26.11.06

28

O número aí em cima seria só um número, como já foi e voltará a ser um dia, quando deixar de ser a minha idade. Fazer aniversário sempre é bom pra mim, gosto de sentir o passar do tempo na minha vida cheia de conquistas, coisas boas, coisas chatas, prazeres e ainda tanto por alcançar mas muitas conquistas, sem dúvida.

Esse ano o aniversário foi festivo, e me animei a tomar finalmente uma profusão de providências pra comemorar com tudo em cima. Foi um tal de arrumar a casa, consertar janelas quebradas, uma privada que não funcionava, luz que não acendia nem apagava, trocar o estofado do sofá da tv, refazer as almofadas, comprar armários que faltavam há anos... A casa ficou um brinco, e eu feliz e orgulhosa. Adoro ser dona-de-casa sendo também trabalhadeira!

Mas a maior mudança dos 28 - e planejada pra ser feita antes dos 28 chegarem, pros 28 começarem já com ela existindo - foi a tatuagem da palavra. Passei um ano desejando ela, planejando ela, me acostumando com a idéia dela e muitas vezes sentindo falta dela! Por isso foi absolutamente inesperada a sensação de soco no estômago que me veio no dia seguinte, uma dúvida fortíssima, um medo de estar lidando com a eternidade, de estar brincando com um corpo que é meu desde sempre e do qual eu aprendi a gostar tanto, e de repente um carimbo no meio das costas em nome de quê, meu deus?!

Me senti voluntária de um campo de concentração, pedindo pra ser marcada, uma vaca com voz pra escolher o nome do dono, a palavra ardendo nas minhas costas feito queimadura por uns dias. Parecia casamento com padre e aliança, da categoria das coisas que podem ter volta mas que são feitas pensando no pra sempre. Chorei, chorei, chorei, escondida pra não parecer louca, pra não dar chance de ninguém dizer "quem mandou, coisa boba fazer tatuagem!".

Aí escrevi o poema que está aí embaixo e fui me curando do susto de brincar de deus. No dia de comemorar os 28 já estava curada e pronta pra exibir a bichinha, meu brinquedo novo que não vai gastar, eu gostando mais e mais dela, minha palavra que andará comigo pelas idades afora a partir de agora!


15.11.06

lidando com a eternidade

Conceitos, palavras.
Que tem a pele com isso?
Certezas podem ser carne sem ser tinta.
Podiam.

Carrego a palavra nas costas
além de no fundo do peito e na ponta da língua.
Base das minhas asas invisíveis,
soco na boca do estômago,
filho de 7 letras de 20 minutos de gestação.

Um dia crianças vão deitar sobre o meu corpo pra aprender a soletrar.
Talvez quando essa perenidade me tomar por inteiro
passe essa surpresa, esse medo,
talvez o que hoje é susto vire orgulho do percurso,
e a palavra, embora brasa, cesse de queimar.