20.5.04

primeiro poema

Escrevi esse título aí em cima e depois pensei: que coisa mais forte, primeiro poema... Eu ia só colocar um poema aqui hoje, e como ia ser o primeiro do blog escrevi isso, mas daí achei tão sério que pensei em colocar o meu primeiro poema - ou o primeiro que me fez pensar "nossa, será que eu posso ser poeta?" e desencadeou todo o resto. Mas confesso que não saberia precisar exatamente qual foi...

Isso me fez pensar numa conversa que tive ontem com a Elisa Lucinda, minha amiga e mestra, sobre títulos e como eles podem ampliar brutalmente o entendimento de um poema. Eu não sei brincar de título, e no meu livro os poemas vêm a seco mesmo, por falta de opção. Até o título do livro foi uma novela, e eu estava decidida por busca, s.f., sendo s.f. substantivo feminino, naqueles moldes de dicionário, sabe? Minha mãe achava que parecia futebol clube, e a Elisa achou que parecia Cristiane F, drogada e prostituída, e acabou que foi ela que me deu a chave: pra quê o busca? substantivo feminino era o suficiente, e não naquelas ridículas abreviações, mas de forma clara e direta. Assim ficou e eu sou eternamente grata às críticas, porque a-d-o-r-o o nome do livro, que eu acho que combina com ele e comigo.

Voltando ao título do post, vou colocar aqui então o primeiro poema do substantivo feminino , que aliás é o meu único poema feito sob encomenda. Eu estava em Fortaleza trabalhando e recebi um telefonema da Thiaré, amiga do meu namorado, me pedindo um poema sobre mulher pra abrir uma noite que ela estava organizando no Cep 20.000. Eu já estava com umas idéias e escrevi esse poema que acabou abrindo não só a noite do Cep mas também o meu primeiro livro, sendo portanto um poema com vocação pra aberturas...

Uma mulher é uma mulher ainda que.
Palavras e formas não comportam o conteúdo.
Uma mulher pode ser um jeito
Uma costela ou um defeito.
Uma mulher transborda pelos cantos
Enche as medidas
Contorna o desafino
Toca punheta e toca sino.
Uma mulher pode ser um grito
Uma barriga
Um precipício.
Uma mulher pode ser um abismo ou um porto
E pode ser os dois
E é.

18.5.04

começando

Esse é o ano das inovações tecnológicas: câmera digital, um blog pro te vejo na laura - evento cultural que eu faço na laura alvim com o rodrigo bittencourt, meu namorado e músico (músico público, não só meu). Agora um blog só pra mim, projeto que eu já ensaiei e nunca me animei a insistir. Subitamente fica fácil e excitante, e agora as noites têm menos horas de sono e a tela do computador virou morada (mirada) constante.

Sempre tive um pouco de pudor de publicar meus poemas num blog. Sou romântica com poesia, e embora possa escrever de forma bastante despudorada gosto de poema em roupa de papel, gosto de livro, de ter na mão, da relação sensual com aquele objeto. Agora me despudoro e decido ficar mais "virtual". Poemas na tela. Ao toque não da página, mas dos botões do teclado. Talvez seja bom. Quem passar por aqui e se animar a voltar vai comigo na viagem...