29.7.07

confesso e indico

Não devia dizer isso, mas não sou leitora muito assídua de blogs. Na verdade fuço pouco por aí, e acabo lendo sempre os mesmos poucos, de gente de quem eu gosto e cuja escrita me anima, como é o caso dessa listinha aí na esquerda. Mas o blog por onde eu mais passo não está aí, na lista. Não está por pudorzinho e orgulho besta, por uma sensação de que ela já não precisa de indicações, e não vou ser mais eu a encher a bola da moça.

Mas hoje entrei no blog da Clarah e não deu pra continuar disfarçando. Porque a carta aberta dela sobre o seu porteiro (O Zelador - partes 1 e 2) que está lá descreve exatamente o que eu vivo aqui! E como ela já fez isso brilhantemente, com toda a sua ironia e potência, encaminho pra lá quem vem aqui me ler, porque os detalhes são diferentes, mas a sensação é a mesma.

E pronto, eu indico: Clarah Averbuck. adioslounge. Boa leitura na sua telinha.

23.7.07

incompreensões 2

Foto no Globo Online: uma menina no ombro do pai, de vestido branco, cabelinho arrumado e soprando uma língua de sogra, daquelas de festa infantil de antigamente, observa o local do acidente da TAM em São Paulo.

E isso agora é programa de domingo pra criança, gente?!

21.7.07

incompreensões

Ainda não entendo a morte como ela realmente é. Ou entendo, mas não concordo muito. Tá, a pessoa morre, aí a gente chora, se despede, ela some do mundo que se pode ver, mas precisava ser por tanto tempo, assim, pra sempre?

Não tive que lidar com muitas dessas dores ainda, e agradeço o privilégio. Já fui a muitos enterros e chorei e consolei e fui consolada, mas morte daquelas de doer por muito tempo e assombrar muito tempo depois por enquanto só foram três ou quatro. E quando a saudade dessa gente bate com força viro criança com uma lógica sem nenhuma conexão com a realidade e penso, poxa, a vovó já foi há tanto tempo, já estava na hora dela voltar um pouquinho!

Me parece um egoísmo, sabe, que agora ela só possa existir na minha lembrança e na de quem ama ela. Eu posso lembrar dos dias com ela e andar pela casa dela que nem existe mais vendo cada móvel, cada objeto, sentindo o cheiro dos cômodos, subir no banquinho da cozinha pra bater clara em neve e sentir a textura do carpete marrom escuro da sala no pé descalço. Tudo isso eu posso, e aproveito.

Mas ela não pode vir conhecer a minha casa, uma casa tão cheia de influências dela apesar da imensa diferença das nossas vidas, eu dividindo o teto com um homem amado sem padre nem papel, coisa inconcebível pras netas dos outros mas eu era a sua "princeza" e o amor quebra as barreiras das idéias pré-concebidas. Eu olho pra minha cozinha com seus mil potinhos separando os ingredientes e sei que esse amor pela organização que pra mim quase que só existe nessa parte da casa nasceu lá, na cozinha dela.

E sigo não entendendo, ou não concordando, com isso que se chama morte e que não tem a menor generosidade com quem fica...

11.7.07

quarta-feira sem cinzas


Era hoje. Antes era no começo de junho. Depois no fim. Aí passou pra hoje. Quer dizer, nessa época hoje não era assim, hoje, era "dia 11 de julho". Faltava um bom tempo pra esse dia, mas eu fui adiando a ansiedade.

Até que chegou ontem, o dia 10. Aí a ansiedade cansou de ficar quieta e começou a falar no meu ouvido. Falou tanto que quando deu meia-noite, bem no primeiro minuto do dia 11 lá fui eu pro site da Petrobras ver o resultado. Mas ainda não. Era dia 11 às 11h da manhã. Faltavam 11 horas.

Eu espero. Tudo bem.

Acordei às 9h e dei uma incerta por lá. Quem sabe eles não se adiantaram? Mas eles não se adiantaram. Inventei coisas pra calar a voz da ansiedade, e por fim resolvi sair de casa pra ir trabalhar. Adivinha a que horas?

10h54. Boa idéia, Maria. Genial.

Corri feito louca pra chegar o mais rápido possível a um computador. Desliguei o celular pra não receber a notícia - boa ou ruim - de mais ninguém. Queria ver eu mesma a notícia na tela. E vi.

Eu não fui selecionada. O Bendita Palavra, meu livro novo, não foi um dos escolhidos no edital de produção e difusão de literatura da Petrobras. Foi chato. A grana e a infra deles iam encurtar um caminho compridíssimo, mas eu não dependo disso pra transformar o que escrevo em uma pilha de papéis encadernados que cabe certinha na mão de quem lê.

Isso é aqui comigo. E a festa continua.