"Repetir, repetir, repetir
até ficar diferente.
Repetir é um dom do estilo."
(Manoel de Barros)
O verso me invadiu no começo da tarde, e eu mal sabia quão exato ele seria pro fim da noite. Como pode o instinto falar tão alto certas vezes e sussurrar tão baixinho outras que a gente queima pernas e bandeiras sem ouvir direito?
Então hoje teve ensaio e foi novo e repetido e bom. Gritei, gritei, gritei até a cratera exaurir-se. Isso é Adélia e hoje tô toda trabalhada na repetição do verbo três vezes no começo do verso. Lá, no ensaio, repeti muito mais que isso, pratiquei o dom do estilo e praticarei muito muito mais nos próximos dias. É esquisito e prazeroso. Tem um que do cotidiano do ator que não se parece com mais nada que eu faça ou tenha feito - e eu que por tantos anos tive o "não" na ponta da língua quando a pergunta era "você é atriz" já penso se hesitarei depois que estrear. Os ensaios não legitimam mas nome num cartaz e luzes e platéia sim?
Então teve ensaio e eu tô cansada e ofegante e feliz. Nem tudo é fácil, muito me deixa insegura, mil vezes me sinto ridícula e outras tantas exponho as vísceras. Era o que eu queria. É o que eu quero. Obrigada Ana Kutner por me dar a mão nessa hora.
Um comentário:
A repetição tem a sua beleza, sempre! Lindo o teu blog. Adorei fazer uma visitinha aqui...
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