25.12.06

Meu Natal 2006

(vovó e o Papai Noel, em foto inédita e fundamental)





São 3h da madrugada, cheguei da festa de Natal descrita extensiva e emocionadamente no texto aí embaixo, e o sono ainda não me pegou de jeito, então vim parar aqui. Engraçado: esse post "Natal com sentido" começou como um desejo de reclamar do Natal e acabou virando quase uma ode a ele, reavivando minhas lembranças mais antigas e gostosas. Por conta dele recebi mil comentários emocionados da família, tanto que acabei lendo ele hoje à noite durante a festa, antes do jogral de todos os anos, e foi muito bom compartilhar com as pessoas que viveram e vivem essa história, e a gente estar ali de novo, anjos na parede, cartões na porta, pinheiro cheiroso piscando, e a vovó lindona no comando.

Depois de escrever o texto mergulhei ainda mais na minha insatisfação com o consumismo natalino, e resolvi fazer presentes, ao invés de comprar. Comprei blocos e caderninhos, paetês, fitas de cetim, linha de crochê, agulhas e cola pra tecido, tirei do armário os panos que eu compro pra usar num dia que nunca chegava, e mãos à obra! Foram três dias de loucura bordando paetês e colando chitas e fitas, mas confesso que estou orgulhosíssima da obra, que exibo aí embaixo junto com algumas fotos geniais do Natal desse ano.
(meus blocos, presentes e obra)
Outro acontecimento especial desse ano foi a estréia do Luiz no Natal da Barão (nome oficial da casa da vovó). Todo ano ele vai com a mãe pra Minas, visitar a família deles, e a cada ano que passa o menino cresce e se urbaniza e gosta menos de ir pra roça, viver por um mês a vida simples do campo. Mas pra nós o que sempre deu mais pena era ele perder a chance de viver esse Natal, de conhecer o Papai Noel e ter uma noite daquelas de cinema. Pois esse ano a chance veio, por vias tortíssimas, mas diz meu amigo Pedro Cezar, "há malas que vão pra Belém" (ou "há males que vêm para o bem" mesmo).
A Graça, mãe do Luiz, teve um problema grave de varizes anteontem, véspera da viagem pra fazenda, e o médico recomendou repouso e pernas pro alto, coisas impossíveis de cumprir dentro de um ônibus sem ar durante 8 horas. Mãe e filho ficaram, pois, no Rio, e embora ela tenha se recusado a ir pra festa, ele, Luiz, vibrou com a oportunidade. Aí em cima, registro do momento em que o Papai Noel adentrou a sala, ele com esse olhar de maravilha. Aqui embaixo, o abraço inédito e a felicidade.

17.12.06

Natal com sentido


A cada ano tenho menos apreço pelo Natal.

Não me entendam mal: meu Natal é incrível. Tenho uma família enorme e unida, comandada lindamente pela vovó, uma matriarca daquelas de livro de antigamente, e o Natal é a coroação das celebrações que ela promove, amorosa e dedicadamente, o ano todo. Nossa festa é cheia de tradições deliciosas de manter, que na minha infância começavam muito antes da noite do dia 24.

Quando crianças, a casa da vovó era o quartel general das férias de todos, alguns hospedados lá porque moravam fora do Rio, outros indo pra casa só pra dormir e voltando cedinho no dia seguinte pra não perder nada. No meio de dezembro começavam os preparativos: um pinheiro de verdade, cheiroso e enorme, chegava e era levado pra sala de jantar, onde era enfeitado com bolas e luzinhas. Na parede da sala eram pendurados anjinhos de pano, com roupas coloridas, cada um representando um neto, e a cada ano aumentavam os anjinhos na parede. Dindinha Zélia, prima da vovó que morava com ela e era madrinha amorosa de todos nós, arrumava o presépio: papel imitando pedra cobrindo a mesa, palha no bercinho do menino jesus, e as figuras de barro representando todo mundo que tinha que estar lá. O dia mais esperado era quando vovó juntava os cartões de Natal que recebia e a gente fazia rolinhos de durex pra colar todos na porta da sala, subindo num banquinho pra alcançar as partes mais altas que hoje eu toco sem nem precisar ficar na ponta dos pés.

