25.12.06

Meu Natal 2006

(vovó e o Papai Noel, em foto inédita e fundamental)





São 3h da madrugada, cheguei da festa de Natal descrita extensiva e emocionadamente no texto aí embaixo, e o sono ainda não me pegou de jeito, então vim parar aqui. Engraçado: esse post "Natal com sentido" começou como um desejo de reclamar do Natal e acabou virando quase uma ode a ele, reavivando minhas lembranças mais antigas e gostosas. Por conta dele recebi mil comentários emocionados da família, tanto que acabei lendo ele hoje à noite durante a festa, antes do jogral de todos os anos, e foi muito bom compartilhar com as pessoas que viveram e vivem essa história, e a gente estar ali de novo, anjos na parede, cartões na porta, pinheiro cheiroso piscando, e a vovó lindona no comando.

Depois de escrever o texto mergulhei ainda mais na minha insatisfação com o consumismo natalino, e resolvi fazer presentes, ao invés de comprar. Comprei blocos e caderninhos, paetês, fitas de cetim, linha de crochê, agulhas e cola pra tecido, tirei do armário os panos que eu compro pra usar num dia que nunca chegava, e mãos à obra! Foram três dias de loucura bordando paetês e colando chitas e fitas, mas confesso que estou orgulhosíssima da obra, que exibo aí embaixo junto com algumas fotos geniais do Natal desse ano.
(meus blocos, presentes e obra)
Outro acontecimento especial desse ano foi a estréia do Luiz no Natal da Barão (nome oficial da casa da vovó). Todo ano ele vai com a mãe pra Minas, visitar a família deles, e a cada ano que passa o menino cresce e se urbaniza e gosta menos de ir pra roça, viver por um mês a vida simples do campo. Mas pra nós o que sempre deu mais pena era ele perder a chance de viver esse Natal, de conhecer o Papai Noel e ter uma noite daquelas de cinema. Pois esse ano a chance veio, por vias tortíssimas, mas diz meu amigo Pedro Cezar, "há malas que vão pra Belém" (ou "há males que vêm para o bem" mesmo).
A Graça, mãe do Luiz, teve um problema grave de varizes anteontem, véspera da viagem pra fazenda, e o médico recomendou repouso e pernas pro alto, coisas impossíveis de cumprir dentro de um ônibus sem ar durante 8 horas. Mãe e filho ficaram, pois, no Rio, e embora ela tenha se recusado a ir pra festa, ele, Luiz, vibrou com a oportunidade. Aí em cima, registro do momento em que o Papai Noel adentrou a sala, ele com esse olhar de maravilha. Aqui embaixo, o abraço inédito e a felicidade.

17.12.06

Natal com sentido


A cada ano tenho menos apreço pelo Natal.

Não me entendam mal: meu Natal é incrível. Tenho uma família enorme e unida, comandada lindamente pela vovó, uma matriarca daquelas de livro de antigamente, e o Natal é a coroação das celebrações que ela promove, amorosa e dedicadamente, o ano todo. Nossa festa é cheia de tradições deliciosas de manter, que na minha infância começavam muito antes da noite do dia 24.

Quando crianças, a casa da vovó era o quartel general das férias de todos, alguns hospedados lá porque moravam fora do Rio, outros indo pra casa só pra dormir e voltando cedinho no dia seguinte pra não perder nada. No meio de dezembro começavam os preparativos: um pinheiro de verdade, cheiroso e enorme, chegava e era levado pra sala de jantar, onde era enfeitado com bolas e luzinhas. Na parede da sala eram pendurados anjinhos de pano, com roupas coloridas, cada um representando um neto, e a cada ano aumentavam os anjinhos na parede. Dindinha Zélia, prima da vovó que morava com ela e era madrinha amorosa de todos nós, arrumava o presépio: papel imitando pedra cobrindo a mesa, palha no bercinho do menino jesus, e as figuras de barro representando todo mundo que tinha que estar lá. O dia mais esperado era quando vovó juntava os cartões de Natal que recebia e a gente fazia rolinhos de durex pra colar todos na porta da sala, subindo num banquinho pra alcançar as partes mais altas que hoje eu toco sem nem precisar ficar na ponta dos pés.

Na noite de Natal cada neto ganhava uma figura do presépio e decorava seu "texto". Mariana, a mais velha, era a narradora, posição sempre disputada mas nunca conquistada por ninguém por anos a fio. Os menores eram os bichinhos, e só tinham que fazer "múuu" ou "béeee". Os maiorzinhos eram os pastores, diziam "viemos trazer incenso pra perfumar o menino" e outras frases assim. Depois tinha amigo oculto entre as crianças, depois entre os adultos, daí a leitura de um jogral sobre a árvore de Natal, com os convidados recebendo na hora seus números pra ler, e sempre tinha um que esquecia e deixava aquele buraco, preenchido por uma tia atenta. Nosso sonho, quando crianças, era poder ler o jogral, prova inequívoca de maturidade.

O ponto alto da festa era a chegada do Papai Noel. A porta da sala era fechada e a gente ficava lá dentro cantando "deixei meu sapatinho na janela do quintal, Papai Noel deixou meu presente de Natal, como pode Papai Noel, não se esquece de ninguém, seja rico ou seja pobre o velhinho sempre vem". Depois de minutos intermináveis de suspense ele chegava vestido a caráter, e os corações paravam de susto e maravilha. De dentro de sacos vermelhos de veludo saiam embrulhos, e cada um era chamado pelo nome pra receber o seu presente, momento de tirar a famosa foto com o bom velhinho, pra prazer de uns e terror de outros. A felicidade maior era quando ao invés de um embrulho vinha um cartãozinho dizendo "seu presente está no salão", o que queria dizer que o presente era tão grande que não cabia no saco do Papai Noel, o que já excitava todo mundo: será uma bicicleta? Um velocípede?

Depois de toda a emoção Papai Noel ia embora, visitar outras famílias, e a gente ficava ali entre papéis rasgados e fitas, comemorando a alegria de ser crianças boas e merecer aquela visita. Era a hora do jantar, uma ceia de delícias inenarráveis, seguida pela entrega de presentes da vovó, sempre incluindo alguma coisa personalizada pros netos: toalhas bordadas com o nome e o jeito de cada um (meu irmão uma vez ganhou uma do Vasco, pode?), pijamas com estampas escolhidas a dedo, malas de viagem com o nome do dono. E a noite terminava com a gente chegando em casa, exausto de tanta felicidade, e colocando um pé de sapato na janela do quarto pro Papai Noel deixar o "sapatinho", presentinho simbólico diante dos grandes da festa mas sempre aguardado com ansiedade até o dia seguinte.

Hoje não temos mais crianças suficientes pra encenar o presépio. Mariana, a narradora oficial, fez 30 anos em junho, e todos os netos já estão aptos a ler o jogral. Mas as tradições continuam firmes, árvore, cartões na porta, amigos ocultos, jogral, jantar, presentes da vovó e, fundamental, Papai Noel a caráter. O fato de que apenas dois dos vinte netos têm menos de 10 anos não muda nada: Papai Noel é esperado com cantoria, chega com seus sacos e chama cada neto pelo nome, mesmo os que já teria idade pra dar bisnetos pra vovó.


A família é unida e as tradições são mantidas, e a gente gosta. Meu problema com o Natal não tem a ver com essa festa, mas com o conceito da coisa. Vamos lá: Jesus nasceu e eu, que não participei em nada do fato, tenho que dar presentes pra todo mundo que eu conheço?! Ah, não concordo! A beleza do Natal da minha família pra mim está na união improvável de tanta gente tão diferente, mas que mantém um amor cultivado em noites e tardes como essa, e o Natal é então uma festa da nossa amizade, do nosso carinho. Quando criança queria saber era dos presentes, sem me dar conta de que o se cultivava ali era um laço muito raro e do qual eu me orgulho muito hoje. Meu Natal ideal, em 2006, teria leitura de jogral, jantar de delícias, papos com primos e tias e comandando a festa a vovó toda bonita nos seus quase 88 anos, além do vovô em uma das suas noites de bom humor garantido.

