"Carne do umbigo", "Bendita palavra" e "Substantivo feminino" são a versao impressa e bem acabada do que rola aqui. Quer me ter na sua mão em forma de livro e disco? Me escreve aqui!
13.2.12
Contemporâneo
O Everton Behenck foi uma das boas novidades do ano passado, mais um gaúcho pra confirmar a minha sensação de que Porto Alegre só me traz belas coisas e gentes. A gente se conheceu rapidinho por lá em maio, na FestiPoa do ano passado, e eu passei o ano todo lendo ele lá no Apesar do Céu, tanto poema lindo e triste me vendo por baixo da pele, chorei lágrimas e me senti despida em frente à tela do computador, e me consolei de dores e encarei medos ali. A sensação de identificação que a poesia é capaz de dar nunca cansa de me encantar, e posso dizer sem sombra de dúvida que quando rola isso com o trabalho de um cara vivo, da minha geração, contemporâneo, com quem eu posso trocar idéias e bater papo, a coisa fica ainda mais poderosa.
No áudio ali em cima é de solidão que ele fala, e com sotaque gaúcho ainda por cima.
"Permita que sua solidão lhe conte o que guardava enquanto você escondia-se dela."
Não é pra qualquer um, não. Nem a solidão nem a poesia dura e bela do Everton. Pros corajosos fica de presente um dos meus poemas favoritos dele.
UM POEMA DE ESPERANÇA SECA
Você já sabe
Que irá morrer
Talvez em breve
E que será
Praticamente inevitável
Um tanto de dor
Prática e física
E tubos nas narinas
Você já sabe
Que atrás dos olhos
Está e sempre esteve
Irremediavelmente
Só
Você já sabe
Que o amor nasce
E morre
Pelos mais diversos
Motivos
E que geralmente
As pessoas oferecem
O que não possuem
Enquanto exigem
O que você não tem
E que até perceberem isso
Serão felizes
Você já sabe
Que o amor
É uma intenção
E sabe que isso
É muito bonito
Você sabe que a fé
Foi feita
Para que você não acredite
Cegamente
Nisso tudo que sabe
A natureza criou a fé
Para garantir que você faça
A sua parte
Até que chegue
Cedo ou tarde
Com mais
Ou menos alegria
Aos tubos nas narinas
Você sabe
Que algo te move sempre em frente
E é exatamente o mesmo
Que move um cão
Uma vaca ou uma ave
Mas agradeça
Porque eles não sabem
Já você
Bem
Você sabe
Você sabe que dinheiro
Carros, ternos, móveis
Não são garantias nenhuma
De humanidade
E se você não sabe
Descubra antes que seja tarde
Você já sabe
Que não voltará
Ninguém que lhe salve
O parto é sempre um ato
De abandono implícito
Viemos a esse mundo
Com um propósito bem definido
E nunca voltaremos
Aproveite sua estada
Da melhor forma possível
E não se cobre tanto
Todo mundo sabe o quanto
É difícil
Everton Behenck
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