22.12.05

cada um

Tem dias que cada um ser um se revela difícil e dolorido. Detesto a tristeza pra escrever, quase sempre a gente fica meloso. Antigamente gostava, acreditava na teoria romântica de que o sofrimento melhora a escrita. Hoje se sofro mal tenho vontade de escrever, acho sempre que vai virar página de diário sem qualquer interesse literário. Ainda assim venho aqui agora, talvez pra ter o que fazer nessa noite que ia ser uma e virou outra, numa semana estranha e que eu espero que passe logo.

Depois de amanhã é natal e cada vez sinto menos. Vamos lá: jesus nasceu, e eu - que não tenho nada com isso - tenho que comprar comprar comprar presentes pra todo mundo que eu conheço?! Não me convence... Mas (viva a sociedade de consumo), compro, e lá se vai meu rico dinheirinho em mais um dezembro...

14.12.05

tradução livre

Conforme o prometido (vide post abaixo).
Primeira manhã no exílio
(Alexandra Djajic-Horvath)
Na primeira manhã no exílio
tudo aconteceu muito rápido:
Comprar uma passagem
ir pro aeroporto
o avião que estava atrasado
um vôo de três horas.
E depois -
um funcionário da polícia federal
confirma minha identidade
não exatamente com boa vontade e rapidez
(no meu passaporte
cidades destruídas armam esboscadas
e ele simplesmente não pode
a essa hora da manhã
e de barriga vazia)
Seus dedos dormentes e bem alimentados
me caçam através dos circuitos
da invísivel e poderosa rede
mas o meu rosto não aparece -
eu ainda não estou na lista daqueles
que querem explodir o mundo
e depois de uma longa busca
- resignado e cansado
do turno noturno
e da cerveja de ontem à noite -
ele me deixa penetrar
no seu mundo sagrado
de expressos curtos
memória curta
e longos e profundos sonos.

12.12.05

Bosnia Herzegovina

Peço perdão a quem não lê inglês, e prometo em breve uma tradução livre, mas não me contive ao ler o poema abaixo, escrito por essa moça cujo nome eu não me atrevo nem a tentar dizer em voz alta, mas de uma força que atinge mesmo uma desgeográfica como eu que não sabe onde fica a Bosnia Herzegovina. Esse poema veio parar no meu computador por conta do Imaging Ourselves, o projeto do Museu Internacional da Mulher de São Francisco que reúne a arte de mulheres do mundo inteiro. Eu tive um poema selecionado e estou adorando a oportunidade de conhecer o trabalho de tanta gente de tão longe, e de mandar o meu pra cada um desses lugares também. Em março sai um livro com uma coletânea dos trabalhos, mas até lá eu deixo vocês com a Alexandra. Aproveitem.

First Morning in Exile
(Alexandra Djajic-Horvath)

The first morning in exile
It all happened very quickly:
Buying a place ticket
going to the airport
a charter that was late
a three-hour flight.
And then-
A passport officer
Confirms my identity
not exactly with goodwill and speed
(in my passport
Destroyed cities lurk
And he simply cannot
so early in the morning
on an empty stomach…)
His well-fed sleepy fingers
Hunt for me through the circuits
of the invisible powerful net
but my face does not appear-
I am still not on the list of those
who want to blow up the world
and after a long search
-resigned and tired
From the night shift
And last night’s beer-
he lets me slip into
his blessed world
of short espresso
short memory
and long sound sleep.

6.12.05

multi

Sou hoje uma mulher de várias facetas: continuo poeta, virei editora, dona-de-casa e até câmera. Essa foto é um registro da gravação do making of do Zuzu Angel, filme do Sergio Rezende (papai) que estréia no ano que vem. Passei dois meses de câmera e tripé debaixo do braço, andando por Rio e Juiz de Fora nessa nova ocupação. E agora começo a editar 42 fitas de material (exagerada, eu sou mesmo...) em meia hora de filme, pronta pra enlouquecer e pra morrer de prazer. Adoro variar mas a verdade é que estou adorando parar nessa vida, estar no cinema sem estar no cinema, ter o agito do set e a calma da minha ilha de edição em casa. E fazer uma comidinha nos intervalos, que ninguém é de ferro!

2.12.05



Esse pequeno aí em cima, miniatura de integrante de bateria, é o Thales Augusto. Com apenas 4 anos, ele é morador do Santa Marta, filho do mestre de bateria Sidmar Augusto. Criado no meio dos instrumentos, quando tinha dois anos o Thales começou a batucar num banquinho na sala de casa, e com o incentivo dos pais passou logop pro repique, que agora ele já toca que nem adulto. No dia 28 passado ele foi uma das atrações do Santa Cultura, projeto multimídia que a gente faz juntando artistas do Santa Marta e de fora de lá, e olha, foi um privilégio ver esse menino no palco! Além do que, quando o show acaba dá vontade de pegar ele no colo e levar pra casa...