Os presentes, ah, os presentes a gente distribuiria ao longo do ano, quando passasse numa vitrine e pensasse "nossa, isso é a cara da minha madrinha!", ou 'ih, a mamãe está precisando disso, vou dar pra ela". Os presentes tem que ser a expressão do nosso amor particular por alguém, e esse amor não acontece de uma vez todo dezembro em meio a lojas cheias e preços salgados: esse amor é de todo dia, de cada dia, e eu acredito em cultivá-lo e expressá-lo assim, um pouquinho e sempre, com presentes e carinhos, o ano todo.

Pra quem gosta muito de presentar, recomendo um projeto lindo que eu descobri esse ano: o Papai Noel dos Correios. Todo ano eles recebem milhares de cartas de crianças pedindo presentes, e qualquer um pode ir a uma agência e adotar uma carta: comprar um presente pra uma dessas crianças e deixar numa agência, e os Correios mandam um carteiro vestido de Papai Noel fazer as entregas. Taí um presente de Natal que faz sentido.

15.12.06

Entrevista

Sempre adorei ler entrevistas, principalmente aquelas que são papos descontraídos, em que a gente fica sabendo coisas não tão óbvias sobre o entrevistado. Não estou acostumada a estar do lado de lá das entrevistas, falando ao invés de lendo, e é uma delícia!

Semana passada dei uma entrevista ótima pro Ramon Mello, que é ator, contista e jornalista, tem uma coluna de livros na revista Suíte Rio e outra de entrevistas com novos escritores no site Click 21. Ele já tinha resenhado o substantivo feminino pra Suíte Rio, e agora me convidou pra ser a segunda entrevistada da coluna Clik (In) Versos.

A entrevista ficou super bacana e ilustrando ela está a foto que será a capa do meu livro novo, tirada pelo Pedro Molinos, fotógrafo super legal com quem eu estou trabalhando e que generosamente me fotografou num intervalo da labuta.

Tem que entrar no site Click 21, daí clicar em COLUNAS do lado esquerdo, e logo no alto está a chamada pra mim!

Leiam! Leiam! Leiam e me contem!

9.12.06

A poesia voa


As duas últimas semanas foram um pulo de volta no mundo da poesia, escrita e falada. Tô finalmente correndo atrás da publicação do meu livro, espalhando ele por aí e buscando formas de chegar nas editoras. Os resultados começam a aparecer, as pessoas gostando e se oferecendo pra me dar uma força nessa batalha, então vamos que vamos!

Também voltei a falar meus poemas, coisa que não fazia há tempos! Primeiro a convite do Donatinho, cuja banda ia se apresentar no Vivo Rio num evento da MPB FM, que tinha também Lenine e Afroreagge. Ele me chamou pra dar uma canja e foi uma delícia, aquela casa enorme lotada, e todo mundo ficando quieto pra me ouvir falar. O palco é uma delícia, quase uma droga de tão viciante, e foi bom ter essa recaída! No domingo eu e Rodrigo fomos nos apresentar no Aterro do Flamengo num evento super popular, junto com a Mari Dias e o Claudio Lyra (a Cia Dias de Lyrios) e o Jean Kuperman, e foi ótimo também!

Agora amanhã tem palco de novo, e um especial que eu adoro: o do
Circo Voador! De domingo a terça-feira vai rolar a segunda edição do Poesia Voa, evento organizado pelo Tavinho Paes, o Bruno Cattoni e a Maria Juçá lá no Circo, o primeiro grandeenorme evento só de poesia na cidade, muito chiquérrimo em seu ano 2! Rodrigo vai tocar e eu vou dizer uns poemas amanhã, 2a feira dia 10, de noite, lá prumas 20h ou 21h, eu acho. Independente da gente, recomendo uma passada no Circo em algum momento desses 3 dias, a programação dura o dia todo e tá cheia de coisas bacanas, então apareçam!

26.11.06

28

O número aí em cima seria só um número, como já foi e voltará a ser um dia, quando deixar de ser a minha idade. Fazer aniversário sempre é bom pra mim, gosto de sentir o passar do tempo na minha vida cheia de conquistas, coisas boas, coisas chatas, prazeres e ainda tanto por alcançar mas muitas conquistas, sem dúvida.

Esse ano o aniversário foi festivo, e me animei a tomar finalmente uma profusão de providências pra comemorar com tudo em cima. Foi um tal de arrumar a casa, consertar janelas quebradas, uma privada que não funcionava, luz que não acendia nem apagava, trocar o estofado do sofá da tv, refazer as almofadas, comprar armários que faltavam há anos... A casa ficou um brinco, e eu feliz e orgulhosa. Adoro ser dona-de-casa sendo também trabalhadeira!

Mas a maior mudança dos 28 - e planejada pra ser feita antes dos 28 chegarem, pros 28 começarem já com ela existindo - foi a tatuagem da palavra. Passei um ano desejando ela, planejando ela, me acostumando com a idéia dela e muitas vezes sentindo falta dela! Por isso foi absolutamente inesperada a sensação de soco no estômago que me veio no dia seguinte, uma dúvida fortíssima, um medo de estar lidando com a eternidade, de estar brincando com um corpo que é meu desde sempre e do qual eu aprendi a gostar tanto, e de repente um carimbo no meio das costas em nome de quê, meu deus?!

Me senti voluntária de um campo de concentração, pedindo pra ser marcada, uma vaca com voz pra escolher o nome do dono, a palavra ardendo nas minhas costas feito queimadura por uns dias. Parecia casamento com padre e aliança, da categoria das coisas que podem ter volta mas que são feitas pensando no pra sempre. Chorei, chorei, chorei, escondida pra não parecer louca, pra não dar chance de ninguém dizer "quem mandou, coisa boba fazer tatuagem!".

Aí escrevi o poema que está aí embaixo e fui me curando do susto de brincar de deus. No dia de comemorar os 28 já estava curada e pronta pra exibir a bichinha, meu brinquedo novo que não vai gastar, eu gostando mais e mais dela, minha palavra que andará comigo pelas idades afora a partir de agora!


15.11.06

lidando com a eternidade

Conceitos, palavras.
Que tem a pele com isso?
Certezas podem ser carne sem ser tinta.
Podiam.

Carrego a palavra nas costas
além de no fundo do peito e na ponta da língua.
Base das minhas asas invisíveis,
soco na boca do estômago,
filho de 7 letras de 20 minutos de gestação.

Um dia crianças vão deitar sobre o meu corpo pra aprender a soletrar.
Talvez quando essa perenidade me tomar por inteiro
passe essa surpresa, esse medo,
talvez o que hoje é susto vire orgulho do percurso,
e a palavra, embora brasa, cesse de queimar.

27.10.06

o risco, meu deus!

Acabo de reler todo o meu blog, mês a mês, pacientemente, em busca de um poema que não estava aqui. Como não estava?! Não consigo crer que escrevo no mariadapoesia há três anos e não coloquei aqui o poema que abre meu livro novo, o poema que me dá forças pra seguir nos caminhos que parecem difíceis, o poema que me inspira e me surpreende sempre.

Então percebo que Mariana tem razão: tem faltado poesia no mariadapoesia. Rodrigo tem razão: ando muito vida real e pouco poeta. E apesar de incomodar faz um bem danado perceber isso porque agora então vou mudar, olha que ótimo!

Abrindo a mudança, o poema:

O risco não é só um traço
É a distância entre um prédio e outro
A diferença entre o pulo e o salto

O risco é riqueza e asfalto a percorrer
Pode ser a pé
Pode ser voar
O risco é o bambo da corda solta no ar

Dentro dele cabe cálculo
Cabe medo e incerteza
Cabe impulso instinto plano

O risco é a pergunta te atacando ao meio-dia
É o preço do sonho pra virar realidade
É a voz das outras gentes testando a tua vontade

Aceitá-lo é saber que não existe
Estrada certa
Linha reta
Vida fácil pela frente

Mas que asa
Asa
Asa
Só ganha quem planta no escuro do braço
Essa semente de poder voar

22.10.06

Corpo

"O corpo existe e pode ser pego
É suficientemente opaco para que se possa vê-lo
O corpo existe porque foi feito
Por isso tem um buraco no meio
O corpo se cortado espirra um líquido vermelho
O corpo tem alguém como recheio"

Esse é um pedaço de um poema do Arnaldo Antunes, o pedaço que a minha cabeça lembra num fim de domingo de corpo exausto de tanta descoberta, depois de um fim-de-semana intenso de workshop de performance e de teatro físico com a Patrícia Carvalho-Oliveira. Foram dois dias de exercícios e práticas novas pra mim, que vão me ajudar a colocar corpo na minha palavra, a dar corpo pra palavra, além de dar voz. Tô cansada mas feliz, conheci gente bacana e variada, e passei dois dias quase inteiros prestando atenção em mim, cuidando de mim, mexendo comigo.

