Maria
O futuro chegou contigo
Numa manhã de novembro
Mas não se revelou logo naquele dia;
Foi se instalando em mim aos poucos
Por vezes calmo, às vezes violento,
Me atirando contra as paredes da vida
E batendo com minha cabeça
Em forças que desconheço.
Maria, o teu presente é o meu presente,
Como teu presente é o meu futuro
E teu futuro será meu passado,
Um dia.
Me vem ansiedade, Maria,
Por te conhecer antes que me reconheças
E ao tempo
Que me fará um dia teu pai
Diferente do pai que te sou hoje:
Cabelos brancos, corpo marcado
E você, Maria, uma mulher pronta
No aeroporto, a decolar.
Sergio - 25.1.1979
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Achei essa carta do meu pai pra mim há alguns anos. Chorei as lágrimas boas do amor infinito que nos une. Foi muito intenso ler esse amor escrito nos meus dois meses de vida, e agradeci ao meu pai mais esse carinho: ele escreveu, guardou, e eu já adulta recebi esse presente.
Há um mês atrás, me preparando pra ir passar um mês em NY, abri um móvel que vive trancado a chave, dentro do qual tem uma caixinha onde achei que pudesse ter uns dólares guardados. Encontrei o dinheiro e essa preciosidade. Reler essa carta no dia mesmo em que ia pegar um avião pruma viagem especial, uma viagem de encontros profundos com amigos que eu amo, uma viagem de estar comigo e me reconhecer depois de tantas mudanças, foi emoção pura. Porque o tempo cumpriu sua tarefa. Chegou aquele dia. Meus próprios cabelos já começam a ficar brancos. E o amor da gente muda, mas não gasta nem um bocadinho.
É tudo tão íntimo que eu hesito mas a beleza mora mesmo na intimidade, e tem amor que dá vontade de gritar pro mundo. Esse é um deles.
3 comentários:
amei! beijocas!
Lindo!
O amor não gasta nem um bocadinho. Com este carinho todo, se renova.
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