29.7.04

Galeano

Nos últimos anos tive a felicidade de conhecer a poesia do Eduardo Galeano, um  uruguaio genial que faz poesia mesmo quando faz prosa e que fala do homem e da miséria e do amor com uma capacidade rara de tocar quem lê.
 
Esses poemas que eu compartilho aqui são de um livro precioso dele chamado O livro dos abraços, que eu recomendo com veemeência e presenteio com freqüência. Lambuzem-se.
 
A Noite/1
Não consigo dormir. Tenho uma mulher atravessada entre minhas pálpebras.
Se pudesse, diria a ela que fosse embora; mas tenho uma mulher atravessada na garganta. 
        
 
A Noite/2
Arranque-me, senhora, as roupas e as dúvidas. Dispa-me, dispa-me.

A Noite/3
Eu adormeço às margens de uma mulher: eu adormeço às margens de um abismo. 
 
                             
A Noite/4
Solto-me do abraço, saio às ruas.
No céu, já clareando, desenha-se, finita, a lua.
A lua tem duas noites de idade.
Eu, uma.


Quer mais Galeano? dê um pulo aqui.



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