Isso fecha com chave de ouro uma semana em que eu finalmente voltei a ser a mariadapoesia: revisei e imprimi meu livro novo, o bendita palavra, arrumei e imprimi um "dossiê" sobre mim, e agora vou mandar isso pras editoras, em busca de uma que me queira e me receba, pra ano que vem eu voltar a publicar. Já tô com comichão de tanta vontade!! Me aguardem!

19.10.06

Arte e moda

Eu não costumo divulgar muitos eventos em que não esteja pessoalmente envolvida, porque nunca se sabe se vai ser legal mesmo, e não quero dar furo com quem me lê... Mas nesse caso tô panfletando abertamente porque, mais do que meus amigos, trata-se de gente talentosíssima, que me inspira e estimula.

A Soul Seventy, da Amanda Mujica e do Antônio Bokel, é uma marca de roupas com conceito e personalidade, além de lindas de morrer.





O Ateliê Coletivo é um projeto do mesmo Antônio Bokel com o Smael e o Paulo Gouvêa, três artistas contemporâneos e absolutamente inovadores nas suas pinturas, cada um com a sua cara e o seu caminho, mas juntos na busca por espaço no mundo das artes plásticas.


Pois 5a e 6a, dias 19 e 20, a Soul Seventy vai lançar sua nova coleção no Ateliê Coletivo, uma ocasião imperdível de conhecer o trabalho de quatro criadores que eu tenho certeza de que vão movimentar muito o Rio nos próximos anos.

Eu vou na 6a feira, e vou adorar se vocês quiserem me acompanhar. Nos dois dias começa às 18h e vai até meia-noite, e o Ateliê Coletivo fica na Rua Alexandre Stockler n.18, na Gávea (depois do posto de gasolina, lá em cima).


Eu não perderia esse programa por nada!

16.10.06

competição saudável

Apesar de ter um blog, nunca fui bisbilhoteira da internet pra achar blogs legais. Sou leitora fiel de alguns, escritos por gente amiga que me faz rir e me emociona, e que indico nos links aí à esquerda.

Semana passada ganhei um concorrente de peso, e fico feliz com essa competiçãozinha que está surgindo e que me faz querer escrever sempre, pra não perder meus leitores pra ela. A Mariana é minha prima, advogada e leitora voraz desde a infância. Já naquela época a gente competia pelos livros lidos, e trocava dicas de autores novos legais, e se emprestava coleções e volumes. Passar da leitura pra escrita foi um pulo, eu na poesia, ela na crônica. Claro que eu fui muito mais exibida e arrumei logo um livro publicado e palcos pra me espalhar por aí, e a Mariana sempre discreta, advogada e escritora só nas goras vagas, mandando seus textos por email pros amigos. Finalmente a convenci de que ela precisava de um blog, e surgiu o Croniquetas.

Agora tô eu aqui, escrevendo no blog ao meio-dia de uma segunda-feira, pra manter o interesse de quem me lê e não acabar perdendo todos os meus leitores pra ela! Mas, sobrando um tempinho, passem lá que eu recomendo! =)

13.10.06

Buchecha e Banco Imobiliário

Ontem foi dia das crianças. No momento, enquanto espero paciente o dia em que a barriga vai crescer e uma criancinha vai sair de dentro dela, só tenho uma criança que dependa de mim pra ser feliz nesse dia: Luiz Phillipe.


Ele é filho da Graça, que foi trabalhar lá em casa 6 dias depois que eu nasci, quando a minha mãe percebeu que o projeto hippie de não ter babá não ia dar nada certo. Dois anos depois o Tiago nasceu, e a Graça além de babá virou madrinha dele, prova de que o lado hippie da mamãe não queria morrer de jeito nenhum. Eu já tinha sete anos, praticamente uma mocinha, quando a Julia nasceu, e renovaram-se as razões pra Graça continuar lá em casa.

Hoje eu moro sozinha em outra casa, a Julia já fez 20 anos e a Graça continua lá, firme e forte. No caso dela aquela metáfora "ela já é da família" é totalmente verdadeira: ela é madrinha do Tiago, que por sua vez é padrinho do Luiz Phillipe. Assim como a Conceição, a outra fiel escudeira da nossa família, mora com os meus pais há 28 anos, e o Luiz virou logo o mascote da casa.

Quando a Graça ficou grávida foi aquele choque. Ela era a pessoa menos engravidável que a gente conhecia: tímida até a raiz dos cabelos, nunca tinha tido um namorado (que a gente soubesse). Era tão impensável o fato que ninguém tinha reparado na barriga que crescia até ela contar pra minha mãe, já com quase 5 meses de gestação.

O Luiz Phillipe nasceu e ganhou todo mundo de cara. Hoje ele tem 12 anos, é um menino esperto e divertidíssimo. Pois ontem era dia das crianças e o Luiz estava lá, vendo tv, como todo dia. E o jornal dizia das várias programações infantis do dia, todas dependendo da animação de um adulto pra levar. Ontem o adulto fui eu, e o programa foi o show gratuito do Buchecha e do Latino na Quinta da Boa Vista. Ele ficou animadíssimo, era a primeira vez que ia ver um show de alguém famoso, me disse, só tinha ido nos do Rodrigo.

Quatro da tarde, saltamos eu e Luiz de um taxi nos arredores da Quinta da Boa Vista, e nos misturamos ao mar de gente que andava entre camelôs com brinquedinhos que piscam e vendedores de churrasquinho, pipoca, hot dog e milho verde. Adentramos a Quinta e era criança feliz pra todo lado, criança chorando arrastada pela mãe aqui e ali, e uma chorando sem a mãe, que apareceu um minuto depois e as lágrimas voltaram pra dentro automaticamente, que nem cachoeira invertida.

Andamos, andamos, andamos, até achar o palco onde Buchecha já cantava. O mar de gente de antes virou nada diante da multidão que se apinhava ali, pacificamente, alegremente, pra ouvir o cara cantar. O Luiz estava fascinado e meio que paralisado: era muita gente, e mal dava pra ver o palco, que dirá o Buchecha. Show de gente famosa é assim, expliquei, fica lotado e a gente fica longe mesmo... Um binóculo foi a solução, e aí ele adorou. Eu era o peixe mais fora d'água do mundo, com a minha cara de garota de Ipanema no coração de São Cristóvão, mas nem liguei e desencavei do fundo da memória meu repertório de funk melody e dancei animadíssima.

Teve
"nossa história vai virar cinema, e a gente vai passar em Hollywood", teve "quero te encontrar, quero te amar, você pra mim é tudo, minha terra meu céu meu ar", teve "eu não existo longe de você, e a solidão é o meu pior castigo, eu conto as horas pra poder te ver, mas o relógio tá de mal comigo", teve um monte de outras que eu não me lembro mas que são ótimas, e o pessoal cantava tudo e dançava amarradão, e eu fiquei feliz de participar da felicidade popular e estar ali, eu e Luiz, tendo um dia das crianças diferente e animado.

Quando o Buchecha acabou e começaram a arrumar o palco pro Latino, Luiz quis ir embora, e apesar da minha curiosidade pra ouvir “hoje é festa lá no meu apê” ao vivo, concordei e adorei, que as pernas já estavam reclamando. Pegamos outro táxi pro Humaitá, nos enchemos de milkshake, cheeseburguer e batatas fritas, e depois que eu recuperei um pouco as forças fui levar ele em casa.

