Ainda não entendo a morte como ela realmente é. Ou entendo, mas não concordo muito. Tá, a pessoa morre, aí a gente chora, se despede, ela some do mundo que se pode ver, mas precisava ser por tanto tempo, assim, pra sempre?
Não tive que lidar com muitas dessas dores ainda, e agradeço o privilégio. Já fui a muitos enterros e chorei e consolei e fui consolada, mas morte daquelas de doer por muito tempo e assombrar muito tempo depois por enquanto só foram três ou quatro. E quando a saudade dessa gente bate com força viro criança com uma lógica sem nenhuma conexão com a realidade e penso, poxa, a vovó já foi há tanto tempo, já estava na hora dela voltar um pouquinho!
Me parece um egoísmo, sabe, que agora ela só possa existir na minha lembrança e na de quem ama ela. Eu posso lembrar dos dias com ela e andar pela casa dela que nem existe mais vendo cada móvel, cada objeto, sentindo o cheiro dos cômodos, subir no banquinho da cozinha pra bater clara em neve e sentir a textura do carpete marrom escuro da sala no pé descalço. Tudo isso eu posso, e aproveito.
Mas ela não pode vir conhecer a minha casa, uma casa tão cheia de influências dela apesar da imensa diferença das nossas vidas, eu dividindo o teto com um homem amado sem padre nem papel, coisa inconcebível pras netas dos outros mas eu era a sua "princeza" e o amor quebra as barreiras das idéias pré-concebidas. Eu olho pra minha cozinha com seus mil potinhos separando os ingredientes e sei que esse amor pela organização que pra mim quase que só existe nessa parte da casa nasceu lá, na cozinha dela.
E sigo não entendendo, ou não concordando, com isso que se chama morte e que não tem a menor generosidade com quem fica...
Nenhum comentário:
Postar um comentário