9.3.10

Ler-escrever

Achei esses dias na casa dos meus pais um caderninho no qual eu anotei trechos do Grande Sertão na segunda vez em que li. Eu já tinha feito isso quando li pela primeira vez, tamanho o fascínio pela riqueza inédita da linguagem que o livro me dava a cada página, mas perdi o caderno e sim, reler foi de novo me seduzir por aquele universo linguístico e fiz de novo esse exercício de humildade. Lendo esses dias as coisas que anotei agradeci a mim mesma essa possibilidade de mergulho instantâneo nesse livro que eu amo pra além do já batido mas nunca velho "viver é muito perigoso".

Sempre tive essa mania, apesar de ultimamente andar mais preguiçosa. Anotei um pouco lendo Nas tuas mãos, da Inês Pedrosa, presente importado de Lisboa pelo meu amigo André Pellenz que disse que era um primor, e tinha razão. Esses livros em que a linguagem é quase mais deliciante que a narrativa, ou no mínimo tanto quanto, são os que mais me falam à alma. Os portugueses e angolanos são craques na coisa. A gente lê a prosa como se lesse poesia, uma delícia.

Pensei em tudo isso porque li um roteiro de um curta de uma amiga em que a personagem discorda de mim totalmente, acha que ao invés de gastar tempo re-escrevendo o que já foi escrito melhor é escrever as suas próprias palavras. Faz sentido, mas de algum jeito doido escrever no meu caderno e com a minha letra azul aquelas palavras alimenta a minha escrita, sabe? São duas delícias diferentes que eu espero praticar sempre.

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