24.11.05

na tv


Hoje o dia começou cedo, mais precisamente às 5h35 da manhã quando eu acordei, um perfeito zumbi de sono, e rumei pro Circo Voador. Mesmo o mais boêmio dos boêmios vai me achar uma louca, Circo Voador a essa hora de uma 5a feira, mas a razão não era boêmia: o Bom dia, Rio foi fazer uma entrevista sobre o Poesia Voa e queria alguém da organização e um poeta jovem. Como meus 27 ainda me dão o status de jovem, fui a escolhida.

Chegamos lá às 6h15, eu e Maria Juça, diretora do Circo, as duas doidas pra voltar pra casa e pra cama. Mas a verdade é que foi muito bom dizer poema ao vivo na tv (mesmo tendo que picotar meu poema querido sobre o risco por causa do fatídico pouco tempo), um luxo do qual uma poeta independente como eu não pode nunca abrir mão. Eu tinha certeza de que, a essa hora, ninguém que eu conheço poderia estar acordado, e se estivesse não iria estar vendo tv, mas o curioso é que não: já recebi três notícias de gente que assistiu, e fiquei em feliz com o convite.

Cheguei em casa às 7h30, fiz pilates e ia pra praia toda animada aproveitar a manhã mas o corpo pediu arrego e tive que dormir até meio-dia. Agora é rearrumar
o dia...

23.11.05

Começa hoje o Poesia Voa, um evento sensacional que o Tavinho Paes, maior agitador da poesia carioca, está organizando no Circo Voador junto com o Bruno Cattoni e a Maria Juçá (com uma mão do Chacal). A idéia parece louca a princípio, um lugar enorme e com cara de rock como o Circo de repente cheio de poetas e amantes da palavra, mais voz e menos música, mas funciona, e a prova é que já aconteceu, como conta o começo do manifesto que eles fizeram:

"Em 1985, a primeira edição do Festival colocou no sagrado palco do Circo Voador, os seguintes destaques: Fausto Fawcett :: Katia Flávia em versão integral :: Renato Russo :: recitando Faroeste Caboclo completo :: Antônio Cícero & Jorge Salomão :: lançando o Manifesto SuperNovas :: Márcia Peltier :: Cláudia Severiano Ribeiro :: Cazuza :: Paulo Leminski :: entre outros 118 participantes ... "

Ou seja: foram preciso 20 anos (20 anos! e parece que 1985 foi ontem...) pra aparecer outro cara disposto a colocar de pé esse projeto. E assim de hoje, quarta-feira, 23 de novembro, até domingo, dia 27, o Circo vai estar fervendo de palavras e poetas de todas as vertentes e escolas.

Eu e Rodrigo estaremos lá no sábado, dia 26, às 19h, ressucitando rapidamente o Te vejo na Laura, com a participação da Elisa Lucinda, dos alunos do Centro de Movimento Deborah Colker dançando poemas contemporâneos, da Fernanda Rowlands reeditando o show "Em dose dupla", mais um vídeo inspirador que eu e Rodrigo fizemos com o Ferreira Gullar chamado "Por acaso Gullar".

Vale a pena dar uma olhada na programação pra não perder nada, porque vão ser cinco dias de deixar saudades...


20.11.05

aniversário


Eu nos primeiros minutos dos 27, sentada na minha poltrona laranja da minha sala, com o meu quadro lindo na parede, pela primeira vez fazendo aniversário na minha casa, feliz, feliz, feliz.

27.10.05

sexta-feira









Nessa nova fase sem projeto próprio estou redescobrindo o prazer de ser convidada: alguém organiza tudo, trabalha o mês todo, e no dia eu vou lá e digo meus poemas, olha que delícia! É claro que só produzir traz o prazer de ver tudo dar certo como se planejou, mas agora está mais do que bom assim...

Sendo assim amanhã, sexta-feira, dia 28/outubro, estarei no Ateliê Performático da Patrícia Carvalho-Oliveira, essa poeta com jeito de pop star aí na foto, que tem um trabalho que eu admiro muito e uma forma de colocar a poesia no palco muito interessante. Vai ser na Urca, na Avenida Pasteur 450, em frente à UniRio, e eu estarei lá bem felizinha com os meus livros debaixo do braço! Apareçam!

26.10.05

Livros Escrita Trabalho
Casa Namorado Corpo

Precisa estar tudo certo e bom pro que eu chamo "vida" estar certo e bom.

E tem horas que não funciona.

Quase sempre sim, mas tem horas que.

Demora mas dói.

Às vezes dá sorte e não dura, dói mas logo pára, e aí eu agradeço e durmo fundo, respirando sem esforço, só sendo devagar.

E o que eu chamo "vida" volta a acontecer.

