28.5.12

Marcelino, eu e a escrita

Marcelino Freire é daqueles que sabe o que dizer, e como dizer. Por isso o que ele escreve é literatura das boas. E quando ele aconselha, malandro, a gente escuta com atenção.

"Escrever bonito é uma merda. Não queira esse elogio de ninguém. Loa tipo essa: você escreve tão bem. Você nos toca. Ave nossa! Fuja dessa mentira. Dessa falácia! Não procure palavras gloriosas. Maquiagens pesadas. Botox nas frases. Bom é verbo velho. Enrugado. O peso exato de cada parágrafo. Nem mais nem menos. Fique longe, sempre digo, de qualquer sentimento. Releia, agorinha, aquele seu conto. Ponto por ponto. Se, aqui e ali, você parar a leitura para suspirar. Jogue fora o suspiro. Tudo que for adjetivo elevado. Enganoso. Xô, ao lixo! Não presta para a poesia o que é cerimonioso. Solene. Também não invente termos acadêmicos. Gregos pensamentos. Arrodeios na língua. Lembre-se: todo livro nasce falido. Raquítico. Você critica tanto o discurso político. E faz o mesmo na hora de escrever. Usa gravata para parecer ser. E não fica sendo, nem um tiquinho, parecido com você. Esta pobre imagem que avistaremos no espelho. Antes de morrer. Nosso! Faz tempo que eu não falava assim tão bonito. Que merda! Pode crer."

Pra ler lá clica aqui ó.

E adorei me dar conta de que o que ele diz é o que eu digo num poema quase manifesto que tá no comecinho do Bendita Palavra:

Nesse lugar-poema
desse livro que eu escrevo
invento uma fala clara
palavra feita pra boca
com jeito de todo dia
e destino de se espalhar

Nu aqui é pelado
seio é peito
bruma é neblina
pungente é tudo que dói

Vasta é grande
casta é pura
retém aqui é segura

Aqui não cabe floreio
aqui reverto a inversão
simplicidade, aqui, é sofisticação


Um comentário:

Fabio Rocha disse...

Te descobri pelo Papo de Homem. Adorei sua poesia! Bjs