Chegando lá mais felicidade: a Julia comprou de presente pra ele um Banco Imobiliário, jogo da nossa infância que virou luxo hoje em dia: custa R$65,00, pode? Em tempos de crianças cada vez mais solitárias, não é de se espantar que elas queiram cada vez mais videogames, e que os pais apóiem: é mais barato, e eles brincam sozinhos, sem encher o saco de ninguém...

Mas ontem foi diferente! Abrimos o Banco Imobiliário e os olhos de todo mundo brilharam. Eu, Tiago e Julia de novo crianças, doidos pra jogar! Mas somos todos adultos agora, e Julia ia pra casa do namorado, Tiago ia sair com os amigos, e eu, exausta, propus pro Luiz uma partidinha rápida, só pra ele começar a aprender...

Em cinco minutos estávamos todos reunidos em volta da mesa, Tiago de consultor imobiliário do Luiz, Julia de banco, todos gritando pra comemorar compras de terrenos valiosos ou pra protestar contra dados generosos demais com o outro, rindo juntos como há tempos não acontecia, uma noite fenomenal em família.

Vim pra casa dormir alegre e plena, feliz da decisão de fazer um dia das crianças bacana pra esse menino que eu adoro, e de ter tido eu um dia especial assim.

1.10.06

uma tragédia e um nome

Cresci vendo minha mãe lutar pra superar um medo de avião que nasceu junto comigo, sua primeira filha. Muita gente passa por isso: começa a ter medo de morrer quando tem filhos.

Talvez por ainda não ser mãe, nunca tive medo de voar, apesar do momento da decolagem ser uma das raras ocasiões em que eu tiro da gaveta as rezas que aprendi quando criança. Mas lembro sempre do meu tio Chedid querido, piloto de avião durante anos e que morreu numa estrada a caminho de Minas, comprovando a tese de que é muito mais provável morrer num acidente de carro do que num acidente aéreo. Tanto, que costumo considerar essa possibilidade como nula, e tenho a mais absoluta certeza de que isso nunca, nunca vai acontecer, nem comigo nem com ninguém.

Uma tragédia como essa de ontem com o avião da Gol destrói essa certeza fantasiosa e confortável. Assim como acontece com os carros, os aviões também têm problemas técnicos, e seus "motoristas" podem tomar decisões equivocadas. Hoje essa tragédia dominou as conversas, e minha mãe me disse chocada durante o almoço que minha irmã entrou na lista dos passageiros e levou um susto ao ver meu nome lá: Rezende, Maria.

Não resisti e entrei agora no Globo.com e lá está ele, o nome que é meu, mas felizmente não é o MEU nome, mas o nome de outra Maria Rezende que provavelmente não resistiu à queda. E é tão chocante, tão surreal ler um nome que é o seu numa lista de mortos numa queda de avião, tão insano o avião cair, tão inacreditável tanta gente morrer assim, sem nem saber, e alguém como meu nome estava lá.

Gente de quem eu mal me lembro sabe o meu nome, e me apresenta aos amigos: "essa é a Maria Rezende, aquela poeta que eu te falei". Meu nome está na capa do meu livro, no contrato de aluguel do meu apartamento, nas contas que chegam aqui em casa, no cartaz do curta que fiz com o Rodrigo e nas dezenas de filipetas que a Marianna Cersósimo criou pro Te vejo na Laura. Está como remetente de todas as minhas mensagens de e-mail, gravado no celular de um monte de gente pelo Rio de Janeiro afora, e nos créditos finais de todos os vídeos e filmes que eu já editei.

E o Google já tinha me dito que esse nome não é só meu, há muitas e muitas Marias Rezendes pelo Brasil afora, mas só uma delas entrou ontem num avião em Manaus (onde eu, essa Maria Rezende daqui, peguei um vôo da mesma Gol com escala em Brasília e cheguei em casa - hoje casa dos meus pais - e encontrei minha família e meu namorado amado, cheia de presentinhos indígenas e um tênis bacana pra compensar o dia dos namorados passado separado porque eu estava lá, trabalhando, em Manaus, e dormimos juntos, abraçados na cama de solteiro apertada, e eu fui feliz mas não tinha idéia de quanto) e só uma das muitas Marias Rezendes brasileiras ontem não chegou em casa.

Ler meu nome ali é um alívio e é cruel, me joga de pára-quedas na dor de gente que eu não conheço, e ao mesmo tempo me finca os pés aqui, no meu universo, onde Maria Rezende sou eu, essa, poeta, montadora, namorada do Rodrigo, filha da Mariza e do Sergio, irmã da Julia e do Tiago, neta da Nilza, da Elza, do Lauro e do Valério, bisneta da vó Nair, amiga de infância da Camila, da Fê, tia emprestada da filha da Sol que vai nascer, futura mãe da Luzia e de um menino ainda sem nome, que o pai vai escolher. É bom demais ser eu aqui.

29.9.06

Votem na gente!

As eleições são domingo e não vou falar nisso aqui: é tanta, mas tanta confusão, que nem me meto a atacar ou recomendar ninguém...

Mas venho pedir votos pra um candidato pelo qual eu ponho a mão no fogo sem medo: o nosso curta Por Acaso Gullar, que está competindo com todos os curtas do Festival do Rio no Porta Curtas!

O Porta Curtas é um site bacanérrimo que exibe e divulga curtas brasileiros, que podem ser vistos por qualquer um pela internet mesmo. Durante o festival eles organizaram uma mostra com os curtas que estão participando, e rola uma votação até o fim do festival, 5a feira, dia 5 de outubro.

Então eu venho exercer a cara-depau e pedir a todo mundo que passe por e vote na gente!!!

Além disso, reitero que hoje e amanhã são as últimas chances de ver o filme no cinema, na Caixa Cultural 2:

hoje, sexta, dia 29, às 17h
amanhã, sábado, dia 30, às 14h30 e 19h30

27.9.06

Nossa estréia no Festival do Rio

Então na sexta-feira foi a nossa estréia oficial como diretores, com direito a subir no palco do Odeon com a nossa pequena e fundamental equipe, apresentar o filme, e depois assistir na sala lotada os 11 minutos da nossa primeira "obra".

Foi especial, emocionante, muitos amigos lá celebrando com a gente, o coração batendo forte e as pernas bambas, e o Nilo - que de produtor do Rodrigo passou a amigo querido - gravou na câmera de foto mesmo, pra gente ter pra sempre as imagens dessa hora.

Não é excitante como trepada na praia, mas tá lá no Youtube!

21.9.06

Por Acaso Gullar - mudança de horários!

Acabo de entrar no site do Festival do Rio, que aliás está bacanérrimo, e descobri que os horários de algumas sessões do nosso filme mudaram! A boa notícia é que ganhamos mais uma sessão no sábado, dia 30, então anotem como ficou:

Sexta - 22/09/2006 - 13h
Odeon BR

Sexta - 29/09/2006 - 17h
Centro Cultural da Caixa Econômica 2

Sábado - 30/09/2006 - 14h30
Centro Cultural da Caixa Econômica 2

Sábado - 30/09/2006 - 19:30
Centro Cultural da Caixa Econômica 2

Além disso, na página do filme no site do festival eles incluem a sessão de sexta, dia 22, às 18h30 no Odeon, como se ela fosse uma sessão aberta ao público. Entrei no Ingresso.com e realmente dá pra comprar por lá! Ou seja, estamos aqui ralando pra tentar fazer caber todo mundo querido na nossa cota pequenina de convites à tôa!...

Enfim, segue a programação original: estaremos lá às 13h, e de novo às 18h30, quem quiser e se animar apareça!

18.9.06

Felicidade



Então na 5a feira é a abertura oficial do festival, e estar dentro dele muda totalmente a perspectiva! Recebemos em casa o convite pra festa de abertura, motivo de eternas disputas todos os anos, quando nós filhos torcíamos pros meus pais não irem pra gente pegar carona no convite deles.

E na sexta-feira tudo vai ficar ainda mais concreto e excitante: vamos estar no Odeon, numa sessão de gala do filme só pra convidados, junto com Gullar, Bethânia e a equipe do filme, e esse vai ser um daqueles momentos que com certeza entram pro filminho dos últimos segundos da vida da gente...

