28.8.11

Poemas pro cinema

Dois poemas escritos especialmente pro roteiro de um longa que nunca (até hoje...) saiu: "O Caçador de Imagens" era o título, escrito por mim e pelo meu pai em muitas etapas. Começamos em 1996, antes da filmagem do Guerra de Canudos. Retomamos em algum momento e depois de novo em 2003, quando eu escrevi esses poemas pra serem da Paula, a protagonista, uma poeta que dizia versos em bares, como eu fazia. Alter ego total mas mais sombria, a Paula. Hoje, quase exatos oito anos depois, achei os dois num bloquinho antigo resgatado junto com os últimos cadernos e agendas que tinham sobrado na casa dos meus pais. Tão curioso ler o que se escreveu há tantos anos... Ainda mais porque esses foram os únicos poemas, que eu me lembre, que eu escrevi com um objetivo que não fosse dizer o que eu, Maria, queria dizer.

Quero um poema triste
um poema que fale dessa dor sem jeito que eu às vezes sinto

Mas tem tristeza que não quer ser fala
tristeza do tipo que cala e pede segredo
lágrima sem soluço no silêncio do próprio abraço

A dor que eu hoje sinto
é a felicidade que eu às vezes minto
é o horror cotidiano entrando pelas gretas
é o olho roxo de dentro depois das brigas em vão

O poema que eu escrevo
não se escreve por si mesmo
não me mostra seus caminhos
não me abre suas clareiras

Esse poema simplório quer só o direito de ficar calado
de se manter inescrito
como nota antes da música
filho que não nasce antes da hora

A tristeza que eu escrevo é falsa.
Triste é o poema que me cala

(14/08/2003)



A imagem já nasceu perdida:
podia ser caminho
podia ser varanda
podia ser cidade com todas as janelas
ou quem sabe rua nítida com as pedras pelo chão

Era um sonho mas não era
a imagem me chamando
e eu tinha que ir e ia
mas onde era, e o que era
eu nunca podia saber não

Moça de sina de sombra
fui seguindo aquelas pistas
perseguindo aquele sonho
que depois não era sonho
nem era vida real:

Era mais um pesadelo que gruda na idéia da gente
e a cidade avarandada ficou logo toda escura
e a idéia de poesia virou só tristeza
a nitidez virou desfoque
e a rua se fechou pra mim

Não tem mais sonho nem poesia
nem tem mais aonde ir
O meu caminho é sem ida
Esse lugar que eu não encontro
deve ser o que chamam vida

(19/08/2003)

Um comentário:

Alexandre Spinelli Ferreira disse...

Lindos poemas. Esse lugar que eu não encontro...
Parabéns!