31.8.07

Elke


O cinema sempre perpassou a minha vida, desde pequeninha. Com um pai diretor e uma mãe produtora, passei anos me perguntando se queria fazer cinema e fingia que não pra fugir da obviedade, ou se não queria fazer cinema e achava que sim pela sedução intrínseca desse universo. Ao longo dos anos fui experimentando: fui estagiária, assistente de direção, dirigi um curta, alguns making ofs e até comecei a co-dirigir um longa documental, que continua em fase de elaboração.
Quando comecei a trabalhar com montagem tudo se encaixou. Levou um tempo até eu perceber que, mais do que um trabalho provisório pra ganhar dinheiro, esse era o trabalho que eu queria pra minha vida, junto e ao lado de ser poeta - que é paixão e sina, não profissão. Desde então coloco "montadora" em formulários e proclamo por aí a minha vontade de viver fazendo isso.
Por isso é uma alegria imensa ter um filme montado por mim escolhido pro Festival do Rio desse ano. 2007 foi o ano curtas na minha vida. Até agora foram 3: "Procurando Jorge Mautner", do Rodrigo Bittencourt; "Minha rainha", da Cecília Amado; e o "Elke" aí de cima, da Julia Rezende.
Como o sobrenome já denuncia, a Julia é minha irmã, o que só aumenta a alegria. Esse é o primeiro curta dela, produzido pela Camila Medina, minha irmã-escolhida, e tome alegria! O filme está uma delícia, um retrato amoroso dessa mulher além de todos os estereótipos, com um enfoque cuidadoso e delicado da Julia.
Pra mim, que já estive no Festival como diretora junto com o Rodrigo com o nosso "Por acaso Gullar", é um luxo voltar ao Festival agora como montadora. E que venham mais filmes e festivais por aí!

3.8.07

ainda a morte, agora em verso

Arroz de carreteiro numa casa masculina
O jeito doce
Broncas entre risos num elevador
da cidade de São Paulo

Claras em neve no banquinho da cozinha
Novela das oito no ar-condicionado
Caxambu e a fonte da beleza
Ser “princeza” com “z” na sua letra rebuscada

Me achar a sobrinha preferida
Gargalhadas com Chico Anísio
Cócegas até doer
Brigas no vôlei e os olhos de piscina

Camisetas velhas e tênis cinza anos 80
O preconceito e a descoberta
Pão de queijo ruim e belas conversas
Admiração e sonhos na minha geração

Ser chamada de Aretuza ao passar na porta
Contar os passos entre nossas casas
Velhas marchinhas de carnaval:
“Ó mulher vampira!
Ó mulher fatal!
Por causa de você levei um tiro!
Passei um mês e meio no hospital!
Ai, ai, ai...”

Meus mortos e suas memórias
Rasgos de dor na minha históriaPorradas doces com as quais caminho.