Esses dias li uma entrevista do Eduardo Galeano em que ele dizia que a América Latina vai ganhar força o dia em que o espanhol ficar familiar aqui e o português se espalhar pelos países vizinhos. Ele seguia dizendo que é uma loucura que escritores tão fundamentais de cada país não sejam conhecidos nos outros, que eles não saibam quem é Drummond, Guimarães Rosa, Ferreira Gullar ou Machado de Assis, e a gente não saiba quem são esses caras do lado de lá (e eu nem posso dar exemplos porque vergonhosamente não sei mesmo!).
Quando estive na Argentina ano passado pedi pra um amigo de lá me indicar os poetas que ele curtia, os mais representativos da poesia contemporânea deles. Comprei uma pilha de livros lindos, super bem editados, e confesso que sofri um pouco ao descobrir que ler poesia em espanhol não é tão simples quanto pedir uma comida ou bater papo com o motorista de taxi. O resumo da ópera é que eu não consegui ler nenhum.
Esse ano voltei lá e comprei um livro de contos, e pra minha surpresa a leitura fluiu leve, e na volta resolvi tentar de novo os poetas, e dessa vez deu certo!
Então compartilho o meu pouco conhecimento de literatura argentina, com uns versos da Alexandra Pizarnik, uma poeta super conceituada lá que morreu super jovem e me parece ser uma espécie de Ana Cristina Cesar deles. É poesia forte, até pesada, nada do estereótipo "escrita de mulher". A tradução, super livre, é minha mesmo.
O medo
No eco das minhas mortes
ainda há medo.
Você sabe do medo?
Sei do medo quando digo meu nome.
É o medo,
o medo de guarda-chuva preto
escondendo ratas no meu sangue,
ou o medo com lábios mortos
bebendo meus desejos.
Sim. No eco das minhas mortes
ainda há medo.
A carência
Eu não sei de pássaros,
não conheço a história do fogo.
Mas acho que a minha solidão devia ter asas.
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