A gravação tem mais de oito meses.
Foi numa casa que não é mais minha, e eu nem imaginava ali que isso podia vir a ser, então nem medo tinha, eu que sou a rainha dele.
É a palavra que mais tem no meu segundo livro, sabe?
Medo.
E parece que a vida toda é uma tentativa de vencê-lo, embora seja sempre mais fácil fingir que ele simplesmente não tá ali, e eu às vezes sou bem boa dessa categoria de fingimento.
Esse é mais um dos poemas da Adélia aprendido ensinando, um poema poderoso, curativo, que mora no meu coração e no cantinho da minha cabeça sem nunca gastar.
"O poder que eu quisera é dominar meu medo."
Muitão.
Admirada #18: Adélia Prado, "Choro à capela"
Engraçado ter achado esse vídeo prontinho bem quando acabei de descobrir e me maravilhar com o vídeo
"The scared is scared", que postei semana passada e não me canso de compartilhar e recomendar. E já que o assunto é esse, resgatei esses dias anotações antigas de trechos que amo do "Grande Sertão: Veredas", romance do Guimarães Rosa que eu não me canso de reler. Esses são só os pedacinhos que falam de medo - e daí se vê que além de sentir e escrever sobre, a pessoa também gosta de ler sobre. Deleitem-se.
"tive medo, sabe? tudo foi isso: tive medo. não pensei nada. eu tinha o medo imediato. e tanta claridade do dia."
"e, enquanto houver no mundo um vivente medroso, um menino tremor, todos perigam - o contagioso. mas ninguém tem a licença de fazer medo nos outros, ninguém tenha. o maior direito que é meu - o que quero e sobrequero - é que ninguém tem o direito de fazer medo em mim!"
"alguém estiver com medo, por exemplo, próximo, o medo dele quer logo passar para o senhor; mas se o senhor firme aguentar de não temer, de jeito nenhum, a coragem sua redobra e tresdobra, que até espanta."
"ah, para não se ter medo é que se vai à raiva."
"eu fosse ter cautela, pegava medo, mesmo só no começar. coragem é matéria doutras praxes."
"tinha medo não. tinha era cansaço de esperança."
"acho que eu não tinha conciso medo dos perigos: o que eu descosturava era medo de errar - de ir cair na boca dos perigos por minha culpa. hoje, sei: medo meditado, foi isto. medo de errar. sempre tive. medo de errar é que é a minha paciência."
"aqui digo: que se teme por amor, mas que, por amor também, é que a coragem se faz."