20.10.05


Nesse sábado tem mais uma noite do "Em dose dupla", show do Rodrigo e da Fernanda. Eles são meus queridos, namorado e melhor amiga, e parceiros de Te vejo na Laura e outros projetos, e é a primeira vez que eu sou só platéia pra vê-los cantar. Adorei a experiência. Nessa fase de fim de Te vejo na Laura, o melhor que pode acontecer é cada um de nós ter seus próprios projetos, e ter os outros na platéia pra dar dicas com um olhar de fora que a gente nunca teve.

Pra ter o gostinho de estar no palco com eles, eu vou dar uma canja lá nesse sábado. Mas comigo ou "sem migo", recomendo o show, que mistura as composições lindas do meu namorado com músicas inusitadas de gente boa como Moska e gente nova como Alan Sommer. É no Espírito das Artes, sempre às 22h30, e custa só R$10,00. As últimas chances são nesse sábado, dia 22, e no próximo, dia 29. Apareçam!

28.9.05

atarefada

Bom, ser contratada por uma editora eu ainda não fui, mas já achei várias possibilidades: esse fim-de-semana teve Primavera dos Livros, um evento super bacana que acontece no Joquéi, aqui no Rio. É uma espécie de Bienal de pequenas e médias editoras, num clima mais aconchegante do que a babel do Riocentro.

A maravilha de tudo (pelo menos pra alguém como eu, à cata de editora) é que eles fazem um catálogo genial com todas as editoras que estão participando. Esse ano foram 88, de todas as partes do Brasil, e lá é possível saber a linha editorial de cada uma, como entrar em contato, quem é o editor chefe, em suma, tudo que é preciso saber pra tentar ser publicado!

Assim sendo, não vou me estender muito aqui porque achei 13 possibilidades de editoras, e agora tenho que escrever pra cada uma delas, preparar o livro e mais um release bacana meu, enfim, arrumar um jeito de me promover pra que elas todas me disputem a tapa!

Vamos ver no que vai dar...

19.9.05

Eu quero uma editora!

Agora que já tenho um computador decente, com memória, veloz, com velox e etc, finalmente posso escolher a cor e a fonte do que escrevo aqui! Nada disso, no entanto, resolve a minha principal questão: tenho um livro novo ficando pronto e quero uma editora pra publicá-lo.

Quero porque quero, que nem criança mimada, que nem menina pedindo presente pro pai.

Quero porque fiz meu primeiro livro sozinha e foi genial mas hoje, de casa "própria" e sem trabalho fixo, não posso investir assim as minhas economias.

Quero porque em dois anos a minha primeira edição de mil livros está quase esgotada mesmo sem editora, sem distribuição e sem assessoria de imprensa, e pro mercado de poesia o número é estimulante.

Porque tenho vendido o livro pra fora do Rio - Minas, São Paulo, Curitiba - mesmo ele não existindo em nenhuma dessas cidades (e viva a internet!), e quero que o meu livro esteja nas livrarias do Brasil, pra se espalhar independente de mim.

Aí pensei: se vendo tanto livro através do mariadapoesia, quem sabe alguém não me propõe uma editora também? São tantas as surpresas desse mundo... Arrisco!

12.9.05

É tempo de novidades mais uma vez.

Subitamente estou trabalhando como diretoracameramaneditoraeetc de um making of, tenho poemas suficientes pra um livro novo, tenho dois quadros novos na casa, um escritório lindo com uma ilha de edição, internet em alta velocidade, e ainda suspiro por um homem delicioso que, assim, de repente, eu já namoro há três anos.

Só uma das coisas novas é mudança ao invés de novidade - que novidade tem que ser boa e essa não é muito. Depois de três anos deliciosos de muita ralação e muito prazer, o Te vejo na Laura, meu projeto com o Rodrigo, vai morrer mês que vem. Meio de morte morrida, meio de morte matada. O prazer diminuiu, o retorno também, e a gente acha que é tempo de abrir espaço pra novos desafios: um show do Rodrigo com uma banda bacana, meu espetáculo de poesia, uma editora pro livro.

Enfim, é uma morte muito da anunciada porque a gente quer todo mundo lá pra festejar as alegrias desses anos: vai ser dia 3 de outubro, às 20h30, lá na Laura Alvim, que foi nossa casa esse tempo todo. Vamos ter vários dos artistas que passaram pelo nosso palco e contamos com o público fiel pra esse enterro sem lágrimas...

