades.
Aí teve o ensaio, eu perdida no palco, eu achada, idéias, repeterepeterepete, muda, inventa, repeterepete.
Quando parecia que ia acabar teve o P.J. propriamente dito, o dono do teatro, oferecendo salmão e pão caseiro tostadinho e vinho português safra 98 e pizza e conversas gostosas.
E de repente era 1h da madrugada, eu e Ana na cozinha, o vento brincando com as árvores, e "O caso do Vestido" veio do coração pra boca sem passar pelo pensamento, as palavras do Drummond saindo depois de tanto tempo, novas, limpas, lindas.
Foi impulso, virou plano mirabolante, com direito a mirabolâncias da Ana em luz&cenário, com direito a 3 takes, com direito a pulo de gato branco e música triste no final.

*P.J. é o Paulo José, pai da Ana, dono do teatrinho incrível (vulgo OI P.J., porque o palco tem o tamanho do do Oi Futuro Ipanema) onde temos a sorte de ensaiar, com direito a palpites e comidinhas gostosas

6.6.11

Pra ler a Ana

Minha diretora tá estreando no mundo encantado dos blogs, e já tem lá um continho lindo e triste sobre beleza e tristeza.

É ali na matriuschka.

Benvinda, Anuska!

2.6.11

Não é treino, Antônio, é ensaio!

Tá bom, tô cheia de citações e títulos esquisitos. Mas é que eu amo "A Máquina", o livro da Adriana Falcão, que eu li e reli mil vezes, vendo a peça umas duas entre as leituras, pra dar fôlego. E quando o Antônio pergunta "cheguei tarde pro treino, Karina?" é isso que ela repete, já impaciente porque ele não aprende a diferença.

Pois agora eu sou meio Karina meio Antônio. Pela primeira vez na vida tenho um compromisso com esse nome: "ensaio", eu escrevo na agenda virtual, e um sorriso se desenha no rosto. Vou sair mais cedo hoje porque tenho ensaio - eu aviso aos clientes e parceiros de trabalho. Desliguei o celular porque estava ensaiando. É um arraso de bom. Novidade embrulhada em papel celofane azul royal.

Ainda mais porque "ensaio" quer dizer encontrar a Ana. A Ana é a Ana Kutner, minha diretora, minha mais nova amiga de infância, com quem eu tenho o prazer de compartilhar esse momento tão particular da minha vida, com quem eu aprendo rindo e divido o peso das tristezas que aparecem, e que me emociona quando me pega pela mão e me fala sobre um medo que rolou "você acha que a gente vai deixar você se espatifar? tá doida?" "a gente quem, Ana Kutner?" "a gente, as pessoas que te amam!". Tem amor nessa nossa mistura, e que luxo trabalhar assim!

Pois descobri que eu sou meio Karina meio Antônio porque tem horas que o ensaio tem jeito de treino, e só percebi isso essa semana, quando dona Ana me botou pra correrpulardançar pelo palco durante umas boas duas horas. Era uma noite gelada no alto da Gávea e eu saí de sutiã e cabelos molhados de suor, um roxo no joelho esquerdo, as costas em petição de miséria, a alma limpída e o pensamento alegre.










Hoje, depois de uma sessão salvadora na osteopata, eu pedi com jeitinho e ela, que é um doce, me deixou ficar mais calminha. Passamos um corridão do espetáculo, e vimos pela primeira vez a cara que ele tem agora, com o roteiro que parece que vai ser o definitivo - pelo menos pelos próximos tempos. A vida sabe ser boa, eu digo e repito, e nunca canso de concordar comigo nesse quesito...