A única coisa chata da sessão de gala é que temos uma cota pequeníssima de convites, menos da metade da lista de amigos que a gente queria convidar... Felizmente o filme tem sessões abertas ao público, e deixo aqui o convite:

Sexta-feira, dia 22, às 13h, no mesmo Odeon, é a verdadeira estréia do filme, numa sessão popular com ingressos baratinhos! Eu e Rodrigo estaremos lá, gastando a ansiedade pra de noite, e vai ser um prazer receber todo mundo lá!

Além disso na semana seguinte teremos duas sessões no Caixa Cultural, que fica na Almirante Barroso 25:
sexta, dia 29, às 19h
sábado, dia 30, às 14h30

Vai ser um prazer, e mais do que isso, um luxo, ter tantos pares de olhos vendo o nosso filme. Tomara que você, que lê agora, também se anime e apareça por lá!

8.9.06

Por Acaso Gullar

De volta ao Rio, à correria, ao trabalho, e apesar disso posso arrumar um tempinho pra passar aqui e dar notícias, porque viajando, de férias, apesar de sobrar a última coisa que quero ver é um computador na minha frente!

Inventamos férias no meio de um dos momentos mais agitados da vida nos últimos tempos, e como a lei de Murphy está aí pra ser comprovada a cada dia, foi só comprar as passagens numa dessas promoções loucas da Gol - volta a 1 real -, que chegou a notícia inesperada e deliciosa:

NOSSO CURTA POR ACASO GULLAR FOI SELECIONADO PRO FESTIVAL DO RIO!!!




Esse curta é o resultado de uma gravação que eu e Rodrigo fizemos na casa do Gullar quando preparamos uma homenagem a ele no Te vejo na Laura. A gente foi lá pedir pra ele mostrar os desenhos e colagens que faz, e acabamos batendo um papo incrível de mais de uma hora.

A tarde foi registrada pelo Pedro Cezar, nosso amigo, cineasta talentosíssimo do "Fábio Fabuloso", e fotógrafo super improvisado: não levamos luz, não fizemos nenhum cenário, mas a força do Gullar e do que ele tem a dizer, além da revelação de um humor delicioso e uma disponibilidade absoluta pra estar ali com a gente, tudo isso faz do Por Acaso Gullar um registro importantíssimo do maior poeta brasileiro vivo.

Na noite da homenagem, na Laura Alvim, fomos surpreendidos pela Claudia, mulher do Gullar, que nos disse que aquele era um dos documentos mais reveladores do Gullar que ela já tinha visto, e isso nos deu o desejo de transformar aquele registro num filme.

Anos depois, a partir desse material bruto, nasceu o Por Acaso Gullar . Montado com o conceito de acaso em mente, o filme acabou ganhando a participação especialíssima da Maria Bethânia, que lê dois poemas do Gullar.


Mais novidades em breve!!!

1.9.06

férias

Recife - Itamaracá - Forte Orange
Notícias com mais fotos semana que vem, quando eu voltar.
Por enquanto tô indo, indo...

17.8.06

petite poupée 7




Na terça-feira participei com meus poemas de um evento novo chamado Feridas Expostas, no Espírito das Artes, na Cobal do Humaitá. Organizado pela Miila Derzett, com apoio da Cavídeo, o evento reuniu alguns artistas muito legais, cada um de uma área, numa noite surpreendente e deliciosa. Teve meus poemas, teve "Rindo à toa", uma esquete super bacana escrita e dirigida pela Miila e encenada pela Taciana Barros, teve Fernanda Rowlands e Donatinho no Projeto Sala, teve um curta da Rosane Svartman, e teve a arte visual de Petite Poupée 7, a Dani.

Eu adorei a noite toda, tão raro um evento multimídia em que tudo é bacana! Mas confesso que foram os quadros da Dani que me fizeram, já pronta pra dormir, de luz apagada e tudo, ter sido acordada por esse texto aí embaixo, minhas impressões poéticas sobre o trabalho poético dela. Ela pinta em telas e pinta na rua, e vai do grande ao pequeno com a mesma desenvoltura. Recomendo vivamente: taí uma artista plástica que vale a pena conhecer.


Pequenas bonecas cheias de atitude são as mulheres de Petite Poupée 7. Aos berros de cor nos muros ou sussurrando seus segredos em pequeníssimas telas, elas carregam a fartura do feminino, suas angústias, seu ridículo, sua beleza. Belas como porradas. E doces. Sutis no exagero de suas formas, são violões à última potência.

Tem cor, tem som, tem cheiro e gosto as bonecas de Dani. Exalam seus nomes no anonimato das paredes, e existem por si sós. São muitas e uma, as petites poupées de Petite Poupée 7.

9.8.06

heranças

Então de repente eu me dou conta de que sou meio libanesa, mais exatamente 1/8 libanesa: meu bisavô veio de Karneil, no interior do Líbano, aos 19 anos, fazer dinheiro no Brasil. Chegou sem falar português, com três libras no bolso, e foi parar numa pensão de um conterrâneo. Virou mascate, mudou seu nome de Kessim Al Auar para Felipe José de Salles, e numa das suas andanças conheceu minha avó, índia e já com dois filhos, e prometeu: "na próxima lua eu venho te buscar". Foi. Casaram-se, tiveram mais seis filhos, ele enriqueceu, virou o Coronel Felipinho, poderoso e respeitado em Carangola, interior de Minas. Perdeu tudo, viveu a falência absoluta e morreu rico de novo aos 65 anos.

Dele herdei sobrancelhas grossas, a pele amarelada e algumas poucas histórias, vindas quase todas de uma prima-tia querida, Laia, portadora dos casos da família. Não conheço o árabe, nunca vi o Líbano nem em fotos, e o mais perto que já cheguei dessa parte do mundo foi visitando o sul da Espanha, onde os árabes ficaram por séculos e deixaram sua marca forte.

De repente essa guerra, que começou como notícia de página interna do caderno internacional do jornal e agora é capa, é jornal nacional, ny times e toma as redações do mundo. E eu aos poucos percebo que estão destruindo de novo o lugar de onde 1/8 de mim vem, e que subitamente minhas chances de conhecer esse lugar ficam nulas, e assim percebo que essa herança libanesa vive, ainda que lá no fundo de mim.

Daí agora ler com mais atenção os artigos de gente relevante falando sobre a questão. Eu sou distraída demais em assuntos políticos pra me atrever agora a falar sobre esse, mas qualquer coisa que leve a assinatura do Eduardo Galeano é pra mim positivamente relevante, então recomendo a leitura de uma carta assinada por intelectuais de várias partes do mundo, inclusive esse uruguaio que eu adoro e respeito.

No blog do meu jornalista preferido,
Eduardo Graça, diretamente do Brooklyn, NY.

8.8.06

traduções

Parecia que já tinha passado todo e qualquer assunto relacionado ao Imagining Ourselves, quando subitamente recebo um email deles avisando que esse mês está rolando o "best of" da exposição virtual, e lá descubro meu poema traduzido em quatro línguas, uma das quais eu confesso que nem sei qual é! Será árabe?

Sempre detestei ler poesia traduzida, razão pela qual quase que só leio os poetas brasileiros e portugueses, mas achei uma delícia ver meus versos dançando outros ritmos, e tendo a chance de ser lidos por gente de tão longe.

Meu poema e suas traduções está aqui, mas passem pra conhecer muitas mulheres interessantes do mundo todo.