Na noite de Natal cada neto ganhava uma figura do presépio e decorava seu "texto". Mariana, a mais velha, era a narradora, posição sempre disputada mas nunca conquistada por ninguém por anos a fio. Os menores eram os bichinhos, e só tinham que fazer "múuu" ou "béeee". Os maiorzinhos eram os pastores, diziam "viemos trazer incenso pra perfumar o menino" e outras frases assim. Depois tinha amigo oculto entre as crianças, depois entre os adultos, daí a leitura de um jogral sobre a árvore de Natal, com os convidados recebendo na hora seus números pra ler, e sempre tinha um que esquecia e deixava aquele buraco, preenchido por uma tia atenta. Nosso sonho, quando crianças, era poder ler o jogral, prova inequívoca de maturidade.

O ponto alto da festa era a chegada do Papai Noel. A porta da sala era fechada e a gente ficava lá dentro cantando "deixei meu sapatinho na janela do quintal, Papai Noel deixou meu presente de Natal, como pode Papai Noel, não se esquece de ninguém, seja rico ou seja pobre o velhinho sempre vem". Depois de minutos intermináveis de suspense ele chegava vestido a caráter, e os corações paravam de susto e maravilha. De dentro de sacos vermelhos de veludo saiam embrulhos, e cada um era chamado pelo nome pra receber o seu presente, momento de tirar a famosa foto com o bom velhinho, pra prazer de uns e terror de outros. A felicidade maior era quando ao invés de um embrulho vinha um cartãozinho dizendo "seu presente está no salão", o que queria dizer que o presente era tão grande que não cabia no saco do Papai Noel, o que já excitava todo mundo: será uma bicicleta? Um velocípede?

Depois de toda a emoção Papai Noel ia embora, visitar outras famílias, e a gente ficava ali entre papéis rasgados e fitas, comemorando a alegria de ser crianças boas e merecer aquela visita. Era a hora do jantar, uma ceia de delícias inenarráveis, seguida pela entrega de presentes da vovó, sempre incluindo alguma coisa personalizada pros netos: toalhas bordadas com o nome e o jeito de cada um (meu irmão uma vez ganhou uma do Vasco, pode?), pijamas com estampas escolhidas a dedo, malas de viagem com o nome do dono. E a noite terminava com a gente chegando em casa, exausto de tanta felicidade, e colocando um pé de sapato na janela do quarto pro Papai Noel deixar o "sapatinho", presentinho simbólico diante dos grandes da festa mas sempre aguardado com ansiedade até o dia seguinte.

Hoje não temos mais crianças suficientes pra encenar o presépio. Mariana, a narradora oficial, fez 30 anos em junho, e todos os netos já estão aptos a ler o jogral. Mas as tradições continuam firmes, árvore, cartões na porta, amigos ocultos, jogral, jantar, presentes da vovó e, fundamental, Papai Noel a caráter. O fato de que apenas dois dos vinte netos têm menos de 10 anos não muda nada: Papai Noel é esperado com cantoria, chega com seus sacos e chama cada neto pelo nome, mesmo os que já teria idade pra dar bisnetos pra vovó.


A família é unida e as tradições são mantidas, e a gente gosta. Meu problema com o Natal não tem a ver com essa festa, mas com o conceito da coisa. Vamos lá: Jesus nasceu e eu, que não participei em nada do fato, tenho que dar presentes pra todo mundo que eu conheço?! Ah, não concordo! A beleza do Natal da minha família pra mim está na união improvável de tanta gente tão diferente, mas que mantém um amor cultivado em noites e tardes como essa, e o Natal é então uma festa da nossa amizade, do nosso carinho. Quando criança queria saber era dos presentes, sem me dar conta de que o se cultivava ali era um laço muito raro e do qual eu me orgulho muito hoje. Meu Natal ideal, em 2006, teria leitura de jogral, jantar de delícias, papos com primos e tias e comandando a festa a vovó toda bonita nos seus quase 88 anos, além do vovô em uma das suas noites de bom humor garantido.