E como eu ando muito prosaica e pouco poética, fica um poema pra acabar:


Escrevo porque estou viva
Escrevo porque é preciso
Pra acordar, pra estar despida
Porque o mundo não é só isso que acontece aqui em cima

Escrevo porque não vivo
Escrevo porque preciso
Dessa droga, esse colírio
Escrevo pra pôr delírio
Em tudo que é preto-e-branco

Escrevo pra estar viva
Escrevo porque aqui minto
As belezas que não tenho
E as coragens que persigo
Escrevo porque assim finjo

Escrevo contra as burrices
Contra os medos que hoje sinto
Escrevo a favor do sonho
Escrevo pra estar livre.
Escrevo quando consigo.

ps: a poesia tem me dado prazeres surpreendentes essa semana: emails carinhosos, comentários bons, e agora uma nota virtual sobre o meu trabalho no blog "No front do Rio", do Cesar Tartaglia, no Globo Online. Passem pra lá pra ver que onda! http://oglobo.globo.com/online/blogs/frontdorio/default.asp

22.8.05

"fala um poema pra titia, minha filha"

Eu sempre fui exibida. Sempre. Desde pequena adorava o teatrinho de fim de ano do colégio, dava cambalhotas na sala pras visitas, mostrava meus desenhos mirabolantes, enfim, sempre gostei de uma platéia. Quando comecei a escrever poemas pra valer, já adulta, não titubeava quando a mãe ou a avó corujas pediam um poema na noite de natal, um poema pra amiga que mora em São Paulo e está de visita, um poema aqui, outro ali. Eu fazia um ar tímido mas adorava: exibida como na infância.

Quando comecei a dizer versos em público a coisa começou a mudar. Fui ficando mais exigente com as platéias, querendo mais quantidade e mais qualidade, além de uns refletores e um microfone pra completar. Mas principalmente fui ficando cansada de dizer poemas, vendo eles um pouco mais como trabalho e eu detesto trabalhar nas horas de descanso!

Mas nesse sábado foi diferente (e eu posso dizer sem medo porque a mãe e a avó não passeiam por aqui). Era uma festa vespertina de aniversário, e era festa da Regina Zappa, que além de jornalista e minha ex-chefe é, pra meu orgulho e prazer, também minha amiga. Tudo corria normalmente, até que lá pelas tantas a Regina pede: "Maria, fala uns poemas pra gente?". Ó céus! Eu tinha trabalhado o dia todo, estava exausta e desinspirada, mas pedido de aniversariante a gente não nega, né? Então fui, fiquei de pé no meio da sala, as pessoas foram ficando quieta e eu desencavando a exibida que mora em mim, e lá foram indo os poemas, um, dois, quatro, cinco poemas, e no final eu já estava animada, inspirada, exibida e feliz da vida!

Só depois me dei conta de que a platéia era das melhores, escritores, jornalistas, gente interessante e pra minha surpresa muito interessada, todos querendo livros e querendo saber mais da minha poesia e de mim. Foi um privilégio ouvir o Eric Nepomuceno elogiando o encadeamento de palavras de um dos versos, e o Alcione Araújo entusiasmado com a minha voz de mulher contemporânea, além do Jojoi, filho de 16 anos da Regina, com os olhos atentos me ouvindo falar.

A exibida aqui teve uma tarde deliciosa e muito da proveitosa, e agora vou até dar uma colher de chá pra mãe e pra avó na próxima "ah, minha filha, um versinho só pra Alcinda, fala?".

11.8.05

americalatinizada

Esses dias li uma entrevista do Eduardo Galeano em que ele dizia que a América Latina vai ganhar força o dia em que o espanhol ficar familiar aqui e o português se espalhar pelos países vizinhos. Ele seguia dizendo que é uma loucura que escritores tão fundamentais de cada país não sejam conhecidos nos outros, que eles não saibam quem é Drummond, Guimarães Rosa, Ferreira Gullar ou Machado de Assis, e a gente não saiba quem são esses caras do lado de lá (e eu nem posso dar exemplos porque vergonhosamente não sei mesmo!).

Quando estive na Argentina ano passado pedi pra um amigo de lá me indicar os poetas que ele curtia, os mais representativos da poesia contemporânea deles. Comprei uma pilha de livros lindos, super bem editados, e confesso que sofri um pouco ao descobrir que ler poesia em espanhol não é tão simples quanto pedir uma comida ou bater papo com o motorista de taxi. O resumo da ópera é que eu não consegui ler nenhum.

Esse ano voltei lá e comprei um livro de contos, e pra minha surpresa a leitura fluiu leve, e na volta resolvi tentar de novo os poetas, e dessa vez deu certo!

Então compartilho o meu pouco conhecimento de literatura argentina, com uns versos da Alexandra Pizarnik, uma poeta super conceituada lá que morreu super jovem e me parece ser uma espécie de Ana Cristina Cesar deles. É poesia forte, até pesada, nada do estereótipo "escrita de mulher". A tradução, super livre, é minha mesmo.

O medo

No eco das minhas mortes
ainda há medo.
Você sabe do medo?
Sei do medo quando digo meu nome.
É o medo,
o medo de guarda-chuva preto
escondendo ratas no meu sangue,
ou o medo com lábios mortos
bebendo meus desejos.
Sim. No eco das minhas mortes
ainda há medo.


