25.9.11

Ornitorrinco de hoje


Um navio em alto mar
A casa sem remos
Bote à deriva
Cavalo desgovernado
Eu preciso de

Terremoto
Tempestade
Tsunami
Teto preto
Tétanodifteria
Tenhodoispeitoseumsócoração

Antigamente era o novo
Hoje é o novíssimo
Dizer não pro que se quer é ser fodão?

E onde é que mora a raiva?
Rabia anger rrrr
(como se diz 'raiva' em francês?)

Muito forte
Alta, firme, focada
Muito despreparada
Estou

(a proposta era: até 400 caracteres. era tão curtinho que eu esqueci de escrever, e hoje recebi email editorial com a versão simpática da inevitável pergunta: cadêotextogarota? e procurei um poema pequeno, inédito, e descobri que me acho tão concisa mas sempre passo de 400 letrinhas, e caramba como é que alguém escreve no twitter que eu não tenho nunca tive e agora entendi ainda menos? esse poema aí em cima tinha 472 caracteres, aí eu adaptei ele pra caber na proposta ornitorrínica e ficou assim. nunca antes na história do meu país eu tinha arrancado pedacinhos de um poema pra ele caber em algum lugar. e sabe que nem doeu? um dia ele vira página de livro do tamanho que eu quiser, ou nem vira. hoje ele é encerramento do ornitorrinco #014, na deliciosamente curtinha edição POUCO É TUDO, passem lá no site pra ler mais!)

21.9.11

Ah, a criatividade & o talento...











Foi assim que eu me apaixonei por ela, depois de anos implicando com o best-seller. Daí li "Comer rezar amar" e adorei. Adorei. Li e reli logo depois de ver o chato filme, pra ter certeza de que eu não era uma louca de ter adorado. Eu não era. O livro é bom - e não sei sobre a tradução, mas no original essa mulher escreve deliciosamente, com humor e inteligência, como nesse papo aí em cima. Volta e meia volto nessa palestra, e sempre saio melhor dessa sala virtual.
(Pra legendas em português: site do TED)

Conselho roubado


(trecho de carta do Drummond pra Maria Julieta, filha muito amada e também escritora. porque conselho de um poeta desses se aceita sem pestanejar, e vindo com o amor de pai pra filha só fica mais poderoso.)

11.9.11

eu&Manoel, Manoel&eu


Chegando da Bienal, onde fui participar da última mesa do Café Literário do último dia de feira: fechando a tampa legal! Era uma homenagem ao Manoel de Barros, com curadoria do Ítalo Moriconi, mediação do Ramon Mello, e como convidados eu e Antônio Calloni lendo poemas do Manoel e falando da poesia dele e da nossa relação com ela e com ele. Na verdade a convidada mesmo era a Elisa Lucinda, mas ela não pôde ir e me indicou pra ir no seu lugar, e eu adorei! Foi uma delícia reler tantos poemas que me formaram e ouvir tantos outros, e ver brilharem os olhos do público com as palavras desse poeta que eu tanto admiro.



Falei lá sobre como conheci a poesia do Manoel e ele propriamente dito logo em seguida. Foi no nascimento da Escola Lucinda de Poesia Viva, preparando um recital da obra dele, e eu aluna de literatura brasileira na PUC nuna tinha sequer ouvido o nome do cara. Mergulhamos na poesia dele e ele veio, lindo, doce, lá de Campo Grande pra receber a homenagem. Devia ser 1999 ou 2000, eu disse o poema "Pedido quase uma prece", uma coisa linda, e o Manoel lá sentadinho, de cabeça meio baixa, eu pensando "poxa, entediei o poeta...", no final ele me diz "minha filha, que coisa mais linda, disfarcei porque fui te ouvindo e me emocionando e comecei a chorar...". Anos depois, no lançamento de um livro dele, quase morri com a dedicatória-presente que dizia "Para Maria Maria, poeta dos que fazem poesia", e a explicação: "você falando recria os poemas da gente".

Agora, chegando em casa, penso nas coincidências que tem me espantado tanto esses tempos. Há duas semanas peguei na casa dos meus pais vários cadernos e pastinhas e diários, os últimos remanescentes do tempo em que eu morava lá, e lá se vão quase sete anos. Vim pra casa, comecei a fuçar e entre emoções loucas e descobertas lindas achei essa cartinha que tá na foto ali em cima, que eu tenho salva no computador mas não tinha mais o original e fingia que nem ligava mas ficava mesmo era arrasada: como eu podia ter perdido a carta que o Manoel me mandou quando recebeu o substantivo feminino, meu primeiro livro?! Como eu podia ter sido tão descuidada?!

Eu não tinha sido, e o suspiro de alívio ecoou pela casa, seguido por um sorriso silencioso quando reli, na letra miúda dele, as palavras carinhosas que agora, pela primeira vez, derramada da noite manoelina-bienalzesca-inspiradora, mostro. Não podia ser melhor que isso. Poucas coisas na vida podem. Luxo, privilégio, orgulho, aconchego e estímulo.

Campo Grande, 16.7.2003

Maria Maria querida poeta Maria!
Desde o título Substantivo feminino já fiquei seduzido.
Muito obrigado pelo presente.
Acho que você tem ferramentas para continuar.
É poesia substantiva mesmo.
A mulher inteira dentro das palavras.
Poesia é fenômeno de linguagem do que de idéias.
Isso você sabe.
Assim você é poeta.
Carinhoso abraço do
Manoel de Barros