OLHA-LÁ
MUZGA
Em casa quase nunca. Quando, quase sempre cd, as caixinhas de plástico com os dentes do miolo já um pouco quebrados, o círculo reluzente impresso em cores e o som ex-moderno comprado pelo pai no freeshop cujo controle remoto minúsculo e lindo nunca funcionou. Às vezes laptop: músicas desconhecidas saídas do HD externo recheado pelo amigo querido que ouve de tudo, a rádio online que toca a música do seu estado de espírito, o som dos amigos no myspace.
No carro sempre. Rádio. Com jabá ou sem jabá, o espaço pro acaso. Músicas antigas que lembram épocas, vozes novas, aquela pra cantar junto, aquela pra chorar no trânsito, aquela péssima que faz trocar correndo de estação.
Nem sempre o que impulsiona o dedo no dial é isso, claro. Às vezes, quase sempre, muito, rola o proibidão, aquelas que dizem o que a gente não pode ouvir naquela hora, que jogam o pensamento prum lugar onde não se pode ir ali, assim, no susto, e a fuga estratégica pro mais longe possível daquele som é necessária e honrosa. De vez em quando o sentimento é pego pelo pé e quando se vê as lágrimas já estão na pose, prontas pro mergulho de cabeça, mãos esticadas na frente do rosto na beirinha da piscina dos olhos e aí é se entregar. Chorar no carro é bom, sabe? A individualidade máxima, você e sua máquina de ferro, entre gentes em máquinas de ferro, sua emoção preservada sem o silêncio da casa vazia.
Mas música é mais alegria, e ultimamente ela tem nome: Faceiro&Fascinante - coletâneas de axé-maravilha organizadas pela poeta parceira de zine. E tome dançar "Afreketê" na sala ensolarada de manhã antes do trabalho, e tome rebolar com Chico César "Quando saio na rua com meu filá escuto logo: Jimmy Cliff", segurar os quadris ao som do fone de ouvido que diz "prefiro uma cerveja a ti" e um sotaque pernambucano que fala "Betinha" com aquele T que é pura delícia.
Muzga suave, pra doer joelho ou cotovelo, pra ficar rouca, pra perder a linha, entorpecente, emocionante, vibrante, pra dar vexame na rua, pra andar, pra dormir, pra acordar, pra fazer sexo, pra fazer sucesso, pra ninar.
|Maria Rezende
(o tema era música - precisa dizer?
pra ler os coleguinhas
e seus textos deliciosos:
www.nomedacousa.com
daí clica em Ornitorrinco
e assina o bichinho!)
4 comentários:
Olá Maria, vim aqui pelo blog da Anna Amorim e, se me permite, vou voltar mais vezes. Adorei seus textos. Muito, muito bons.
Parabéns pelo talento!
"muzga"= uma canção de porre?
ah, guria, que texto bom de se ler...
Ah amiga Maria... é bem isso mesmo.
E eu ando aprontando as minhas!! Aí li teu post e deu vontade de te mostrar!!! Beijoca do sul!!
http://soundcloud.com/ebehenck/das-asas
everton, que legal sua visita, andei te lendo esses dias, sabia? tão bonito o livro, nossa, realmente adoro a sua poesia! e a música é linda também, vou ouvir mais!
adriana, musga é a música na intimidade... ;)
malu, venha sim, te espero!!
beijos, maria
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