9.8.06

heranças

Então de repente eu me dou conta de que sou meio libanesa, mais exatamente 1/8 libanesa: meu bisavô veio de Karneil, no interior do Líbano, aos 19 anos, fazer dinheiro no Brasil. Chegou sem falar português, com três libras no bolso, e foi parar numa pensão de um conterrâneo. Virou mascate, mudou seu nome de Kessim Al Auar para Felipe José de Salles, e numa das suas andanças conheceu minha avó, índia e já com dois filhos, e prometeu: "na próxima lua eu venho te buscar". Foi. Casaram-se, tiveram mais seis filhos, ele enriqueceu, virou o Coronel Felipinho, poderoso e respeitado em Carangola, interior de Minas. Perdeu tudo, viveu a falência absoluta e morreu rico de novo aos 65 anos.

Dele herdei sobrancelhas grossas, a pele amarelada e algumas poucas histórias, vindas quase todas de uma prima-tia querida, Laia, portadora dos casos da família. Não conheço o árabe, nunca vi o Líbano nem em fotos, e o mais perto que já cheguei dessa parte do mundo foi visitando o sul da Espanha, onde os árabes ficaram por séculos e deixaram sua marca forte.

De repente essa guerra, que começou como notícia de página interna do caderno internacional do jornal e agora é capa, é jornal nacional, ny times e toma as redações do mundo. E eu aos poucos percebo que estão destruindo de novo o lugar de onde 1/8 de mim vem, e que subitamente minhas chances de conhecer esse lugar ficam nulas, e assim percebo que essa herança libanesa vive, ainda que lá no fundo de mim.

Daí agora ler com mais atenção os artigos de gente relevante falando sobre a questão. Eu sou distraída demais em assuntos políticos pra me atrever agora a falar sobre esse, mas qualquer coisa que leve a assinatura do Eduardo Galeano é pra mim positivamente relevante, então recomendo a leitura de uma carta assinada por intelectuais de várias partes do mundo, inclusive esse uruguaio que eu adoro e respeito.

No blog do meu jornalista preferido,
Eduardo Graça, diretamente do Brooklyn, NY.

Um comentário:

Kalil Lauar disse...

Bom dia...
Estava pesquisando sobra a cidade de origem do meu bisavô, Ali Almeidim Lauar e encontrei seu artigo. Olha que temos duas coisas em comum; descendemos da mesma terra e somos da mesma família..
Um abraço de um primo distante.
Kalil Lauar...