Eu não chorei nem fiquei surpresa, nem mais triste do que ficaria com a morte de outra jovem mulher de 27 anos que tivesse vivido com a angústia que ela viveu. Eu fui no show em janeiro e maldisse cada minuto daquilo: o trânsito infernal, o lugar enorme e impessoal, aquela cantora mínima na distância, trôpega no vestido, uma menina franzina de topete e copo na mão - mais do que o incômodo do programa, eu não queria ver aquilo, e de algum jeito não queria alimentar aquilo. Mas alimentei, e tive raiva. Dela, por ter ido ao show sem ir, balbuciando no microfone as músicas lindas e intensas que ela escreveu e cantava com ninguém. De mim, por estar ali.
Daí ontem o dia foi todo dela: coitada dela, a culpa era do pai, a culpa era do marido, a culpa era dos empresários, ela tentou, ela não conseguiu, ela podia mudar, ela queria mudar? E no meio de tanta falação o Multishow exibiu um show dela em Londres em 2007 e eu vi: uma mulher doce, de copo na mão e alma na garganta, que chama o pai de papai e canta músicas inteiras sem tirar os olhos do marido no balcão do lado esquerdo do palco, uma mulher bonita e bem humorada, tímida no palco e sem papas na língua. Uma pessoa, de verdade. E eu não esperava. Eu não sou a super fã, eu nunca tinha visto ela cantar como nos discos, e só conhecia a louca intensa e desvairada que alimentou a indústria das celebridades à sua revelia mas como ninguém ainda nesse século.
E não aconteceu mais nada. Eu vi, e disse "ah". Ela não disse nada, voltou pro bis e anunciou "agora eu vou mesmo embora". E foi.
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