10.3.10

do Guimarães

"estou de range-rede."

"o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando. afinam ou desafinam."

"moço: toda saudade é uma espécie de velhice."

"um está sempre no escuro, só no último derradeiro é que clareiam a sala. digo: o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe pra gente é no meio da travessia."

"ah, porém, estaquei na ponta dum pensamento, e agudo temi, temi. cada hora, de cada dia, a gente aprende uma qualidade nova de medo!"

"o que até hoje, minha vida, avistei, de maior, foi aquele rio. aquele, daquele dia."

"essas são as horas da gente. as outras, de todo tempo, são as horas de todos."

"sempre que se começa a ter amor por alguém, no ramerrão, o amor pega e cresce é porque, de certo jeito, a gente quer que isso seja, e vai, na idéia, querendo e ajudando; mas, quando é destino dado, maior que o miúdo, a gente ama inteiriço fatal, carecendo de querer, e é um só facear com as surpresas. amor desse, cresce primeiro, brota é depois."

"e ele, o reinaldo, era tão galhardo garboso, tão governador assim no sistema pelintra, que preenchia em mim uma vaidade, de ter me escolhido para ser seu amigo todo leal. talvez também seja. anta entra n´água, se rupêia. mas, não. era não. era, era que eu gostava dele. gostava dele quando eu fechava os olhos. um bem querer que vinha do ar do meu nariz e do sonho de minhas noites."

"toda alegria, no mesmo do momento, abre saudade. até aquela - alegria sem licença, nascida esbarrada. passarinho cai de voar, mas bate suas asinhas no chão."

"ser ruim sempre, às vezes é custoso, carece de perversos exercícios de juízo."

"assim uma coisa eu estava escondendo, mesmo de diadorim: que eu já parava fundo no falso, dormia com a traição. um nublo. tinha perdido meu bom conselho. e entrei em máquinas de tristeza."

"o que eu vi, sempre, é que toda ação principia mesmo é por uma palavra pensada. palavra purgante, dada ou guardada, que vai rompendo rumo."

"mau eu não sou. cobra? - ele disse. nem cobra serepente malina não é. nasci devagar. sou é muito cauteloso."

"digo ao senhor: nem em diadorim mesmo eu não firmava o pensar. naqueles dias, então, eu não gostava dele? em pardo. gostava e não gostava. sei, sei que, no meu, eu gostava, permanecente. mas a natureza da gente é muito segundas-e-sábados. tem dia e tem noite, versáteis, em amizade de amor."

"meu corpo gostava do corpo dele, na sala do teatro. maiormente. as tristezas ao redor de nós, como querendo carrega para toda chuva."

"de mim toda mentira aceito. o senhor não pe igual? nós todos. mas eu fui sempre um fugidor. ao que fugi até da precisão da fuga."

"acho que eu não tinha conciso medo dos perigos: o que eu descosturava era medo de errar - de ir cair na boca dos perigos por minha culpa. hoje, sei: medo meditado, foi isto. medo de errar. sempre tive. medo de errar é que é a minha paciência."

"ele gostava, destinado, de mim. e eu - como é que posso explicar ao senhor o poder de amor que eu criei? minha vida o diga. se amor? era aquele latifúndio. eu ia com ele até o rio jordão. diadorim tomou conta de mim."

"cansaço faz tristeza, em quem dela carece."

"acho que o sentir da gente se voltei, mas em certos modos, rodando em si mas por regras. o prazer muito vira medo, o medo vai vira ódio, o ódio vira esses desesperos? - desespero é bom que vira a maior tristeza, constante então para o um amor - quanta saudade... - aí, outra esperança já vem... mas, a brasinha de tudo, é só o mesmo carvão só."

"a gente carece de fingir às vezes que raiva tem, mas raiva mesmo nunca se deve tolerar de ter. porque, quando se curte raiva de alguém, é a mesma coisa que se autorizar que essa própria pessoa passe durante o tempo governando a idéia e o sentir da gente; o que isso era falta de soberania, e farta bobice, e de fato é."

"se não o senhor me diga: preto é preto? branco é branco? ou: quando é que a velhice começa, surgindo de dentro da mocidade."

"o nome de diadorim, que eu tinha falado, permaneceu em mim. me abracei com ele. mel se sente é todo lambente."

(acabo de notar que estou na terceira fase da escrita: ele escreveu, eu copiei no caderninho, e agora digito. e adoro. adoro. e vou me entendendo de jeitos líricos sabe? "medo de errar é que era a minha paciência?". ah, faça-me o favor, né? eu podia descobrir isso sobre mim com alguma palavra melhor? bom, depois continuo que ainda tem muito mais.)

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