24.5.11

Tô fora

"HÁ MUITAS FORMAS DE TORTURA

inclusive a auto-tortura, que enlouquece e vitimiza. Como diz meu amigo Marcus Linari: "não é só você que se fode nessa vida". Então arrastar correntes pode até ser inevitável por um tempo, mas tentar soltar-se delas é um direito/dever de todo mundo. Sair andando, sabe? Trocar de preocupação, trocar a roupa de cama, trocar de casaco e sair para a rua. Bem, fiquei pensando se citava ou não essa frase já tão batida, mas depois lembrei-me de que este blog é meu, então escrevo o que quiser. Portanto, vamos lá: "Eu nunca vi nada selvagem sentir pena de si mesmo." (D.H. Lawrence)"

(disse a Fernanda D'Umbra lá no sempre bom Sem Gelo, e eu agradeço o toque)

22.5.11

De onde veio o verso do caderninho

Sei que uma só palavra sua me salva, mas hesito.

Sei que a vida podia ser mais fácil, mas evito.

E sei que eu e você, esse prédio às vezes alto,
é às vezes também bambo,
sei disso mas insisto.

Porque sei que a vida é curva e tem segredos no caminho.

Porque os dias somam anos e é bonito ser sozinho,
mas às vezes cansa.

Pra que dessa vez sejam os pés, e não a música, que façam a dança.

(A pedido da Beta, o poema completo do qual saiu o verso pro caderninho ali de baixo)

19.5.11

Pra escrever em mim


A Prazer de Escrever é uma idéia linda da Helena Rezende, minha tia querida e muito da sensível. São caixas de cartões e cadernos e calendários juntando lindas imagens com versos de poetas incríveis. Fiquei muito da alegrinha quando ela fez esse caderninho usando um verso meu, e me colocou nessa seleção afiadíssima de poetas de língua portuguesa! Mais legal ainda foi saber que o bichinho é campeão de audiência, e esgota sempre que ela reimprime!

Quer escrever em mim? Encomenda um!

17.5.11

A estréia em imagens



Lindas & poéticas fotos do Miguel Baierle,
a quem eu agradeço por me ofertar tanta beleza inusitada
que eu nem sabia que estava naquele palco.









Drummond pra domir bem

ASPECTOS DE UMA CASA
(Carlos Drummond de Andrade)

CRIAÇÃO

A casa de Maria é alta e clara.
Não a projetam arquitetos,
construtores não a fazem.
O traço no papel
o concreto, o aço dos volumes
são circunstâncias alheias
à criação.
Maria cria sua casa
como o pássaro cria seu voo
clarialto.

No vazio das peças
móveis quadros tapetes
são o pensamento de Maria
esboçando linhas cambiantes
até fixar-se na ordem imprescritível.
Objetos deixam-se moldar
com amiga docilidade.
Ajudemos Maria (dizem eles
no dizer sem nome dos objetos)
a compor sua casa como de um baralho de sons
se compõe a estrutura musical.

Sobre a cidade,
sobre a fuligem das horas perdidas
e a angústia dos subterrâneos transpostos,
a casa é o rosto de Maria
à luz reencontrado.


O QUARTO DE MARIA

Toda a casa aqui se resume:
a ideia torna-se perfume.

14.5.11

Lado A? Lado B?

Uma amiga querida me disse esses dias que eu tenho dupla personalidade, e que elas tem partes opostas, e eu respondi: ainda bem - é o que me salva!

Metade do meu trabalho são imagens&máquinas, a outra metade são palavras&sentimentos. Lembro que quando eu comecei a dizer poemas e depois a escrever, teve um momento em que pensei sobre o futuro, pensei se gostaria de tentar o difícil mas possível caminho de viver de poesia, como fazia e faz a minha mestra Elisa Lucinda. Pensei e decidi que não, e nem foi porque era difícil.

É que eu gosto que a poesia na minha vida seja o recreio, sabe? E ganhar dinheiro com ela colocaria uma pressão inevitável nesse processo, e eu não quis isso e sou feliz com essa escolha. Principalmente porque eu tenho a sorte de que a minha profissão, a que paga as minhas contas e me ocupa a maior parte dos dias, seja também criativa e prazerosa.

