Eu sempre fui exibida. Sempre. Desde pequena adorava o teatrinho de fim de ano do colégio, dava cambalhotas na sala pras visitas, mostrava meus desenhos mirabolantes, enfim, sempre gostei de uma platéia. Quando comecei a escrever poemas pra valer, já adulta, não titubeava quando a mãe ou a avó corujas pediam um poema na noite de natal, um poema pra amiga que mora em São Paulo e está de visita, um poema aqui, outro ali. Eu fazia um ar tímido mas adorava: exibida como na infância.
Quando comecei a dizer versos em público a coisa começou a mudar. Fui ficando mais exigente com as platéias, querendo mais quantidade e mais qualidade, além de uns refletores e um microfone pra completar. Mas principalmente fui ficando cansada de dizer poemas, vendo eles um pouco mais como trabalho e eu detesto trabalhar nas horas de descanso!
Mas nesse sábado foi diferente (e eu posso dizer sem medo porque a mãe e a avó não passeiam por aqui). Era uma festa vespertina de aniversário, e era festa da Regina Zappa, que além de jornalista e minha ex-chefe é, pra meu orgulho e prazer, também minha amiga. Tudo corria normalmente, até que lá pelas tantas a Regina pede: "Maria, fala uns poemas pra gente?". Ó céus! Eu tinha trabalhado o dia todo, estava exausta e desinspirada, mas pedido de aniversariante a gente não nega, né? Então fui, fiquei de pé no meio da sala, as pessoas foram ficando quieta e eu desencavando a exibida que mora em mim, e lá foram indo os poemas, um, dois, quatro, cinco poemas, e no final eu já estava animada, inspirada, exibida e feliz da vida!
Só depois me dei conta de que a platéia era das melhores, escritores, jornalistas, gente interessante e pra minha surpresa muito interessada, todos querendo livros e querendo saber mais da minha poesia e de mim. Foi um privilégio ouvir o Eric Nepomuceno elogiando o encadeamento de palavras de um dos versos, e o Alcione Araújo entusiasmado com a minha voz de mulher contemporânea, além do Jojoi, filho de 16 anos da Regina, com os olhos atentos me ouvindo falar.
A exibida aqui teve uma tarde deliciosa e muito da proveitosa, e agora vou até dar uma colher de chá pra mãe e pra avó na próxima "ah, minha filha, um versinho só pra Alcinda, fala?".
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