Chegando da Bienal, onde fui participar da última mesa do Café Literário do último dia de feira: fechando a tampa legal! Era uma homenagem ao Manoel de Barros, com curadoria do Ítalo Moriconi, mediação do
Ramon Mello, e como convidados eu e
Antônio Calloni lendo poemas do Manoel e falando da poesia dele e da nossa relação com ela e com ele. Na verdade a convidada mesmo era a Elisa Lucinda, mas ela não pôde ir e me indicou pra ir no seu lugar, e eu adorei! Foi uma delícia reler tantos poemas que me formaram e ouvir tantos outros, e ver brilharem os olhos do público com as palavras desse poeta que eu tanto admiro.
Falei lá sobre como conheci a poesia do Manoel e ele propriamente dito logo em seguida. Foi no nascimento da
Escola Lucinda de Poesia Viva, preparando um recital da obra dele, e eu aluna de literatura brasileira na PUC nuna tinha sequer ouvido o nome do cara. Mergulhamos na poesia dele e ele veio, lindo, doce, lá de Campo Grande pra receber a homenagem. Devia ser 1999 ou 2000, eu disse o poema "Pedido quase uma prece", uma coisa linda, e o Manoel lá sentadinho, de cabeça meio baixa, eu pensando "poxa, entediei o poeta...", no final ele me diz "minha filha, que coisa mais linda, disfarcei porque fui te ouvindo e me emocionando e comecei a chorar...". Anos depois, no lançamento de um livro dele, quase morri com a dedicatória-presente que dizia "Para Maria Maria, poeta dos que fazem poesia", e a explicação: "você falando recria os poemas da gente".
Agora, chegando em casa, penso nas coincidências que tem me espantado tanto esses tempos. Há duas semanas peguei na casa dos meus pais vários cadernos e pastinhas e diários, os últimos remanescentes do tempo em que eu morava lá, e lá se vão quase sete anos. Vim pra casa, comecei a fuçar e entre emoções loucas e descobertas lindas achei essa cartinha que tá na foto ali em cima, que eu tenho salva no computador mas não tinha mais o original e fingia que nem ligava mas ficava mesmo era arrasada: como eu podia ter perdido a carta que o Manoel me mandou quando recebeu o
substantivo feminino, meu primeiro livro?! Como eu podia ter sido tão descuidada?!
Eu não tinha sido, e o suspiro de alívio ecoou pela casa, seguido por um sorriso silencioso quando reli, na letra miúda dele, as palavras carinhosas que agora, pela primeira vez, derramada da noite manoelina-bienalzesca-inspiradora, mostro. Não podia ser melhor que isso. Poucas coisas na vida podem. Luxo, privilégio, orgulho, aconchego e estímulo.
Campo Grande, 16.7.2003Maria Maria querida poeta Maria!
Desde o título Substantivo feminino já fiquei seduzido.
Muito obrigado pelo presente.
Acho que você tem ferramentas para continuar.
É poesia substantiva mesmo.
A mulher inteira dentro das palavras.
Poesia é fenômeno de linguagem do que de idéias.
Isso você sabe.
Assim você é poeta.
Carinhoso abraço do
Manoel de Barros