20.2.10

Espera

viaja o homem, espera a mulher
espera e age
espera como se não esperasse

anda ruas, compra frutas
queima a pele, emerge do mergulho
dentro de tudo, espera

disfarça, se distrai, mas espera
conta os dias em voz baixa
evita discos, lugares
e planeja o reencontro:
truques de beleza, prendas do lar
putarias

viaja o homem
espera a mulher, grávida de ausência
vai nascer desejo, brilho no olho, gemido
vai nascer de novo o amor
o mesmo amor, melhor amor
das cinzas da saudade

16.2.10

retrato de carnaval

meu amor em cuba e eu em família
comunistas e católicos mineiros
distância e aconchego
o que é novidade e o que é secular

ter avó é um luxo
ter 31 anos, sonhar com um filho e ainda ser neta
dormir nessa cama onde meu coração já saiu pela boca
nessa casa onde meu corpo recebeu outro pela primeira vez
casa construída com pedras sobre as quais eu brinquei na foto da infância
cabelos cacheados e franja
galochas vermelhas, moletom cinza
uma pose e a felicidade

o céu sobre nós é o mesmo
em cuba, no rio, em itaipava ou no passado
o céu é sempre o mesmo
e o amor não deixa o longe tomar conta

no fundo da carne e no arrepio da pele
dormem seu nome e seu toque
seu rosto bonito que os anos ajudam a desenhar
seus pés brancos
a curva dos ombros

é carnaval e eu não visto a fantasia
eu vivo a fantasia
eu sou a fantasia
seu corpo de homem tatuado inteiro sobre o meu

3.2.10

Pop?

É uma mistura de orgulho com vergonha, de senso de reconhecimento com vontade de se enconder no quarto escuro, de gargalhada com embrulho no estômago.

É como descobrir uma montagem do seu rosto com uma modelo só de lingerie, sendo a lingerie vulgar, a montagem trash e o corpo da modelo pior que o seu.

É como... nem sei mais como é. Só vendo mesmo. Aqui é ele.



Aqui sou eu.