الكلمات والأشكال لا تشكل المحتوى.
يمكن أن تكون المرأة مهارة
أو ضلعاً أو خللاً المرأة تفيض عن الحواف
تقيس الأمور تخفف التنافر
تلعب الأورغن وتقرع الجرس
يمكن أن تكون
المرأة صرخة
رحماً جرفاً يمكن أن تكون المرأة
هاوية وملاذاً ويمكن أن تكون كليهما
وهي كذلك.

ou

Une femme est une femme bien que
Les mots et les formes ne compromettent pas le contenu
Une femme peut être une compétence
Une côte ou une défectuosité
Une femme déborde des bords
Evalue
Measures up
Atténue la dissonance
Elle joue avec l’organe et sonne la cloche.
Une femme peut être un cri
Un ventre
Un précipice.
Une femme peut être un abysse ou un port.
Et elle peut être les deux
Et elle est

ou

Una mujer es una mujer aunque.
Las palabras y las formas no constituyen el contenido.
Una mujer puede ser una habilidad
Una costilla o un defecto.
Una mujer desborda los límites
Está a la altura
Mitiga la disonancia
Toca el órgano y suena la campana
Una mujer puede ser un grito
Una panza
Un precipicio.
Una mujer puede ser un abismo o un refugio.
Y puede ser ambos.
Y ella es.

ou

A woman is a woman although.
Words and shapes do not comprise the content.
A woman can be a skill
A rib or a defect.
A woman overflows the edges
Measures up
Eases the dissonance
She plays with the organ and rings the bell.
A woman can be a scream
A belly
A precipice.
A woman can be an abyss or a haven.
And she can be both
And she is.

ou

Uma mulher é uma mulher ainda que.
Palavras e formas não comportam o conteúdo.
Uma mulher pode ser um jeito
Uma costela, um defeito.
Uma mulher transborda pelos cantos
Enche as medidas
Contorna o desafino
Toca punheta e toca sino.
Uma mulher pode ser um grito
Uma barriga
Um precipício.
Uma mulher pode ser um abismo ou um porto
E pode ser os dois
E é.

3.8.06

tudo que eu queria

Passei assim o último fim-de-semana: encasacada, deitada, relaxada, e feliz. Imagina se fosse sempre... Imagina se pudesse ser agora...

Notícias só no próximo post, e quem ainda insiste sabe que eu ando demoraaaaada... Vou tentar melhorar, prometo, e agradeço a paciência.

16.7.06

dona de casa

Eu dei certo com essa coisa de ter a minha casa, diz o Rodrigo. Não falo nada mas fico feliz. Gosto cada vez mais de casa, e de ter a minha e fazer dela um lugar bacana, bonito, cheiroso e cheio de prazeres variados. Cozinhar é o melhor deles. Confesso que esqueço de molhar as plantas, sou capaz de bagunçar a sala de um modo inexplicável, junto 86 peças de roupa no quarto-depósito esperando a Paulinha chegar na 4a feira pra arrumar tudo, nunca passei pano no chão nem lavei o banheiro, mas na cozinha sou uma dona-de-casa exemplar! Sempre adorei comer e gosto mais e mais de fazer comida.

Uma das minhas prediletas é panqueca: adoro panqueca, e sim, dá bastante trabalho, mas é tão bom que sempre que tenho tempo me aventuro! E não é tão complicado, olha lá:

1 ovo + 1 gema + 1 xícara e 1/4 de leite + 1 xícara e 1/4 de farinha + 1 pitada de sal + 1 colher de chá de azeite - bate tudo no liquidificador, colocando primeiro os molhados. Um pouco de azeite na frigideira, uma concha de massa de cada vez até ficar dourada, e vai colocando as panquecas num prato. Na minha conta dá pra 10 ou 11 panquecas. Até aí mole, certo?

Depois vai ficar a critério do cozinheiro: se for preguiçoso, panqueca de carne moída com berinjela. Coloca duas berinjelas inteiras, sem nadinha, num tabuleiro no forno pra assar enquanto você faz a carne. Pica cebola e alho, refoga em um pouco de óleo ou azeite, daí mistura a carne moída pra cozinhar, temperos a gosto do freguês. Depois dela ficar marrom, coloca um pouco de tomate (tomate de verdade picado, ou tomate de lata sem muito caldo, ou se for muuuito preguiçoso mesmo pomarola, mas eu desrecomendo!). Quando isso estiver pronto a berinjela também deve estar. Tira do forno, vê se está macia, aí abre ela com um garfo e raspa todo o miolo, e joga fora a casca. Mistura isso na carne moída e pronto, é só enrolar e em meia hora você tem panquecas lindas de carne moída!

Se o cozinheiro for animado como eu, panquecas de frango com cenoura e milho. Daí é o mesmo processo da carne moída, mas com o frango (pode ser qualquer parte, peito pra quem é light, coxa pra quem gosta de sabor) em pedaços meio grandes pra poder desfiar depois. Sim, aí vem a ralação: depois de cozido, esperar amornar e desfiar o frango todo... Aí colocar ele de volta na panela, misturar cenoura ralada e milho (tem um de lata, jurema, que é docinho, uma coisa!) e voilá! Panquecas de frango divinas!

Pra ficar perfeito, em qualquer dos casos, colocar as panquecas numa travessa, um bom molho de tomate por cima, queijo ralado na hora, e forno por 15 minutos só pra gratinar. Eu adoro, fazer e comer. E foram elas que me renderam o elogio lá do começo, então seu poder está comprovado...

9.7.06

Me and you and everyone we know


Semana passada me aconteceu uma coisa rara e digna de nota: um filme me emocionou, me inspirou, me deu inveja e me deixou com sensações novas por dias seguidos. Me and you and everyone we know, título reduzido pra Eu, você e todo mundo no Brasil. Um filme lírico, poético sem ser chato, ousado sem ser vulgar, delicado como poucos filmes, livros, quadros. Daí a emoção, a inspiração e as sensações novas.

A inveja vem do fato de que o filme foi escrito, dirigido e estrelado por essa moça aí de cima, Miranda July, uma americana que passeia por várias formas de arte - faz performances, artes visuais, programas de rádio, escreve, e estréia agora no cinema com esse filme especial. Uma mulher como eu, só que vivendo mais pro Norte. Uma mulher começando a vida, agitando seus projetos, inventando modas, fazendo as suas coisas. Uma bela mulher construindo uma vida de artista sem frescuras, dando corda pras suas idéias. E essa foto dela editando em casa, numa ilha anda mais familiar do que a que eu tenho em casa, só reforça a minha inveja e me dá gás pra me manter firme, apesar dos medos que têm me rondado nesse começo de vida independente.

Miranda July e seu Eu, você e todo mundo - eu recomendo. Corram pro cinema!

2.7.06

pé frio

Eu só posso ser uma tremenda pé-frio, só pode ser. Passo a noite escrevendo sobre como estou apaixonada pela Copa, pela primeira vez interessada em ver todos os jogos, entendendo tudo sobre futebol e coisa e tal, e no dia seguinte o Brasil perde vergonhosamente pra França. De novo. Mas a verdade é não dá nem pra ser supersticioso nesse caso, porque o time jogou tão ridiculamente, uma atuação tão pífia, que nada nem ninguém poderia piorar a situação.

Já sendo eu agora mais uma entre os milhões de brasileiros que sabem exatamente o que deveria ter sido feito pra evitar a tragédia, digo sem sombra de dúvida: a culpa é toda do Parreira. Como bem disse o Renato Maurício Prado ontem no Sportv, ele tinha todas as estrelas na mão mas não as transformou em um time. E se os grandes talentos não davam liga juntos, culpa dele que os escalou. E o pior de tudo: um técnico que deixa pra mexer num time que está perdendo aos 35 do segundo tempo, só pode estar brincando.

Pela primeira vez levei a sério mesmo a teoria do Rodrigo de que Copa é sempre armada, um jogo de poder mais do que uma competição esportiva. Pensem bem: o Parreira desanimado, sentando no banco sem gritar nada, olhando pro relógio como quem pensa "quanto tempo falta pra essa coisa acabar?"; o time apático, como se já soubesse que não ia ganhar, que não podia ganhar; e pra coroar, Roberto Carlos ajeita a meia na hora em que Zidane cobra uma falta perigosa?! Ou é mutreta ou esses caras estão ganhando dinheiro demais pra se preocupar de verdade com o Brasil e com o que o futebol representa pro povo daqui.

Sei lá, tô de discurso amargurado e na verdade nem tô triste assim. Tô mais é espantada com tamanha desfaçatez...