Os presentes, ah, os presentes a gente distribuiria ao longo do ano, quando passasse numa vitrine e pensasse "nossa, isso é a cara da minha madrinha!", ou 'ih, a mamãe está precisando disso, vou dar pra ela". Os presentes tem que ser a expressão do nosso amor particular por alguém, e esse amor não acontece de uma vez todo dezembro em meio a lojas cheias e preços salgados: esse amor é de todo dia, de cada dia, e eu acredito em cultivá-lo e expressá-lo assim, um pouquinho e sempre, com presentes e carinhos, o ano todo.

Pra quem gosta muito de presentar, recomendo um projeto lindo que eu descobri esse ano: o Papai Noel dos Correios. Todo ano eles recebem milhares de cartas de crianças pedindo presentes, e qualquer um pode ir a uma agência e adotar uma carta: comprar um presente pra uma dessas crianças e deixar numa agência, e os Correios mandam um carteiro vestido de Papai Noel fazer as entregas. Taí um presente de Natal que faz sentido.

15.12.06

Entrevista

Sempre adorei ler entrevistas, principalmente aquelas que são papos descontraídos, em que a gente fica sabendo coisas não tão óbvias sobre o entrevistado. Não estou acostumada a estar do lado de lá das entrevistas, falando ao invés de lendo, e é uma delícia!

Semana passada dei uma entrevista ótima pro Ramon Mello, que é ator, contista e jornalista, tem uma coluna de livros na revista Suíte Rio e outra de entrevistas com novos escritores no site Click 21. Ele já tinha resenhado o substantivo feminino pra Suíte Rio, e agora me convidou pra ser a segunda entrevistada da coluna Clik (In) Versos.

A entrevista ficou super bacana e ilustrando ela está a foto que será a capa do meu livro novo, tirada pelo Pedro Molinos, fotógrafo super legal com quem eu estou trabalhando e que generosamente me fotografou num intervalo da labuta.

Tem que entrar no site Click 21, daí clicar em COLUNAS do lado esquerdo, e logo no alto está a chamada pra mim!

Leiam! Leiam! Leiam e me contem!

9.12.06

A poesia voa


As duas últimas semanas foram um pulo de volta no mundo da poesia, escrita e falada. Tô finalmente correndo atrás da publicação do meu livro, espalhando ele por aí e buscando formas de chegar nas editoras. Os resultados começam a aparecer, as pessoas gostando e se oferecendo pra me dar uma força nessa batalha, então vamos que vamos!

Também voltei a falar meus poemas, coisa que não fazia há tempos! Primeiro a convite do Donatinho, cuja banda ia se apresentar no Vivo Rio num evento da MPB FM, que tinha também Lenine e Afroreagge. Ele me chamou pra dar uma canja e foi uma delícia, aquela casa enorme lotada, e todo mundo ficando quieto pra me ouvir falar. O palco é uma delícia, quase uma droga de tão viciante, e foi bom ter essa recaída! No domingo eu e Rodrigo fomos nos apresentar no Aterro do Flamengo num evento super popular, junto com a Mari Dias e o Claudio Lyra (a Cia Dias de Lyrios) e o Jean Kuperman, e foi ótimo também!

Agora amanhã tem palco de novo, e um especial que eu adoro: o do
Circo Voador! De domingo a terça-feira vai rolar a segunda edição do Poesia Voa, evento organizado pelo Tavinho Paes, o Bruno Cattoni e a Maria Juçá lá no Circo, o primeiro grandeenorme evento só de poesia na cidade, muito chiquérrimo em seu ano 2! Rodrigo vai tocar e eu vou dizer uns poemas amanhã, 2a feira dia 10, de noite, lá prumas 20h ou 21h, eu acho. Independente da gente, recomendo uma passada no Circo em algum momento desses 3 dias, a programação dura o dia todo e tá cheia de coisas bacanas, então apareçam!