29.10.08

do cinema


Amanhã vou pra Juiz de Fora, cidade que quase foi o túmulo do meu amor - e por isso vou sozinha, pra não arriscar. É uma viagem meio espremida no meio de mil trabalhos e funções aqui no Rio, mas é por uma boa causa: está em competição lá o Elke, curta da Julia Rezende, minha irmã, montado por mim. O filme estreou no Festival do Rio do ano passado e tem tido uma carreira incrível em festivais pelo Brasil afora. Como a diretora está em São Paulo trabalhando, a montadora aqui vai de representante oficial.

Nem sei se vai ter apresentação antes da sessão, nem se eu vou ter a chance de dizer isso lá, mas fiquei pensando como seria ótimo a Julia estar lá nesse específico festival, porque de alguma forma Juiz de Fora está na origem desse filme. Foi lá que em 2006 foi filmado o longa-metragem Zuzu Angel, do qual a Julia era assistente de direção, e a Elke atriz convidada. Na verdade era uma participação muito da especial, porque nos anos 60 a Elke tinha sido modelo e amiga da Zuzu, e sua participação no filme era como cantora de boate numa cena com Zuzu e Elke (Patrícia Pillar e Luana Piovani). Era ela contracenando com ela mesma, e foi uma noite emocionante e especial, a voz dela cantando uma canção de guerra alemã ecoando pela noite de JF.

Pra mim, essa foi a noite que quase enterrou meu amor. Pra Julia, foi a noite que consolidou a vontade de fazer um filme sobre a Elke, sobre a mulher por trás e acima dos estereótipos, não a Elke maravilha, simplesmente a Elke, a filha de pai russo com mãe alemã que veio viver em Minas e virou a mais brasileira das brasileiras, mesmo tendo virado apátrida por conta dos desmandos da ditadura.
O filme nasceu desse encantamento, e a meu ver cumpre lindamente com o que propõe: não quer explicar nada, não narra acontecimentos, não estimula fantasias. É um retrato da Elke por ela mesma, um espelho em forma de filme, é a estréia da minha irmã na direção e um filme do qual eu me orgulho no meu currículo ainda curto de montadora.

Por tudo isso, apesar do medinho de voltar à cidade, apesar das mil coisas que eu teria que fazer no Rio amanhã, viajo feliz pra Juiz de Fora. Mas volto logo, que eu não sou boba nem nada.

23.10.08

do arquivo 2

você me deu a palavra tosco
eu te dei a palavra atarantada

você me deu tom zé
eu te dei o galeano

você me trouxe mais loucura
eu te mostrei praticidades

você me faz bater palmas
eu te faço saltitar pela casa

você é letra e música
eu sou só palavra

eu te alimento
você me come

a gente junto inventa o mundo
e se diverte
e anda por aí

a gente junto é melhor que sozinho
ainda é cada um mas cada um ganha mais brilho

adoro esse encontro
adoro a permanência
o desenho dos dias com você

adoro conviver
com você, viver

do arquivo, mas atualíssimo

não é grude nem invasão:
é que tem hora que o corpo pede a outra pele
o nariz fica doido pelo cheiro de um certo lado do pescoço
e a idéia da cama, confesso, fica grande demais prum ser só
(ainda que não solitário)

é demais morrer de saudade?
querer você perto?

se for ando excessiva, pronto, assumo
e assumindo repito e reitero:
te amo de todo jeito, e você nunca sai de dentro
mas nessa noite preferia estar também do lado
sentir seus pés nos meus na madrugada
e te ver respirar de manhã como se fosse pouco
como se fosse normal esse amor todo
como se não fosse pra comemorar

(eu comemoro)

22.10.08

30

Nunca pensei que fosse acontecer comigo.

Já disse em poema que a idade me acolhe, não me assusta, e continua sendo verdade, mas o corpo não sente o mesmo. Subitamente a decadência mostra suas garras - ok, são unhas ainda curtas, mas com potencial de garras afiadas de animal selvagem. E de repente há assuntos de fios e manchas brancas, de veias azuis, olheiras roxas, e há medidas e providências e consolos e conformações.

Queria ser mãe de cabelos pretos e vou ser mãe com fios e manchas brancas, veias azuis e olheiras roxas. E nem é agora ainda.

Os 30 disfarçam dali, mas mostram suas garras. E eu disfarço daqui, mas morro de medo.

17.10.08

o maatz, de novo na veia

Vou ficar em silêncio

porque se fosse simples

eu apenas reclamava.
(É o Maatz, bicho, ele é foda.)

15.10.08

diário de lançamento - parte 1

Agora então o lançamento do livro e do cd tomou minha vida quase por inteiro. Foi tanta demora, tantos meses andando devagar que de repente ou eu corro ou tudo fica, de novo, pro ano que vem - e pra esse eterno ano que vem que se repete já me basta o projeto "filhos".

Agora então eu corro com os detalhes finais do livro, corro com a gravação que falta pro cd, corro com burocracias da prensagem, com marcar lugar e data do lançamento, corrro corro corro. E seria bom ter calma, mas tudo bem, correr pode ser bom também.

No momento estamos assim: livro revisado, diagramado e aprovado, capa na fase de aprovação final, assessora de imprensa contratada, lançamento praticamente marcado, gravação do cd atrasada e enrolada - mas faço ommmm e espero porque as participações especiais merecem a espera, e foi meu atraso que fez tudo ficar tão em cima da hora.

Tá sendo um processo bom, trabalhoso e gostoso e bom, e mal posso esperar pra compartilhar o resultado dele com todo mundo daqui a pouquinho!

8.10.08

não acredito

Tô arrasada. Acabo de ver que o contador exibido do blog marca 11.118 visitas. Olhei aquele monte de palitinhos ali do lado e pensei: porra, eu deixei passar o 11.111! Não acredito. Tô sofrendo um pouco por essa bobagem - mas não é quase sempre por elas que a gente sofre?

Eu juro que vou ficar mais atenta daqui pra frente, e o 111.111 eu não perco de jeito nenhum. Quer dizer, se eu estiver viva e meus olhos ainda funcionarem até lá.

2.10.08

Na real

Tudo custa o dobro do que parece a princípio.

O prato no restaurante custa R$40? A conta vai ser R$80. O vestido custa R$250? Com sapato e bolsa sai por R$500. O taxi é só 20 pratas? Pra ir e voltar, R$40. O aluguel da sala pra trabalhar é R$400? Bota luz, telefone, internet, limpeza, almoço na rua e a verdade aparece: R$800 pra ter seu espaço.

Pois o livro é assim. Custava um tanto, e agora com cd, capa linda e festa bacana de lançamento, já tá quase chegando em dois tantos. Tá quase chegando, mas até lançar ele chega lá, nos dois tantos.

Porque tudo custa o dobro do que parece. Ou quase tudo. Ou quase o dobro.