25.6.04

nem tudo são flores

Porque hoje é sexta-feira e eu acordo cedo pra ir à terapia e às 9h da manhã passo pela Princesa Isabel, em Copacabana, e no sinal tem um trio de meninos que fazem balabarismo com bolas amarelas, um em cima do outro, uma pirâmide sorridente e descalça, e todo o bem da terapia quase vai por água abaixo dentro do meu carro condicionado e subitamente ostentador.

"Criança de rua sem circo na praça quinze.

Criança malabarista de sinal,
de bola de tênis voando baixo,
rolando longe no asfalto molhado,
na poça vermelha do sinal fechado.

Criança dessa tem o circo é dentro dela:
é trapezista saltando no ar sem rede de proteção;
é palhaço de si, rindo do que não há,
fingindo ser ensaiada a puxada de cadeira que a derruba,
a tinta na cara feito máscara que a torne personagem
e só assim capaz de suportar esse número.

Criança dessa é bailarina sem roupa nem sombrinha
se equilibrando descalça na linha fina demais da vida,
o leão solto da jaula pronto pra dar o bote
e ela mágico sem cartola de onde tirar o truque derradeiro que a salve.
Pula o leão, vai-se a criança engolida numa só bocada.

De pé, o respeitável público aplaude e come amendoim."

21.6.04

Reconhecimento & glamour


Muito trabalho, muito desgaste, muito suor e algumas brigas depois, o casal tem sua recompensa: essa é uma foto de making of da nossa sessão de fotos pra Revista Trip, que está fazendo um editorial de moda pra edição de julho cujo tema é novos talentos cariocas e chamou a gente pra fotografar. Finalmente um pouco de glamour na vida! Bom, fora a coluna que quase quebrou pra ficar nas poses incríveis que o fotógrafo pediu, foi um luxo absoluto. Um monte de gente bacana e um reconhecimento que a gente busca há um tempo, e que agora começa a vir. Tenho certeza de que as fotos que o Murilo, fotógrafo, tirou vão sair lindas, mas essa do Leo da moda eu achei genial, que eu adoro esses desfocados do movimento. Bom, pra quem quiser conferir, nas bancas dia 5 de julho!

14.6.04

amazônia

Faz dias que não venho aqui, nem escrever nem ler nem fazer nada. Estou em Manaus, vindo de Belém, trabalhando muito e usando pouco o computador, uma mudança boa na verdade...

Não escrevi poemas, não li poesia, apesar dos planos iniciais. Engraçado como a produção não tem mesmo nenhuma lógica: parece que viajando novas idéias vão vir, sensações novas, e elas vêm, e muito, mas não em verso até agora. E então, penso, pra que escrever aqui? Não era só pra versos? Sei lá! O espaço é meu, né? E parecia um desperdício estar na Amazônia e não contar pra ninguém...

1.6.04

Te vejo na Laura ontem à noite


Ontem à noite foi a segunda edição do Te vejo na Laura, evento multimídia que eu e Rodrigo fazemos na Laura Alvim. Essa foto é do Pedro Secchin, nosso fotógrafo oficial, e eu aproveitei que a noite era em homenagem às mulheres pra dizer um poema meu antigo que eu adoro. Pra quem perdeu ontem ao vivo, agora vai ele por escrito:

Uma grande mulher, ele me diz.

Ele me olha com olhos de ver
e lê em mim o que de tão lá dentro
acaba sempre ficando de fora,
entrelinha sutil demais
pra percepção apressada que o mundo tem de mim.

Ele me lê e me sente, me capta e me cria também:
me abre em versos
me soa em rimas
me dá palavras novas
me toca como música em meus ouvidos.

Com seus olhos e boca me deu lugar no mundo dos sentidos com que sempre sonhei.
Com suas palavras me fez poeta,
presente melhor que já ganhei,
presente que recebo e repasso a cada dia
desse ofício de escrever a vida em versos
e dar-lhes voz, palavra dita.

É ele quem me alarga e me expande,
quem me vê grande
e gosta
e pede mais.

Eu sou uma mulher do tamanho que ele me faz.