A carência

Eu não sei de pássaros,
não conheço a história do fogo.
Mas acho que a minha solidão devia ter asas.

19.7.05

no papel e aqui

Então ontem foi lançada a antologia de poesia República dos Poetas, edição do Museu da República organizada pelo Ricardo Ruiz. O livro reúne poetas de várias gerações, cariocas ou não, sediados no Rio, e traz um panorama bem abrangente da poesia que acontece na cidade hoje. Tem performáticos e literatos, modernos e tradicionais, poemas curtos ou extensos, tem pra todos os gostos!

Eu estou lá com dois poemas inéditos, e fico feliz porque estou tão lenta na produção do meu segundo livro mas esse ano é a segunda vez que tenho poemas publicados em antologias bacanas, então minha poesia nova está andando não só na minha voz mas também no papel por aí.

O Rodrigo Bittencourt, meu namorado, parceiro de projetos e artista multi, estréia no papel nessa antologia, apesar de ter dois livros de poemas e dois romances já prontos! Mas ver os poemas impressos, preto no branco, com capa e tudo mais, foi a primeira vez e foi gostoso!

Enfim, foi um lançamento bacana, com recitais e tudo mais a que se tem direito, e agora o livro está na praça, pra quem gosta de poesia é um passeio interessante.

Aproveito pra deixar um dos poemas que sairam lá, que eu sei que ando negligenciando a postagem de poemas aqui...

“a saudade é uma espécie de velhice”
(Guimarães Rosa)

Um medo como nunca houve
Medo que nunca se soube
E o calor seco no escuro
Socando o peito aos pouquinhos
Soluços a escorregar

Noite vira dia
Cama inunda a casa
Sol morena o corpo
E o medo segue a rondar

O medo e seus precipícios
O medo e seus edifícios
Torres pontes muros altos
O mundo a desmoronar

O amor beija o medo nos olhos
Põe no colo, nina, cuida
E o medo se vira em quase
Mão dada abraço carinho
O medo quase certeza
Quase não medo, quase amor

O amor sussurra as palavras
O medo – ostra – as engole
O amor aquieta os sentidos
E o medo a envenenar

Com sua espada de fogo
Com sua lança afiada
Sua língua de serpente
O osso duro dos dentes

É uma espécie de velhice
É divisor incomum
Ameaça, dedo em riste
É dois virado em um

É tudo que nega, afasta
Medo senhor do universo
É anti-felicidade
Porta fechada, deserto.

29.6.05

portunhol

O meu está afiadíssimo e garanto que funciona: foi uma semana em Buenos Aires pedindo "la cuenta" e agradecendo com "gracias" e recomendo com veemência e ardor!

Buenos Aires é uma delícia, e anda barato pra gente com esse dólar subitamente mais baixo. Você anda de táxi daqui a China por 15 pesos, almoça deliciosamente por mais 15, vê os grandes pintores da Europa no Museu de Belas Artes e vê os latino-americanos (os conhecidos e os ainda não) no MALBA... De quebra sente um frio que no Rio não tem nem cheiro, e se pergunta onde está a crise argentina, onde está a pobreza e a miséria, porque não se vê um mendigo na rua, lixo nenhum, nada de susto nem de andar olhando pros lados. Pra não dizer que parece a Suíça, tem umas poucas crianças pedindo moedas e, pasmem, uns meninos jogando bolinha no sinal das grandes avenidas. Isso me deixou boba: será que começou lá ou aqui? Será que alguém importou a coisa? Ou meninos pobres de lá e de cá pensaram nisso ao mesmo tempo?! Muito doido...

Mas foi uma semana incrível, linda e deliciosa. Ficamos num albergue muito simpático, Casa Esmeralda, Honduras com Bonpland (lá os endereços funcionam sempre com cruzamentos, e os taxis te deixam na esquina, e não na porta do lugar, muito engraçado!). Nos instalamos num quartinho modestíssimo que serviu pra aprender que quando se está feliz quarto mínimo vira aconchegante e pouca grana vira barato, aprendendo a comer com 10 pesos e andando a pé pra todo lado, namorando o namorado três anos depois como se fosse o terceiro mês, a felicidade passeando com a gente pelos lugares. Eu recomendo, estimulo e dou dicas, quem quiser é só pedir!

13.6.05

das coisas difíceis

Essa página do blogger que abre na internet da minha casa é uma: não aceita certos acentos, não me deixa escolher fonte, cor, nada...

Outras coisas são mais difíceis: ficar doente uma semana antes da viagem planejada e marcada, ver que não vai passar assim tão rápido, ter que adiar, lidar com as frustrações. Buenos Aires era ontem, e agora é quarta-feira, mas talvez nem aí seja. Ando sentindo coisas novas e doídas, dor nas costas, na bunda, estranhamentos vários. Primeira vez que estou doente e desconfortável desde que vim morar sozinha e é uma novidade difícil essa, tem sido bem dificilzinha...

