14.9.07

América Latina I




A semana passada foi de férias imprevistas pro casal. Foi nossa segunda viagem pela América do Sul, e nossa estréia no Uruguai, em Montevideo, cidade linda a que a gente nunca tinha ido. A maioria das pessoas com quem conversei na semana que separou a decisão de ir pra lá pra ida propriamente dita nos perguntou: mas por que Montevideo? O tom variava da curiosidade genuína a um espanto que teria desanimado alguns. Mas não eu, leitora apaixonada do uruguaio Eduardo Galeano e seduzida pelo seu olhar amoroso pra sua cidade. E respondia assim mesmo: porque eu adoro Galeano, porque aprendi com ele que nós brasileiros somos também latinoamericanos, e nada mais lógico do que conhecer os países vizinhos, ainda mais quando a Europa anda tão cara e os Estados Unidos nos barram na porta. E além disso de lá vem o Jorge Drexler, melhor descoberta musical dos últimos anos, cujo disco "Eco" não sai da vitrola aqui de casa desde que compramos.



Montevideo é linda, uma cidade com orla de rio e tempo de antigamente, cheia de praças bonitas, bares e restaurantes bacanas, e muita gente simpática pra todo lado. Tudo lá estava incrivelmente barato pra gente, e aproveitamos pra comer bem e passear muito. A dica pra quem for é ficar no Centro, onde era nosso albergue Che Lagarto, escolhido exatamente por isso. Só que chegando lá detestamos nosso quarto, que não tinha mesa-cadeira-cabide-armário, nada além da cama e olhe lá. Daí fomos parar num hotel Ibis, padrão-americano de qualidade, que realmente nos deu tudo o que a gente precisava por uns poucos dólares a mais que o albergue, e que apesar de estar fora do Centro era de frente pra Rambla, o que compensava a perda.



Andamos feito loucos, comemos a qualquer hora, fizemos tudo que deu na telha, arrastamos malas pela rua, dirigimos sem saber o caminho, compramos sapatos iguais, e eu comprei, já sabendo que nem ia tocar nele lá, o último livro do Galeano que me falta ler, "Venas abiertas de la America Latina", assim mesmo, em espanhol, porque o medinho que eu tinha de ler esse livro se foi quando dei de cara com o Uruguai e percebi o quão perto ele está de tudo, o quão perto a gente está de lá e de tudo mais, e agora, já no Rio, aproveito o prazer de ler esse cara que eu adoro na sua língua, e de conhecer o que ele teve a dizer sobre tudo isso ainda nos anos 60, e que é cada vez mais relevante nos anos 2mil.



Dicas pra quem for:



- andar pela Rambla, que é a orla de lá e corta a cidade de uma ponta a outra, ou seja, de Carrasco (bairro antigo e cheio de casas deslumbrantes e sem muros ou grades, pra nosso espanto carioca) até o Mercado del Puerto, antigo mercado transformado em centro gastronômico que reúne restaurantes de 'parrilla' (churrasco deles) e bares bons pra beber medio-a-medio, mistura de vinhos brancos e espumante típica de lá.



- se admirar com a beleza da Plaza Independencia, passar pela Puerta de la Ciudadela e andar pela Ciudad Vieja, sentar nas praças e se sentir seguro em qualquer ruazinha deserta



- jantar no Bar Tabaré, um bar-restaurante super tradicional e ainda assim moderninho, ótima comida e clima



- ouvir boa música e beber 'uvita' (outra mistura de vinhos deliciosa, que só esse bar tem) no Baar Fun Fun, perto da Plaza Independencia



- passar uma noite pulando de bar em bar na Calle Bartolomeu Mitre, na entrada da Ciudad Vieja: são vários, cada um num estilo, quase todos com música ao vivo, e como os preços são ótimos dá pra beber e comer um pouquinho em cada um



- sentar pra tomar alguma coisa no Café Brasileiro, lugar preferido do Galeano (se é que alguém além de mim se interessa por essa informação). Independente da literatura, é um dos cafés mais antigos da cidade, e apesar da gente não ter gostado de nenhum café (a bebida, não o lugar) em Montevideo, vale uma visita



- pegar um barco pra ir a Buenos Aires, que pode ser direto de Montevideo (3h de viagem) ou passar por Colônia, cidade que todo mundo diz que é linda mas que a gente acabou não conhecendo, por confusões de viagem e uma certa ansiedade de chegar em Buenos Aires, que a gente ama.



Notícias de lá no próximo post...


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