30.6.06

primeira vez

Tá bom, reconheço, todo mundo provavelmente já viu essas fotos dos meninos da seleção em seus momentos de intimidade, exibicionismo do fisioterapeuta do Brasil que até o Globo já publicou. Mas eu sou estreante no amor pelo futebol, e confesso que nunca pensei que ele fosse chegar: tenho traumas das viagens de volta do sítio na infância ouvindo jogos do Botafogo no rádio do carro, nunca tive time, e sempre achei torcida a coisa mais próxima de uma tribo selvagem e irracional. Sorria quase envergonhada ao ver os homens da família torcendo com tanto afinco, e brigando quando perdiam, e tripudiando dos perdedores quando ganhavam.

Pois essa Copa mudou minha visão do futebol. Todo mundo diz que os times nunca tiveram tão pouco brilho, que o futebol arte não deu as caras, mas eu fui conquistada! Nas últimas semanas aproveitei que estou trabalhando em casa pra ver partidas antes inimagináveis como Itália e Austrália, Espanha e França e a inacreditável Portugal e Holanda, durante a qual eu gritava feito os primitivos da minha infância, e xingava o juiz, os holandeses horrorosos e os portugueses que erravam passes. Ando expert em jogadas, entendo tudo sobre impedimento mesmo sem aula particular com o Parreira feito a Cora Rónai, e digo tudo que os comentaristas repetem meio minuto depois, o que me faz crer que no momento sou uma anta futebolística, mas com qualidade suficiente pra ir pra Europa ganhando perdim em euros.

Enfim, estou me divertindo como nunca imaginei, e já estou naquela situação metida de querer escolher milimetricamente o local onde vamos assistir aos jogos do Brasil, porque muita gente falando me desconcentra mas também sozinho em casa não tem emoção.

O futebol me pegou de jeito, e ando achando a Copa rápida demais: pois então já estamos indo pra semi-final, e semana que vem acaba a brincadeira? Logo agora que eu me contagiei? Passarei o próximos quatro anos torcendo pra próxima chegar logo, e espero que ela me encontre de casa nova, morando com meu namorado e com um filhote no colo. Afinal, quatro anos não são quatro dias e nada melhor pra passar o tempo do que sonhar e botar em prática a vida da gente.

22.5.06

Volta ao palco

Depois de uma longa temporada quieta em público, vou voltar à ativa em grande estilo, dentro do BENDITA PALAVRA MALDITA, um evento super bacana com 8 dizedores /performers/ poetas da cidade, tudo organizado pelo Chacal no Sesc Copacabana. Vai ser minha primeira vez solo, só poeta e dizedora, com meia-hora pra fazer o que eu bem entender sem me preocpuar com oeventoaproduçãoosconvidadosaluzalistaetc.
Pra melhorar ainda mais a coisa, divido a noite com a Viviane Mosé, amiga querida e poeta que eu admiro demais. Estou super feliz e vou adorar ver todo mundo lá!

BENDITA PALAVRA MALDITA

quatro noites de Artimanhas.
a poesia propriamente dita.
duas gerações de praguejadores.
duas constelações de autofalantes.

ESPAÇO SESC - COPACABANA
rua Domingos Ferreira, 160 - 2547 0156
DE 25 A 28 DE MAIO DE 2006 (5a a domingo)
ENTRADA FRANCA

25/05 (5a f.) - 20 hs = FAUSTO FAWCETT / BOTIKA
26/05 (6a f.)- 20 hs = ALEX HAMBURGER / DOMINGOS GUIMARAENS
27/05 (sáb.) - 20 hs = CHACAL/ OMAR SALOMÃO
*28/05 (dom.) - 19 hs = VIVIANE MOSÉ / MARIA REZENDE*

concepção e direção = chacal / produção executiva = gisah ribeiro.

*******************************

imagine se,
por algum estranho motivo,
a música parasse de tocar

*******************************

e fosse consumida apenas através de partituras.
o mundo ficaria mais triste.

***********************

foi isso que aconteceu com a poesia.
ela se afastou da fala, do corpo
e se confundiu com a escrita,
tornando-se monopólio
de um estreito círculo de iniciados.

mas isso está mudando.
isso está mudando.

(chacal)


*******************************


30.4.06

Joan Brossa

"Contos" (Joan Brossa)

Joan Brossa é minha nova paixão, e estou atrasadíssima, porque o cara é um mestre da poesia na sua expressão mais ampla. Ele é catalão, nascido em 1919, e ao longo da vida fez poesia de todos os jeitos que se possa imaginar: com palavras, com imagens, com objetos, com instalações...

Eu o descobri numa exposição deslumbrante no MAM aqui do Rio, que fica em cartaz até 11 de junho, portanto não percam a chance de ver de perto o trabalho dele!


"Bombeta poema" (Joan Brossa)



10.4.06

Poderes do pau mole

Esse poema é um espetáculo: é ele que me fez conhecida e reconhecida no Rio, ele anda sozinho por aí, cada vez mais, e ainda me leva junto! Dessa vez foi pelas mãos da Ana Carolina, que leu ele numa festa cheia de gente interessante, e além do luxo de ter minha poesia ouvida por tanta gente que eu admiro, ainda tive nota no jornal por isso, no Globo e no JB! Só que nas duas notas o poema ficou órfão, sem meu nome como autora... Mas como ele anda muito sozinho mesmo, já fiquei bem feliz, afinal quem conhece sabe que ele é meu!

Mas pra melhorar a história, Carol Oliveira, minha amiga assessora de imprensa, conseguiu que o meu crédito fosse dado no JB de ontem, na coluna da Marcia Peltier, a mesma que publicou a primeira nota na sexta feira, então agora ficou perfeito: meu poema mais popular me levando pela mão com a ajuda querida da Ana e da Carol.

Obrigada, meninas!

O Globo, 6a feira, 07/abril - coluna Gente Boa
O início de tudo
Maria Bethânia, Zeca Pagodinho e Sandra de Sá (foto) foram anteontem à Festa do Sutiã (Só amigos do peito), promovida pela cantora Alcione, em sua nova casa no Recreio. Houve récita de poetas maranhenses. Num intervalo, a cantora Ana Carolina recitou o poema “Pau Mole”— “onde tudo começa e tudo termina”.


JB, 6a feira, 07/abril - coluna Marcia Peltier
Turma gaiata
Alcione reuniu amigos em festa para apresentar sua nova casa no Recreio, anteontem. Num recital comandado por Elisa Lucinda, Ana Carolina recitou um poema com o curioso título de P... mole. Ao fim, Elba Ramalho, Maria Bethânia, Antônio Pitanga e Benedita da Silva irromperam em gargalhadas.

JB, domingo, 09/abril - coluna Marcia Peltier
Tem currículo
É da autoria de Maria Rezende o hilariante poema P.. Mole, que tanto sucesso fez na festa da cantora Alcione. A moça, no entanto, inspira respeito: recebeu elogios de Manoel de Barros e José Saramago por sua arte e produziu durante três anos, na Laura Alvim, o evento multimídia Te vejo na Laura.

28.3.06

Imagining Ourselves Brasil

(foto de Matthias Brendler)
Foi ontem a noite do Imagining Ourselves Brasil, reunindo algumas das artistas brasileiras que fazem parte desse projeto incrível. Confesso que estou totalmente fora de forma como produtora: precisei acionar o Rodrigo pra me ajudar a fechar a participação musical da noite, virei noite editando o vídeo que (claro) ficou pra em cima da hora, meu gravador de dvd novinho se recusou a gravar os quadros que seriam o cenário da noite, e pra coroar esqueci o câmera, o tripé e as fitas pra gravação em casa e tive que voltar pra buscar a 1h do início do evento!

Mas enfim, tudo no fim deu mais do que certo: a noite foi maravilhosa, todas nós felizes pra xuxu, o vídeo ficou lindo (que se dane a modéstia!), e foi bom demais falar meus poemas ali, naquele clima. A parte musical foi sensacional: Bianca Gismonte e Claudia Castelo-Branco formam o Duo GisBranco, duas moças lindas tocando piano com o coração nas mãos e um sorriso no rosto, música da melhor qualidade! Depois Elisa Lucinda arrasando como sempre, surpresa pra quem não conhecia e prazer pra todos.

Valeu o cansaço. Vou tentar descobrir como postar vídeo, se conseguir coloco ele aqui pra todo mundo ver!

