Eu nunca ouvi falar em Hans Magnun Enzesberger, mas de repente no Facebook uma amiga posta o link de uma tradução dele pelo Ricardo Domeneck e, caramba, o título do poema foi irresistível pruma moça de 33. E adorei: o poema e as duas possibilidades de tradução, uma fiel e outra aproximando o texto do universo brasileiro. Percebi que gosto mais assim, e pensei que seria genial em livros de poesia traduzida ter as duas versões, quando fosse o caso.
Aqui a versão que eu escolhi. Lá no blog do Ricardo Domeneck, as duas e comentários sobre o trabalho.
Ela, aos trinta e três
Ela havia imaginado tudo bem diferente.
Ainda com este Fusca enferrujado.
Uma vez, quase casou-se com um padeiro.
Antes, costumava ler Clarice, depois, Cabral.
Agora ela prefere resolver charadas na cama.
Dos homens, não tolera abusos.
Por anos foi petista, mas à sua maneira.
Nunca recortou cupons de desconto em jornais.
Quando pensa no Afeganistão, passa mal.
Seu último namorado, o intelectual, gostava de apanhar.
Vestidos de batique esverdeados, largos demais para ela.
Pulgões nas folhas da samambaia.
Na verdade, queria pintar, ou emigrar.
Sua tese, Conflitos religiosos no Nordeste, 1889
a 1930, e suas marcas na música popular:
bolsas, começos, e uma gaveta cheia de notas.
De vez em quando, sua vó manda-lhe dinheiro.
Danças acanhadas no banheiro, caretinhas,
horas de hidratante ao espelho.
Ela diz: pelo menos não morrerei de fome.
Quando chora, fica com cara de dezenove.
E olha, num momento em que tanta gente passa a achar o Facebook chato e bobo, eu continuo adorando a possibilidade de compartilhar gostos e descobrir arte da boa por indicação de gente que eu admiro!
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