Ser montadora rolou por acaso, numa família de cineastas em que eu já tinha desistido dos sets de filmagem, e combinou perfeitamente com o meu jeito. Alguém tem uma idéia, corre atrás, rala 12h por dia no caos-maravilha de um set de filmagem, e depois eu recebo imagens pra juntar que nem quebra-cabeça aqui no quietinho da ilha.

O sonho é montar longas, e me aproximo cada vez mais dele quando monto ficções bacanas. Foi assim com o Natália, série dramática linda dirigida pelo André Pellenz que estreou esse mês na TV Brasil, e passa todo domingo 22h30. E agora é a vez de Cara Metade, comédia deliciosa dirigida pela minha irmã, Julia Rezende, que estréia hoje 22h no Multishow.

Estar no ar aos sábados&domingos, tv fechada&aberta, comédia&drama, pelas próximas muitas semanas: a vida sabe ser boa!

Cara Metade - promo from maria rezende on Vimeo.

10.5.11

O risco, agora pra valer


"Fui buscar os chuchus e estou voltando agora, trinta anos depois", diz a Dona Doida da Adélia. Eu fui ali palco do Ocidente e estou voltando agora, quatro noites depois.

Foi uma vertigem, foi um susto, queda livre, um descontrole.
Foi intensivão de aprender a errar, com aula de humildade de brinde.
Teve aplauso, teve silêncio, teve beleza e medo, timidez e a maior exposição que eu já vivi.

A tarde foi de preparativos, com a ajuda da mais nova querida amiga gaúcha, Natália Chaves Bandeira. Eu e Nat penduramos em cabides as várias peças de roupa branca sobre as quais eu inventei de projetar o vídeo, e penduramos esses cabides em fios de nylon gigantes com a ajuda do Mig, e essa brincadeira engoliu metade da tarde.

Depois teve teste de som, de projeção, invenções de cenário, a descoberta de que eu teria que usar um microfone e caramba, como fazer as ações que eu planejei com uma das mãos ocupadas? Teve ensaio silencioso dos poemas, da ordem dos fatores, ajustes nos vídeos, e de repente já era hora de vestir o figurino e de repente a casa abriu e o Fernando Ramos disse "Você vai ser a primeira, tá pronta?", "Claro que não, não tinha quatro pessoas antes de mim?!", "Elas não chegaram, você vai ser a primeira, não precisa correr, se apronta".

Pra quem vem de anos de segurança absoluta, decide o repertório de poemas minutos antes de subir no palco, e escolhe a roupa que vai usar na hora de sair de casa, foi um espanto quão alto meu coração era capaz de bater, e como eu podia de repente ter dez anos e um medo enorme de errar e uma vontade louca de desistir.

E era possível desistir de muita coisa. Ninguém sabia o que eu ia fazer, então pra que usar o figurino que seria lentamente descomposto pra me deixar só com a linda combinação que a querida Mel Akerman me emprestou? Era possível esquecer o conceito da mulher que chega em casa tarde da noite e vai se despindo de roupas e sentimentos, pra no final se vestir de novo e ir pro mundo nos braços da esperança. Era possível, mas seria nivelar por baixo, e eu demorei tanto pra chegar ali, naquele banheiro de bar, com aquela malinha de roupas em cima da privada, que eu não ia deixar por menos.

Subi no palco semi desfalecida, subi no palco como se não tivesse a menor idéia de pra onde ir depois, do que fazer ali. Foram vinte minutos suspensos no ar. Muita coisa funcionou mais do que eu imaginava, outras me deram rasteiras que eu não esperava. Conheci pessoalmente a minha falta de preparo pra cena, inversamente proporcional à minha destreza dizendo meus versos. Tenho muito o que aprender, o espetáculo tem muito o que mudar, e isso me assusta e me seduz, me encanta me deixando em suspense.

