17.7.17

A imensa revolução do amor próprio

Faz um ano que eu e Ana Alexandrino fizemos o ensaio de fotos que é o cenário do espetáculo Carne do Umbigo. Faz um ano que eu tomei um sacode ao me ver nua pela lente incrível da Cana e li o textão da Jen e escrevi o meu.

Ontem eu tive uma reunião com amigas prum projeto novo no qual tô a fim de botar pra jogo os ângulos ainda inéditos dessa sessão. Um ano em que eu me propus a me amar como eu sou. Um ano dessa imensa revolução.

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Senta que lá vem #textão.

Então hoje foi o dia em que a Jennifer Aniston, musa da minha geração, escreveu um textão dando um basta na pressão infinita de magreza como sinônimo de beleza que ela sofre há décadas. Ela é uma mulher de 47 anos, está casada e não tem filhos, e não pode ter um arremedo de barriga numa foto sem que anunciem em capas de revista que ela está grávida - ficando claro que se ela não estiver, e vier a público desmentir (porque afinal não dá pra fingir que tá grávida, né?), aí fica bem claro para todo o mundo que ela está é "gorda" mesmo.


Toda mulher sabe o que é essa pressão, mas nenhuma de nós a sofre tão publicamente quanto as mulheres famosas, especialmente as que ficam famosas por sua beleza. Semana passada eu tirei fotos sem roupa com a incrível Ana Alexandrino, recortes expressionistas de closões do corpo pra servirem de cenário pro meu espetaclinho. Quando acabamos a tarefa falei "Cana, já tô aqui pelada, bora fazer uns nudes preu guardar na pasta: Maria aos 37". Fotografamos, rimos um bocado, ela me disse: te mando as fotos e posso mexer no que você quiser, mas acho que tá tudo lindo. E eu disse: eu não quero mexer em nada, quero aproveitar pra ver como eu sou de verdade e aprender a me achar bonita assim, mas vamos ver se meu ego deixa… Mais tarde no mesmo dia ela me mandou uma das fotos dizendo "olha que linda você" e eu olhei e só via minha barriga, minha barriga imensa, minha barriga semi grávida.

Aí hoje eu vi a barriga da Jennifer Aniston na nojenta capa de revista, e pra meu espanto dei um suspiro egoísta: caraca, a barriga dela é que nem a minha! Pra em seguida me sentir péssima por encontrar alguma espécie de alívio numa situação tão escrota vivida por uma outra mulher. Pra em seguida me dar conta de que eu estava, ainda mais uma vez, me comparando a outra mulher, em busca de afirmação. Pra em seguida ler a carta dela e aplaudir de pé, e entender ainda mais uma vez que a gente tá imersa demais nessa cultura pra conseguir se safar dela racionalmente, e pensar que precisamos desesperadamente mudar esse padrão que só impõe sofrimento a todas as mulheres do mundo.

Pior ainda: que faz sofrer as meninas. Ontem jantei com uma amiga e sua filha linda de onze anos que me disse "tia Maria, as vloggers do Youtube, elas já acordam lindas! Sem UMA olheira!". Aos onze anos eu fui pra Disney e exigi: na volta iria ao médico de regime porque ia engordar muito de tanto comer cachorro quente. Essa aí de maiô e canga sou eu aos onze anos na Disney, sem coragem de usar biquíni. Na volta da viagem eu passei meses comendo sopa e carne e perdi bochechas e bunda, que afinal era tudo que eu tinha pra perder.

Aquela ali de calcinha, sutiã e aparelho nos dentes sou eu aos dezesseis no camarim da peça do colégio, na época em que frequentava o Vigilantes do Peso e vivia pesando ítem por ítem do prato: pesa o arroz na balancinha, agora pesa o feijão, agora a carne, agora come tudo frio mesmo e tá bom demais. Aquela ali abraçando a Marieta Severo sou eu aos dezessete, e olha a tal da barriguinha já ali, sempre ali comigo. Aquela encostada na parede, de vestidinho e saltão, sou eu aos trinta e sete, e minha amiga barriga continua comigo. Aquele closão de barriga de grávida ali embaixo sou eu também, sábado passado. Só que como a atriz famosa me ajudou hoje a conseguir dizer: eu não tô grávida não, tô é de saco cheio de não conseguir achar bonita a mulher que eu sou. Trinta e sete anos, Maria, se liga: essa barriga é a tua barriga, mana, para de brigar com ela que cês duas vão ser bem mais felizes. O melhor jeito da minha filha - caso ela venha um dia - não se detestar aos onze anos, é ter uma mãe que se curta com todas as suas partes. Obrigada Jen pelo sacode no mundão e aqui dentro também.


Essa aí de maiô e canga sou eu aos onze anos na Disney, sem coragem de usar biquíni. 
Essa aí de calcinha, sutiã e aparelho nos dentes sou eu aos dezesseis no camarim da peça do colégio, na época em que frequentava o Vigilantes do Peso.


Aquela ali abraçando a Marieta Severo sou eu aos dezessete, e olha a tal da barriguinha já ali, sempre ali comigo.

Essa encostada na parede, de vestidinho e saltão, sou eu aos trinta e sete, e minha amiga barriga continua comigo. 




Esse closão de barriga de grávida aqui em cima sou eu também, sábado passado. Só que como a atriz famosa me ajudou hoje a conseguir dizer: eu não tô grávida não, tô é de saco cheio de não conseguir achar bonita a mulher que eu sou. 


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Original da carta:
http://www.huffingtonpost.com/…/for-the-record_us_57855586e…

Em português:
http://www.brasilpost.com.br/…/para-que-fique-claro_b_10960…

EDIT:
Acrescentando link pro live que a Luana Piovani fez hoje, bem luanapiovanescamente mandando uma real que eu assinei embaixo:
https://www.facebook.com/luanapiovanioficial/videos/753016071468286/?pnref=story

EDIT #2:
Meu amigo François Wolf lembrou que Tarantino lacrou o assunto barriguinha com essa cena antológica do Pulp Fiction, que não só faz uma ode a ela como nos relembra que dane-se o que os outros vão gostar, e termina: é uma pena que o que é prazeroso pro toque tão poucas vezes seja prazeroso pro olho. Gracias François e muchas gracias Tarantino!
https://youtu.be/E2TAmGmsw-o

Um comentário:

Unknown disse...

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