Hoje estou bem melhor, tive visita de amiga querida e um papo na rede ajuda a cabeça a ajudar o corpo a melhorar. Estou tentando ser adulta do meu jeito, me cuidar e pedir ajuda na medida em que preciso, e adianta de um jeito tão lento que parece que nem vai adiantar.

Uma semana em casa e nenhum poema e nenhum verso e nada lido nem visto valha a pena, corpo e cabeça pedindo arrego! Ontem comecei um bom livro, que vai me ajudar na sanidade mental e ela vai ajudar a sanidade do resto, e se tudo correr bem em breve estarei toda boa.

E desculpem o desabafo, ainda mais depois de tanto sumiço, mas fazer o quê? Aqui atrás dessas palavras mora uma gente bem gente e esses dias não têm sido dos mais fáceis...

9.5.05

as próximas

O sumiço dessa vez tem razão irritante: me animei a escrever o primeiro post da minha casa nova, no laptop que anda mal das pernas, e depois de tudo pronto é claro que tudo desapareceu num piscar de olhos... Acho que a minha casa não é muito tecnológica, ou tem ciúme de me ver computadorizando ao invés de cozinhar ou ler no sofá da sala...

De todo modo insisto (mas não mais de casa, que os raios caem sim várias vezes no mesmo lugar). Então venho dar notícias boas: nessa quinta começa a Bienal, e eu vou estar lá duas vezes. Tinha me prometido não ir mais a Bienais, onde se anda muito, se gasta muito, muita transpiração e pouca inspiração, eu achava. Mas sendo convidada a coisa muda muito de figura, não é, e eu achei chiquérrimo e disse sim, sim, duas vezes sim!

Acontece que esse ano estréia um espaço novo na Bienal chamado Jirau de Poesia, onde o poeta e jornalista Claufe Rodrigues vai entrevistar todo dia 4 ou 5 poetas de linhas e gerações diferentes, e em seguida rolam várias rodadas de poesia dita. No dia 18 às 18h estaremos lá eu, Elisa Lucinda, Mano Melo, Bartolomeu de Campos Queiroz e Alcir Pimenta. O Jirau acontece no Espaço Waly Salomão, que fica no Pavilhão Vermelho, e quem não tiver a preguiça que eu tinha apareça que o negócio promete ser bom! Depois vai ter venda de livros e eu espero me livrar de mais uns bons exemplares do substantivo feminino, que aliás caminha a passos largos pra esgotar...

O segundo sim veio pra um amigo, o Janderson, que escreveu um livro chamado Angústias de um gay urbano e vai lança-lo no dia 22 lá na Bienal. Ele me chamou pra dizer uns poemas pra animar a tarde de autógrafos dele, então no domingo, último dia de Bienal, estaremos lá às 16h, ele autografando e eu falando, no estande da OR Editor, no Pavilhão Vermelho, estande 89.

E essas são as próximas atrações - por enquanto, que a vida anda cheia de surpresas... Uma boa foi descobrir que o Eduardo Graça, jornalista com o melhor texto que eu conheço e amigo mais do que querido, recomendou esse blog e eu todinha no site da ABI, Associação Brasileira de Imprensa (entrar em Revista ABI e lá na sessão Jornalistas Recomendam). Eu adorei ser recomendada e sem nenhum medo de parecer que é puro revide recomendo ele: o Edu tem um blog ótimo com textos escritos diretamente de NY, o olhar afiado de um brasileiro sobre os últimos acontecimentos de lá e de cá.

E com isso me despeço!

26.4.05

Santa Cultura

Ando sumida, que a vida real anda me roubando da virtual e ainda bem porque é preciso ter assunto, certo? Então agora tenho muito! (risos)

Nessa quinta, dia 28 de abril, vai rolar mais uma edição do Santa Cultura, projeto que eu e Rodrigo fazemos no Santa Marta unindo artistas de lá com outros de fora da comunidade. Nessa quinta tem Paulinho Moska e um grupo instrumental de lá, Esboçando a Bossa, além do primeiríssimo curta do meu pai, Sergio Rezende, chamado Pra não dizer que não competi. Vai ser no teatro do IBAM, no Humaitá, às 19h30, e a entrada é franca, portanto cheguem cedo!

Beijos e queijos!

9.4.05

formiguinha

A vida poética anda se animando, algumas publicações de poemas inéditos, o Te vejo na Laura voltando pra Casa de Cultura Laura Alvim, eu pensando num livro novo pra esse ano, vendendo uns substantivos femininos por aí, e fico feliz de sentir que embora eu gerencie minha vida de poeta muito "a la doida", minha crença de que as pequenas coisas levam a outras maiores e etc e tal se confirma a cada dia.