23.3.06


De volta ao Rio, estamos correndo com os preparativos pra essa noite brasileira do Imagining Ourselves. Segunda-feira, 27 de março, Armazém Digital do Leblon, dentro do Rio Desging Center, a partir das 20h. Nós, algumas das brasileiras envolvidas com o projeto, e a presença sempre especial da Elisa Lucinda. Apareçam, apareçam, apareçam!

10.3.06

Imagining Ourselves ao vivo e a cores

Entao foi ontem a grande noite de Gala pro lancamento do Imagining Ourselves. Uma super exposicao de alguns dos trabalhos do livro, um computador dando uma previa da exposicao virtual, que acho que vai ser o maximo, bebidinhas, comidinhas, depois jantar e discursos mil. Na hora da festa esquentar, com uma banda de salsa animadissima, metade da festa foi pra casa!

Mas nos, as latino-americanas (eu e Andrea Annunziatta, as brasileiras que viemos pra festa, mas mexicanas e que tais), nos unimos as meninas da equipe do museu (que tinham mais a comemorar do que qualquer pessoa, ja que estao trabalhando nisso ha 5 anos!) e dancamos ate acenderem a luz! O que nao quer dizer tanto, ja que americanamente tudo acabou antes de 23h30...

Mas fora a diversao foi uma noite poderosa de troca de experiencias, e conheci gente muito interessante: a Monica Gonzales, uma americana que se nacionalizou mexicana pra jogar futebol na selecao do Mexico; a Pireeni Sundaralingam, uma poeta do Sri Lanka casada com um violinista do Pais de Gales; a Mayerly Sanchez, uma menina colombiana de 22 anos que ha 10 ajudou a criar o Movimento das Criancas pela Paz, um movimento social poderoso que vem ajudando a mudar o cenario de violencia no pais, alem e claro da Andrea Annunziatta, artista plastica brasileira que mora em Miami com o marido e o filhinho de 17 meses, e que tem dois trabalhos lindos na antologia.

Bom, a festa chique passou, mas o projeto esta apenas comecando: ate julho esta no ar uma exposicao virtual com um tema diferente a cada mes, e aberta pra participacao de todo mundo. Nos, que ja estamos envolvidas com o projeto, temos agora a tarefa de espalhar o Imagining Ourselves pelo mundo, e como o meu mundinho e o Brasil e mais especificamente o Rio, no dia 27 de marco teremos uma versao brasileira do projeto no Armazem Digital do Leblon. Bom, mas isso ja e assunto pra um proximo post... Guardem a data!

5.3.06

san francisco


Agora e oficial (e sem acentos, no computer americanizado do meu irmao): cheguei em Sao Francisco quinta-feira, exausta de uma viagem de 23 horas (apesar do voo ser de 12 horas: chatices da Varig, cujo voo Rio-SF do Smiles passava pela Europa... Entao acabei vindo por LA, horas de esperas nos aeroportos do Rio, SP e LA!).

Mas a cidade e linda, a casa do Tiago muito gostosa, e fora a Gala chique que foi o motivo da viagem, tenho muito pra ver e fazer por aqui ate dia 15, quando chego de volta no Rio. Agora que ja me recuperei da viagem, vou dando noticias por aqui!

19.2.06

Imagining Ourselves


Aí está o livro, Imagining Ourselves, a coletânea de trabalhos de mulheres do mundo inteiro que tem um poema meu dentro! Semana passada ele chegou aqui em casa pelo correio, e além do prazer de me ver incluída num projeto tão bacana fiquei impressionada com a quantidade de trabalhos interessantes: fotografias, pinturas, poemas, trechos de romances, arte de tanta gente diferente que eu nunca teria como conhecer! O livro está à venda no site do International Museum of Women, e eu vou ver se trago alguns pra vender aqui quando voltar de São Francisco.

Por conta do Imagining Ourselves, eu e mais outras brasileiras que também foram selecionadas pro projeto estamos nos reunindo pra fazer uma noite feminina no Armazém Digital, no fim de março. Sabem que o Brasil é o país que tem mais mulheres selecionadas depois dos Estados Unidos? Muito chique, e temos que celebrar! Esperem notícias!



12.2.06

internacional


Agora é oficial: dia 8 de março a Maria aqui vai estar nessa festa aí em cima, a tal Gala do lançamento do Imagining Ourselves, o projeto do International Museum of Women que reúne trabalhos de mulheres do mundo inteiro. Meu poema "uma mulher é uma mulher" me garantiu uma vaga, e com o irmão morando lá com uma vaga sobrando na casa, e milhas generosamente doadas pelo pai, a oportunidade ficou imperdível! Então de 1 a 15 de março estarei de volta à Califórnia, e logo do lado de Berkeley, onde eu passei um semestre inesquecível em 2000 estudando literatura. Mais uma vez todos os fatores se juntam do melhor jeito na minha vida, e o pequeno esforço de mandar um poema por email vira toda essa história! Só posso chamar isso de sorte e agradecer, e agradeço, e aproveito!

27.1.06

prazer


A foto já diz tudo: Chico Cesar com meu livro na mão. Não tem preço. Essa foi a cereja do bolo de um fim-de-semana delicioso em São Paulo, eu e Rodrigo feito dois turistas andando pela cidade toda, Liberdade Bexiga Benedito Calixto VilaMadalena Paulista Augusta Ibirapuera, e tome metrô (ah, se o Rio tivesse um assim...). A viagem era de trabalho mas o trabalho era parte do prazer: entrevistar o Chico Cesar prum documentário que a gente tá fazendo juntos com poetas falando de poesia, arte e da vida em geral.

Enfim, dias ótimos, e no fim Chico Cesar com meu livro na mão. Ele aliás agora é poeta também por escrito, e "Cantáteis" é um livro lindo, versos misturando o melhor da urbanidade paulista à tradição nordestina que o Chico carrega. Recomendo vivamente, depois me contem.

3.1.06

2006

Nada disso: 2005 virou 2006 e aqui no meu blog querido um texto triste pré-natalino, totalmente fora do clima de um ano que começa.

Então vamos lá: lembro que no fim-começo de 2004-2005 escrevi aqui coisas que desejava, e fico feliz de ter cumprido algumas delas, e animada pra cumprir nesse novo ano de só 3 dias ainda as que ficaram faltando. Pintei o cabelo de rosa, diminuí o comprimento das saias, saí mais sozinha, arrumei a minha casa. Mas não escreviescreviescrevi. Nem escreviescrevi. Na verdade escrevi bem pouco, menos do que eu gostaria e poderia. E cuidei bem pouco da minha vida literária.

O fim iminente de 2005 me deu gás pra correr com o que estava atrasado: antes do dia 31 revisei meu livro novo, comprei tinta pra impressora, imprimi e encadernei o bichinho, e revisei a cópia impressa. Também preparei um super release com fotos e matérias de jornal, além de um texto falando muito bem de mim e da minha poesia. Ufa! Resta pra 2006 registrar o livro na Biblioteca Nacional (e só então eu conto o título, tá? :) e achar uma editora que queira me publicar, essa sim uma tarefa árdua... Mas com meu super release e o catálogo da Primavera dos Livros que eu ganhei no ano passado, vai ser moleza: vou mandar emails pra me informar sobre a possibilidade de publicação já com o release em anexo, e aí quem sabe algumas delas dão uma olhada, se animam, e me chamam pra um papo?

Como de poesia não se vive (a não ser a Elisa Lucinda), o ano que começa tem ainda como meta a consolidação da minha função de editora de vídeo e afins. A meta é que quando ele termine a minha função se chame "montadora", o que quererá dizer que estou mais qualificada, mais competente e mais bem paga!

E como a vida não é só trabalho, os cabelos devem continuar a crescer, com as pontas douradas firmes e fortes, as saias vão se manter curtas, o corpo vai se manter em forma, e quero ir mais à praia e ver mais os meus amigos, e conhecer gente nova interessante, e ainda fazer uma puta viagem incrível, e continuar com o meu namorado lindo ao lado junto dentro, e inventar com ele jeitos novos de parceria que façam desse um ano ainda mais feliz.