Recebi muitos aplausos e abraços carinhosos, de gente conhecida e desconhecida. Ouvi elogios pela beleza de uns poemas, pelo encanto de uns vídeos, pela força da minha presença. Ouvi críticas ótimas, eu que sempre disse que não se critica alguém que acaba de sair do palco fui criticada assim e gostei, e fiquei boba com a minha capacidade de gostar e pedir mais. Ouvi da Letícia Bertagna, minha amiga querida artista plástica e performer e atriz. Ouvi da Cris Cubas, do Cabaré do Verbo, performer e co-produtora da FestiPoa. Ouvi do Miguel Baierle, namorado dela e fotógrafo do evento. Ouvi do Fernando Ramos, meu agente literário internacional e organizador dessa festa deliciosa, o grande responsável por eu estar ali falando e ouvindo tanta gente.

Tudo isso foi logo em seguida, mas a verdade é que só hoje, terça-feira à noite, só agora eu tô descendo daquele palco. Só hoje consegui ver o vídeo que a Nat gravou com a minha camerinha, e gostei de me ver ali, mais nua do que aquele pano cor da pele demonstra.

Ah, então é assim se arriscar?
Ah tá, entendi.
Digo e repito há anos esse poema mas agora entendi no corpo, fiquei transparente, vazada, tela em branco, folha solta no ar.
Foi bom e foi ruim, desconfortável e lindo, emocionante, frustrante, intenso pra caralho.
Era a minha estréia e eu fui.
Não faltei não.
Deu vontade.
Mas não.
Então o risco é assim.
Venha, meu filho, que eu te dou colo.
Venha me tirar do chão.

6.5.11

É hoje!


Acordar em dia de estréia é muito doido. Uma lista de tarefas à frente e mil pensamentos e possibilidades na cabeça. Acordar assim num quarto de hotel é pra mim totalmente novo, e curiosamente gostoso. Faz sol agora em Porto Alegre, embora o site de previsão do tempo diga que lá fora está 14 graus. Confesso que ainda não abri o vidro da janela, mas meus planos de sair de vestidinho e sandálias podem estar seriamente comprometidos.

Às 12h30 vou dar uma entrevista na TVE daqui, ao vivo, num programa chamado Estação Cultural. Às 18h dou outra pelo telefone pra uma rádio. Ah ser estrangeiro, como é bom... Na verdade esses contatos vieram do André Pellenz, diretor do "Natália", série linda que eu montei e que estreou domingo passado na TV Brasil e em várias TVs Educativas pelo Brasil. Então hoje na tv e no rádio eu sou a poeta que estréia um espetáculo essa noite e a montadora da série que está em cartaz na tv. Parece um bom currículo pra uma sexta-feira de maio.

A tarde vai ser de descobertas: quantas das minhas idéias pro espetáculo dessa noite vão funcionar no Ocidente? Quanto do trabalho que eu venho fazendo com direção da Ana Kutner vai ser possível aproveitar? Vai dar pra usar o lindo figurino que a Mel Akerman me ajudou a bolar? Que adaptações vou ter que fazer? Nada está definido e pela primeira vez em muito tempo isso não me assusta. Meus poemas funcionam sem maiores aparatos - ontem disse uns no palco do Quintana's Bar, na Casa de Cultura Mario Quintana, e de novo os gaúchos me pegaram pela mão e me botaram no colo com aplausos e abraços e palavras entusiasmadas - os poemas têm vida própria e as outras coisas vêm só somar. Quero tudo, poemas, vídeos, cenário, figurino, mas não preciso de nada mais que palavras, e isso sim é um conforto.




5.5.11

Porto Alegre


Fazendo a mala de roupas&cenário&figurino&livros no calorzinho carioca, 15°.
A caminho do aeroporto, 23°.
Chegando na Festipoa 2011 no lançamento do livro novo do Marona, no Quintana's Bar, 13°.
Dando entrevista ao vivo pra TVE RS amanhã 12h30 no programa Estação Cultura, 23°.
Subindo no palco do OX pra estréia do Bendita Palavra amanhã 20h30: 0° ou 40°- nenhum meio-termo será possível então.

1.5.11

Finalmentes!


Fechando o roteiro e os vídeos/cenários da primeiríssima apresentação do que será o espetáculo Bendita Palavra, 6a que vem, dia 6 de maio, no Espaço OX, em Porto Alegre, dentro da programação da super Festipoa Literária.

A programação completa tá no site deles, junto com várias entrevistas e informações bacanas de todo mundo que está participando. Começou essa semana e só acaba domingo que vem, caiam dentro que a coisa ferve!