Agora foi um convite pra falar meus poemas na Bienal. Recebi o telefonema, fiquei toda boba e pensei: de onde essa pessoa me conhece, gente? Pois era de uma homenagem à Elisa Lucinda na qual eu fui dizer poemas, e a moça que organiza o Jirau de poesia da Bienal me viu e pimba: convite!

Resumindo: trabalho de formiguinha funciona. E eu a-d-o-r-o isso!

1.3.05

inéditos

Pois a revista saiu, e foi absolutamente genial, porque na verdade é quase que um livro, lindo e bem cuidado, com inéditos de vários poetas bacanas, novos e consagrados, e o luxo supremo foi que meu nome veio na capa junto com o do Arnaldo Antunes, da Ana Cristina Cesar, do ledo Ivo... Fiquei bem feliz!

No meio da felicidade me animei a rever meus poemas pra começar a pensar num segundo livro, e fiquei surpresa de ver que apesar da minha descrença na minha recente produção tenho alguns poemas bem bons, e isso me fez escrever outros, e acho que finalmente a meta número um do ano - escrever, escrever, escrever mais - está começando a acontecer!

E como há muito tempo eu não posto poemas, aí vai um dos que saíram na Poesia Sempre.

****

No meio dos meus peitos mora o filho que eu vou ter.

O buraco que tem lá foi feito por ele em mim muito antes de chegar.
Desse buraco eu nasci.

Quando ele aparecer pra mulher que eu me tornei
é nesse buraco antigo,
bem no meio dos meus peitos,
que ele vai se encaixar.

Esse filho que vai vir faz meus dentes mais macios e ilumina o meu olhar.

Lá no fundo do buraco,
ocupando aquele espaço,
estão minhas dádivas mais raras:
as doçuras que eu cultivo,
minhas melhores palavras,
esperança armazenada esperando ele chegar.

O dia em que ele vier ocupar minha barriga
é nesse sonho vivido que ele vai se aconchegar,
até que meus peitos inchados jorrem no seu corpo novo
todo o leite abençoado que vai nos alimentar.

Desse instante eu vou viver.

21.2.05

Biblioteca Nacional

Na quarta-feira, dia 23 de fevereiro, vai ser lançada na Biblioteca Nacional a revista Poesia Sempre, uma edição especial em homenagem ao Augusto de Campos. Além de ensaios e materias sobre e com ele, a revista traz poeas inéditos de poetas variados, entre eles alguns meus. Não sei se é um ou mais de um, se adianta alguma coisa, mas gostei da idéia de dividir páginas com o Augusto de Campos, que eu conheço mais pela crítica musical do que pela poesia (confesso) mas é inegavelmente um cara fundamental na movimentação da cultura brasileira.

Então o lançamento é no Espaço Eliseu Visconti da Biblioteca Nacional, no dia 23 de fevereiro, às 18h30. Eu vou estar lá, com um livro embaixo do braço pra tentar dar pro Augusto, apesar de achar que a minha poesia não é bem a praia dele, mas apesar do medinho vale a pena tentar! E assim, a passos lentos, as coisas andam...

18.2.05

no mercado

Engraçado: eu até pedi, mas acho que a gente nunca espera um tomate assim, súbito, no meio da rua. Crítica pra mim sempre é difícil, e adoro superar essa dificuldade quando sei que quem critica é bacana, inteligente, gente que eu admiro e respeito. Nada fácil ouvir meu namorado multitalentoso dizer que meus poemas continuam falando de amor, e o resto do mundo, cadê? Nada fácil ouvir da Elisa Lucinda, minha mestra, que talvez não fosse ainda hora de lançar meu livro quando eu o fiz, em 2003. Mas absolutamente compensador porque eles têm pra mim um olhar amoroso me fazem pensar e rever conceitos e tentar mais e melhor, e crítica assim é quase um carinho.

Muito diferente da "Cristina", por exemplo, que passou por aqui e me deixou uma mensagem nada simpática nos comments do post abaixo. Não gostei da crítica porque ela é raivosa mas principalmente porque é anônima, não tem email de contato, nem site, nem nada, então pra mim chega fraca, com cheiro de coisa mal curada. Não sei se Cristina existe, se chama Cristina, sei que sabe de mim porque cita meus pais, de quem acho que nunca falei aqui. Eles trabalham com cinema, daí sua suposta "influência". E já que falo deles, digo mais: na área dos dois, eles não são "influentes" não: são influentes mesmo, sem aspas e com o orgulho de 25 anos de trabalho e muitos filmes nas costas. Na minha vida, são influentes demais também, porque me educaram com amor e muita ética, influência fundamental, eu diria.

