Amanhã vou pra Juiz de Fora, cidade que quase foi o túmulo do meu amor - e por isso vou sozinha, pra não arriscar. É uma viagem meio espremida no meio de mil trabalhos e funções aqui no Rio, mas é por uma boa causa: está em competição lá o Elke, curta da Julia Rezende, minha irmã, montado por mim. O filme estreou no Festival do Rio do ano passado e tem tido uma carreira incrível em festivais pelo Brasil afora. Como a diretora está em São Paulo trabalhando, a montadora aqui vai de representante oficial.
Nem sei se vai ter apresentação antes da sessão, nem se eu vou ter a chance de dizer isso lá, mas fiquei pensando como seria ótimo a Julia estar lá nesse específico festival, porque de alguma forma Juiz de Fora está na origem desse filme. Foi lá que em 2006 foi filmado o longa-metragem Zuzu Angel, do qual a Julia era assistente de direção, e a Elke atriz convidada. Na verdade era uma participação muito da especial, porque nos anos 60 a Elke tinha sido modelo e amiga da Zuzu, e sua participação no filme era como cantora de boate numa cena com Zuzu e Elke (Patrícia Pillar e Luana Piovani). Era ela contracenando com ela mesma, e foi uma noite emocionante e especial, a voz dela cantando uma canção de guerra alemã ecoando pela noite de JF.
Pra mim, essa foi a noite que quase enterrou meu amor. Pra Julia, foi a noite que consolidou a vontade de fazer um filme sobre a Elke, sobre a mulher por trás e acima dos estereótipos, não a Elke maravilha, simplesmente a Elke, a filha de pai russo com mãe alemã que veio viver em Minas e virou a mais brasileira das brasileiras, mesmo tendo virado apátrida por conta dos desmandos da ditadura.
O filme nasceu desse encantamento, e a meu ver cumpre lindamente com o que propõe: não quer explicar nada, não narra acontecimentos, não estimula fantasias. É um retrato da Elke por ela mesma, um espelho em forma de filme, é a estréia da minha irmã na direção e um filme do qual eu me orgulho no meu currículo ainda curto de montadora.
Por tudo isso, apesar do medinho de voltar à cidade, apesar das mil coisas que eu teria que fazer no Rio amanhã, viajo feliz pra Juiz de Fora. Mas volto logo, que eu não sou boba nem nada.