Acho um pouco bobo ficar respondendo crítica aqui, mas é que essa coisa me fez pensar em como é engraçada a vida. Eu doida pra fazer a minha vida andar bacana, trabalhando feito louca em mil e um projetos, tentando cuidar de ser independente e poeta e mulher bonita e amorosa e saudável e pagar as contas e tantas coisas, e alguém acha que eu estou com o pé fora do chão, me sentindo uma estrela! Eu que não subo num palco há mais de dois meses, e me penitencio pensando que as pessoas vão esquecer que eu existo e ainda tenho tantos livros pra vender, sou surpreendida pela confirmação do contrário, pois se "Cristina" ainda se lembra e pára aqui pra me criticar, é sinal de que estou no mercado. É, até que valeu a pena essa crítica...

20.1.05

leitores!

Pois não é que o ano novo trouxe mesmo muitas mudanças? Agora eu tenho leitores! Quer dizer, o blog tem leitores, porque em livro eu tenho tido bastantes pras perspectivas iniciais...
Mas então o blog agora tem leitores que deixam recados, e os recados estão ficando animados: antes era sempre gente elogiando, amigos ou desconhecidos dando uma força. Agora não: gente sugerindo que eu me suicide, outros querendo começar um romance pra logo depois desancar comigo feito moços grossos em boate (linda, maravilhosa, vem cá - daí você nega - horrorosa, baranga, vadia...). Estou adorando, e feliz demais de saber que tem gente me achando nesses caminhos tortuosos da internet!

E aproveito pra comentar o comentário sugerindo que liberdade mesmo só se suicidando. Ia discordar mas talvez seja mesmo verdade, e então concluo que não quero liberdade absoluta não: quero a liberdade de estar viva, porque a minha primeira e primordial escolha é essa, viver. E é só dentro disso que quero ser livre, e dentro disso espero conseguir, e obrigada pelos votos de boa sorte!

Mudando de assunto, tem poema meu num site super bacana feito por mineiros interessantes, o Patife. A Ana Elisa Ribeiro, uma poeta e agitadora de BH, organizou um especial chamado Harém, só com mulheres do Brasil inteiro, poesia e prosa da melhor qualidade, e eu estou lá entre elas! Vale a pena dar um pulo lá pra ler as moças e conhecer o trabalho desse pessoal que usa a internet com qualidade e novidade.

E espero mais comentários, tomates e flores, venham todos!

13.1.05

liberdade

Meu ano novo - que começou com a minha mudança em 1o de dezembro e não no dia em que os fogos explodiram sob uma onda de fumaça em copacabana - veio cheio de mudanças e desejos de mais delas. Escrevi sobre isso no post aí de baixo. E olhando com calma vejo que a tônica de todas elas, e de tudo que eu quero e desejo agora, é liberdade e independência. Menos seriedade. Mais prazer.

Aí achei curioso entrar agora no blog e ver um comentário sobre esse post me perguntando se eu estou solteira. Porque eu não estou solteira, nem um pouco, e nem quero, nem um pouco. Continuo namorando e feliz, e dentre as mudanças desejadas não ser mais a namorada do Rodrigo está longe da lista. Gosto de namorar, de ser namorada, de ter namorado, de namoro, gosto de compromisso e de estabilidade, quero casar e ter filhos e ficar velhinha com ele do lado, ficar louca com ele e continuar louca por ele, quero quero quero e gosto.

E é engraçado como o desejo súbito e impetuoso de mais liberdade, de mais deriva, sempre parece pra quem está de fora um desejo de solteirice, como se as coisas fossem incompatíveis e não se pudesse ser livre e ser casal ao mesmo tempo. Pois pode, e quer saber? Deve! Porque senão qual é a graça?

ps: e já que falei nele aqui depois de tanto tempo, e já que acho ele o melhor compositor de todas as redondezas, aproveito pra espalhar: quem quiser conhecer o trabalho do moço passa
aqui ó.

7.1.05

Agora

Então é janeiro e eu quero ser uma jovem de 26 anos no verão carioca, além de ser uma jovem trabalhadeira que acorda às 7h e passa o dia atribulada com montagem, produção e tarefas do lar.

Porque é tempo de mudança e independência, e desejo de estar à deriva, e por isso parei ontem a terapia que já vinha comigo há quase três anos, e a falta de medo de andar sozinha tem me feito bem demais.

Agora quero estar mais solta, pintar as pontas do cabelo de rosa, andar a pé por botafogo e comer o que dá vontade na hora que dá fome na minha casa só minha, usar saias mais curtas e ir mais à praia, voltar a ver os amigos que eu andei negligenciando, e escrever mais, escrever mais, escrever muito mais, aqui, no papel, pra ser livro, pra ser desabafo, pra ser desejo azul em caderno pautado, em verso, em prosa, de madrugada ou à tarde, com música ou silêncio, no quarto, na sala, no escritório, na sala de tv, na cozinha, no banheiro, em qualquer das varandas ou na área de serviço, pela casa ou pela rua, escrever, escrever, escrever. E viver muito, pra ter assunto.

E assim começa 2005.